Kunduz, dois anos depois

Por Julia Bartsch, presidente do Conselho Administrativo de MSF-Brasil

Kunduz, dois anos depois

A madrugada de 3 de outubro de 2015 poderia ter sido mais uma noite de atividades de uma instalação médica de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, Afeganistão. Até então, somente naquele ano, o centro de trauma de MSF havia atendido 68 mil pacientes na emergência e operado 15 mil deles.

Este centro era tido como a joia do nordeste do Afeganistão. Em visita à instalação alguns meses antes, Joanne Liu, presidente de MSF Internacional, contou ter encontrado pacientes seguros e beneficiados pelos cuidados de saúde que recebiam.

No entanto, um ataque aéreo executado pelos Estados Unidos destruiu o hospital, matou pacientes, cuidadores e profissionais que se esmeravam em cuidar deles. Nomes que nos soam incomuns, mas assim como qualquer um de nós, tinham suas histórias, famílias, sonhos, desejos de dias melhores. Entre os que trabalhavam no centro no momento do ataque, tínhamos Aminullah, Mohibullah, Najibullah, Naseer, Shafiqullah, Tahseel, Zabiullah, Ziaurahman. Abdul eram quatro; Mohammad, dois. No total, foram 42 vidas perdidas.

  O caso foi levado ao Conselho de Segurança da ONU, ocasião em que se pedia o fim dos ataques a instalações médicas e organizações humanitárias. É preciso reforçar que profissionais e unidades de saúde não são um alvo.
Dois anos depois, sabemos que a necessidade de cuidados traumatológicos para salvar vidas ainda é extremamente alta na região de Kunduz. E para atender essa população afetada pelo conflito, MSF inicia um retorno gradual. Esse processo exigirá tempo para que se volte a ter uma estrutura como era o centro de trauma. Entretanto, está aberta desde julho deste ano uma clínica para tratar de pequenos ferimentos.

O trabalho de MSF para ajudar as populações que precisam de cuidados envolve negociação, preparação de uma estrutura adequada e, principalmente, profissionais que se dediquem ao trabalho com estas populações. E é por isso que não deixaremos esquecer os trabalhadores e pacientes que perderam suas vidas naquela madrugada.
 

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