“Me pergunto que tipo de morte eu e meus filhos teremos”

Profissional de MSF encurralado no norte de Gaza com a família compartilha testemunho

©iAko M. Randrianarivelo/Mira Photo

Testemunho coletado em 19 de novembro de 2024.

Hayder, um motorista que trabalha com Médicos Sem Fronteiras (MSF), está encurralado no distrito de Beit Lahia, no norte de Gaza, com vários integrantes de sua família. A parte norte da Faixa de Gaza está sob forte bombardeio das forças israelenses desde o início de outubro, em um dos ataques mais cruéis e violentos desde o início da ofensiva.

“Agora estou abrigado em Beit Lahia, nos quarteirões ao redor do Hospital Kamal Adwan. Estou aqui com 10 integrantes da minha família, incluindo meus filhos e netos.

Estou aqui desde 5 de novembro. Antes disso, eu estava abrigado no Hospital Al-Yemen Al-Saeed, mas eles (as forças israelenses) nos disseram para evacuar. Então viemos para cá.

Minha esposa está doente com artrite reumatoide e não consegue se mover. Ela precisa de uma cirurgia para reparar as articulações das pernas e mãos. Antes da guerra, tínhamos uma orientação para ir ao Egito ou à Cisjordânia para seu tratamento. Ela está sofrendo, e não temos solução. Eu não tenho sequer uma cadeira de rodas para empurrá-la.

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Tentamos sair de Beit Lahia uma vez, mas ela teve muita dificuldade para caminhar. Foi muito difícil. No caminho, encontramos algumas pessoas que estavam voltando para Beit Lahia. Eles nos disseram que os soldados (israelenses) no posto de controle não estavam permitindo que ninguém fosse adiante, então decidimos voltar.

O bombardeio não para. É possível ouvir os bombardeios e ataques o dia todo, a noite toda. Às vezes menos, às vezes mais. Não é nada seguro.

Eu tento o meu melhor para ser forte na frente da minha família e das crianças, mas a verdade é que estou apavorado. É um medo real. Espero a morte a qualquer momento. Eu me pergunto que tipo de morte eu e meus filhos teremos. Não sei.”

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