México: “A situação humanitária dos migrantes em Reynosa piorou nas últimas semanas”

Em entrevista, especialista em assuntos humanitários de MSF no México explica o que nossas equipes estão testemunhando em Reynosa, onde migrantes enfrentam falta de abrigo seguro e serviços básicos.

Foto: Anayeli Flores/MSF

As condições para os migrantes em Reynosa, México, agravaram-se acentuadamente nas últimas semanas. Com a esperança de que o Título 42 – uma política prejudicial que transformou a pandemia da COVID-19 em arma para permitir a expulsão imediata de migrantes dos EUA sem o devido processo legal – seja finalmente suspenso, milhares de pessoas continuam a chegar à cidade na fronteira a nordeste, onde enfrentam condições climáticas adversas, falta de acesso a serviços básicos e insegurança. Além disso, os últimos migrantes que permaneciam abrigados na Plaza de la República foram despejados no início de maio.

Estamos em um momento crucial. Nas últimas semanas, as tensões aumentaram entre os grupos do crime organizado que disputam o território, gerando mais riscos para pessoas que já estão vulneráveis. Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma das poucas organizações presentes em Reynosa que prestam serviços para melhorar a situação dos migrantes. Aqui, Anayeli Flores, especialista em assuntos humanitários de MSF no México, explica o que as equipes estão testemunhando.

Qual é a situação atual dos migrantes em Reynosa?

“A dinâmica da migração mudou visivelmente em comparação com a situação de alguns meses atrás. O número de migrantes na cidade aumentou, e há uma grande falta de moradia, alimentação e serviços de saúde para atendê-los. Centenas de migrantes chegam todos os dias, mas não há mais espaço nos abrigos, e muitos vivem nas ruas. Além das dificuldades de acesso aos serviços de saúde e espaços seguros, essas pessoas enfrentam um calor muito extremo, sem acesso à água potável e a banheiros e estão expostas à violência, que é comum nessa cidade fronteiriça. Nas últimas semanas, tem ocorrido cada vez mais confrontos entre grupos armados também nos bairros próximos aos abrigos.”

Foto: Anayeli Flores/MSF
Como MSF respondeu a essa mudança de contexto?

“Atualmente, há aproximadamente 2.400 pessoas nos dois abrigos onde MSF fornece apoio, mas não temos uma estimativa exata do número de migrantes que vivem nas áreas vizinhas e em situação de rua. Aumentamos a capacidade de nossas equipes, adicionando profissionais médicos e logísticos, além de medicamentos e suprimentos para hidratação. Fornecemos consultas médicas e de saúde mental, distribuímos kits de hidratação e água potável e realizamos atividades de promoção da saúde e serviço social. Também nos concentramos na coordenação com os poucos atores oficiais e internacionais que estão presentes na cidade.”

Foto: Anayeli Flores/MSF
Quais são as principais condições médicas que as equipes de MSF atendem?

“Em nível físico, vemos condições respiratórias, doenças gastrointestinais, infecções cutâneas, renais e ginecológicas e agravamento de saúde devido a doenças crônicas. É preocupante que nossas consultas para gestantes tenham triplicado nas últimas semanas, bem como os atendimentos para crianças menores de cinco anos de idade.

Em termos de saúde mental, sintomas relacionados ao transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade, luto ou perda e depressão são comuns. Nossa equipe de serviço social aumentou o número de encaminhamentos para outros atores de saúde para consultas especializadas.
É importante notar que, apesar de nossos esforços para atender o maior número possível de pessoas, estamos sobrecarregados com o número de migrantes que precisam de serviços e as dificuldades que enfrentamos na prestação de cuidados, especialmente para as pessoas que vivem nas ruas.”

Foto: Anayeli Flores/MSF
O que é necessário para resolver esta terrível situação humanitária?

“Este é um claro ponto culminante dos impactos negativos da insegurança, da pobreza e da desigualdade nos países de origem (dos migrantes), que forçam milhares de pessoas a fugir em busca de proteção e bem-estar. Além disso, as políticas migratórias de países como Estados Unidos e México criminalizam os migrantes e geram crises humanitárias em lugares como Reynosa. É necessária uma maior resposta das entidades locais e internacionais para melhorar o acesso a abrigo, saneamento, alimentação, saúde, educação e proteção. Também precisamos ver um discurso que retrate com precisão a aceitação de migrantes e refugiados como uma oportunidade para o crescimento nacional e não como uma ameaça. Buscar segurança não é crime.”

Foto: Anayeli Flores/MSF
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