Itália: morte de refugiados na ilha de Lampedusa revela grave fracasso político

Mais de 5.000 barcos com refugiados, a maioria da Somália, chegaram na ilha desde junho. No último domingo, dos 24 refugiados que chegaram, 11 estavam mortos. Em outra embarcação, dos 100 refugiados que faziam a travessia, nenhuma criança sobreviveu.

A organização Médicos Sem Fronteiras está seriamente preocupada com o destino dos refugiados que chegam em Lampedusa, uma ilha no sul da Itália.

Na madrugada do último domingo, 19 de outubro, um barco chegou trazendo 24 pessoas que buscavam asilo vindos na maioria da Somália, país destruído pela guerra. Das 24 pessoas, 13 não sobreviveram à travessia. Os outros 11 passageiros foram levados primeiramente para o centro de detenção temporária de Lampedusa onde MSF oferece assistência à saúde, mas devido ao seu estado de saúde, a maioria teve de ser transferida para a unidade de tratamento intensivo (UTI) do hospital de Palermo.

Nas últimas semanas casos como este têm sido bastante comuns.

No dia 3 de outubro, pelo menos 100 pessoas – incluindo 17 mulheres e 7 crianças – partiram de barco de Trípoli, capital da Líbia. Quatro horas após a partida, o motor quebrou. Como as travessias costumam levar em média 2 dias, os refugiados só tinham alimentação e água para 36 horas. No quarto dia, morreu a primeira pessoa. Quando o barco chegou em Lampedusa, dez dias após a partida, todas as crianças estavam mortas e apenas duas mulheres sobreviveram, sendo que uma permanece em coma até hoje.

“Durante os 10 dias no mar, depois de termos nos perdido, todas as manhãs nós pegávamos os corpos das pessoas que haviam morrido durante a noite e jogávamos para fora do barco, para evitar doenças,” diz Mohammed, um dos sobreviventes, um refugiado somali vindo de Johar, uma cidade ao norte de Mogadíscio. “Nós estávamos congelando e não tínhamos mais água. Depois de uns dois dias, seis pessoas usaram uns pedaços de madeira para improvisar uma jangada. Eles disseram que após alguns quilômetros eles chegariam à terra firme e pediriam ajuda para nós. Eles partiram, mas desde então não tivemos mais notícias deles.”

“O governo italiano simplesmente não está preparado para evitar tragédias como essas em Lampedusa,” explica Loris de Filippi, coordenador geral de MSF na Itália. “Desde meados de junho de 2003, 5.000 barcos de refugiados chegaram à ilha. Só em outubro, 600 barcos já chegaram e praticamente todos os dias outros barcos chegam trazendo novos refugiados. Devido ao fracasso das autoridades italianas de assumir suas responsabilidades, a recepção acontece de forma desorganizada, a assistência é mínima e os refugiados sobreviventes não são informados sobre os seus direitos mais básicos.”

Está claro para MSF que a posição da Itália apenas reflete a tendência da Comunidade Européia de deter os imigrantes, ao invés de investir em melhores padrões de recebimento e mais assistência. “Tentar impedir pessoas desesperadas de fugir de conflitos e perseguições não funciona, isto é óbvio. E quando eles conseguem chegar, eles merecem receber os cuidados que precisam, o direito devido, e acima de tudo, de serem tratados com dignidade,” conclui Loris de Filippi.

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