Malária continua sendo principal causa de morte infantil na RCA

MSF lançou uma campanha de tratamento preventivo no início da estação das chuvas no país

Malária continua sendo principal causa de morte infantil na RCA

O hospital em Batangafo – uma cidade de 31 mil habitantes, incluindo 22 mil deslocados de outras partes da República Centro-Africana (RCA) – está repleto de atividades. Embora um foco importante seja as medidas de prevenção e controle de infecções para identificar e isolar casos suspeitos de COVID-19, outra doença mortal tem um impacto enorme na vida das pessoas da região.

Setembro é a estação das chuvas e quando a malária se torna mais mortal do que nunca na República Centro-Africana todos os anos. É a principal causa de morte de crianças menores de 5 anos de idade no país. Durante os períodos em que a transmissão da malária é alta, oito em cada dez consultas de pediatria no hospital apoiado por MSF em Batangafo ocorrem por complicações da doença, incluindo anemia e desidratação. Desde o início do ano, MSF tratou 39.631 casos de malária em Batangafo, em comparação a 23.642 no mesmo período de 2019. Um total de 1.074 crianças menores de 5 anos de idade foram internadas no hospital por causa da malária esse ano e 28 delas não sobreviveram.

“Meu filho está muito fraco por causa da malária, e os médicos disseram que ele está anêmico. Eles estão tentando estabilizar sua condição para evitar mais complicações, que podem ser fatais. Tenho tanto medo de perdê-lo”, diz Chancella Gbtoum, mãe de Yakota Abbias, de 5 anos de idade. Chancella e seu filho mais novo receberam medicamentos antimaláricos de MSF como medida preventiva. “Dei ao meu outro filho de 11 meses de vida o medicamento contra a malária que recebemos de MSF”, informa. “Eu sei que desta vez não vamos ficar doentes.”

Para mitigar o impacto da doença e proteger a comunidade, MSF lançou, no início da estação chuvosa, uma campanha direcionada de tratamento preventivo, com a administração em massa de medicamentos para malária. Para atingir o número máximo de pessoas e para que a população percebesse a importância desta iniciativa, a campanha ocorreu em três fases.

Em primeiro lugar, MSF aumentou a conscientização com a ajuda de líderes comunitários e da rádio local. Em seguida, a equipe foi de porta em porta para distribuir os medicamentos. E, por fim, voltou a cada casa para verificar se as pessoas haviam feito o tratamento e identificar possíveis efeitos colaterais.

Na primeira rodada da campanha, MSF ofereceu tratamento preventivo a 32.670 pessoas, incluindo 6.531 crianças e 135 mulheres grávidas. A próxima rodada da campanha está marcada para o final de setembro.

Ao levar o medicamento para as pessoas em suas próprias casas, foi evitado o risco de aglomeração nos locais de distribuição o que, potencialmente, poderia espalhar a COVID-19. As equipes de MSF também adotaram medidas de proteção, como usar máscaras e manter distância segura das pessoas.

O aumento de pacientes com malária não se limita a região próxima à fronteira com o Chade, mas está acontecendo em todo o país. “Durante a estação das chuvas, a malária assola comunidades que têm acesso limitado a cuidados de saúde e medidas preventivas. Todos os anos, vemos um aumento de casos em projetos de MSF na República Centro-Africana. Em 2019, atendemos 578.072 casos de malária em todo o país”, afirma Carmen Terradillos, coordenadora-médica de MSF. “Receber tratamentos eficazes para a malária continua a ser muito difícil em um país que viveu anos de conflito e abandono. Os mosquiteiros são caros e estão fora do alcance de muitos.  A administração em massa de medicamentos é uma forma eficaz de prevenir complicações da malária.”

Moradores de Batangafo estavam ansiosos para proteger a si e seus familiares de uma doença que já matou muitas crianças nas comunidades. “Eu estou grávida e não quero pegar malária. É perigoso para o meu futuro filho”, comenta Félice. “Eu sei que estou mais vulnerável e preciso fazer o tratamento.”

Localizada na prefeitura de Ouham, no norte da República Centro-Africana, Batangafo tem sido local de tensões políticas, étnicas e religiosas por mais de uma década. A situação de segurança ainda é volátil e a instabilidade deve aumentar com as próximas eleições, marcadas para dezembro.

MSF trabalha em Batangafo desde 2006, apoiando o Ministério da Saúde no hospital local e nas áreas vizinhas, oferecendo atendimentos de emergência, cirurgias, maternidade, pediatria, tratamento para HIV/AIDS e tuberculose, atendimento a sobreviventes de violência sexual e serviços de saúde mental.

 

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