Médicos Sem Fronteiras amplia atendimento às vítimas de cólera no Haiti

Mais de mil pessoas já morreram com a doença, de acordo com dados oficiais

O governo haitiano anunciou ontem (16/11/2010) que o número de mortos no surto de cólera que começou no mês passado já causou a morte de mais de mil pessoas. As equipes de MSF presenciaram o aumento dos casos em todo o país. Os picos foram na capital, Porto Príncipe, e nas cidades do norte de Cap Haitien, Port de Paix, e Gros Morne.

A tragédia no Haiti é um paradoxo: uma doença facilmente tratável e evitável ceifa centenas de vidas. MSF enviou para o país mais de 150 profissionais estrangeiros que, junto com outros mil funcionários haitianos, estão trabalhando exclusivamente no tratamento da cólera. A organização tem capacidade de internação de aproximadamente mil leitos.  Desde 22 de outubro, quando o surto de cólera teve início, MSF tratou 16.500 pessoas com sintomas da doença, em 21 centros de tratamento em diferentes pontos do país.

Apesar de MSF estar aumentando sua capacidade de tratamento, ações de prevenções, como acesso a água potável, instalação de postos de reidratação oral, gestão dos resíduos e enterro adequado das vítimas, fundamentais para impedir que a doença continue se espalhando, ainda não atendem todas às necessidades impostas pela crise.

“Quando as pessoas terminam o tratamento e deixam os centros, elas voltam para áreas potencialmente infectadas”, disse Stefano Zannini, chefe de missão de MSF no Haiti. “Aqui em Porto Príncipe, 1,4 milhão de pessoas ainda estão vivendo em acampamentos, onde a higiene, saneamento e água potável são muitas vezes escassos. Essas 1,4 milhão de pessoas dependem principalmente de grupos de ajuda humanitária para ter acesso a água limpa. A infraestrutura é ineficente e é muito difícil conseguir ajuda médica e água para todas essas pessoas.”

Novos casos continuam a aparecer na região de Artibonite, onde o surto começou. MSF está trabalhando em Petite Rivière, Marc St. e Dessaline. Só nessas áreas, cerca de 11.500 pessoas foram tratadas.

Os casos nas cidades de Cap Haitien, Port de Paix, e Gros Morne também estão aumentando. A região que na primeira semana de novembro registrou sete vítimas atendidas por MSF, na semana seguinte tinha 1.200 casos.

Capital – Nesse mesmo período, em Porto Princípe, o número de atendimentos realizados pela organização – tanto nas estruturas próprias como em clínicas onde MSF atua em parceira com o governo – saltaram de 350 para 2250. Os centros de tratamentos de Médicos Sem Fronteiras em Sarthe (70 leitos), Tabarre (200 leitos) e Carrefour (112 leitos) estão completamente lotados.

A organização se prepara para aumentar ainda mais sua capacidade de atendimento com novas instalações em Sarthe, mais 200 leitos, e em Delmas onde serão disponibilizadas 20 camas. Deve haver um aumento também na capacidade do hospital público Choscal, onde MSF trabalha em parceria com o governo. Atualmente, o hospital recebe 250 pacientes por dia. Se o número de infectados no bairro de Bicentenaire continuar aumentando a quantidade de leitos no posto que atende a região pode saltar dos atuais 75 para 350.

Água potável – Além do atendimento médico, MSF está fornecendo 28 mil litros de água potável, tratada com cloro, para cerca de 14 mil moradores da favela de Cité Soleil. Mas esse volume não é suficente para atender a todos.

Felizmente, até o momento, a situação no sul do país ainda não é tão grave.

Outros projetos de MSF – Todas as outras unidades e serviços MSF no Haiti estão funcionando normalmente durante de emergência da cólera. Uma equipe de cerca de 3 mil profissionais está trabalhando em outros projetos, que atendem cerca de mil pessoas. Os atendimento são na área de trauma, obstetrícia, gestantes e ortopedia. Tratamento de sáude mental e aconselhamento às vítimas de violência sexual também são oferecidos por MSF.

Fora da capital, MSF apoia hospitais do Ministério da Saúde nas cidades de Jacmel e Leogane, com cerca de 200 leitos. MSF abriu, em outubro, um hospital próprio com capacidade para 120 leitos em Leogane.

De 12 janeiro a 30 setembro, MSF tratou mais de 339 mil pessoas, realizou mais de 15.700 cirurgias, e acompanhou o parto de mais de 9.900 bebês. MSF também oferece assistência médica primária e suprimentos de emergência às pessoas que vivem em campos de deslocados, em Porto Príncipe. Por meio de clínicas móveis e fixas, MSF está realizando serviços de água e saneamento para as pessoas deslocadas na favela de Cité Soleil.

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