Migrantes no Panamá: agravamento das condições de acolhimento e a falta de atendimento médico de emergência

As já terríveis condições de acolhimento para migrantes que chegam à província de Darién, no Panamá, estão se deteriorando. Médicos Sem Fronteiras (MSF) fornece cuidados médicos e de saúde mental no Centro de Recepção de Migrantes de San Vicente e testemunhou enormes lacunas de proteção, atendimento médico e serviços básicos de emergência para os aproximadamente 300 migrantes que chegam ao centro todos os dias.

“As condições para receber migrantes são inadequadas”, disse Rabia Ben Ali, coordenadora de MSF no Panamá. “Todos os dias, centenas de pessoas chegam à Canaán Membrillo – o primeiro vilarejo em que chegam ao Panamá depois de atravessar a perigosa selva de Darién – mas não recebem nenhum atendimento médico. Eles são então levados por três horas de barco para San Vicente, onde os serviços não são suficientes e mal cumprem os padrões internacionais”.

No ano passado, quando os migrantes chegavam à cidade de Bajo Chiquito – onde MSF e o Ministério da Saúde prestaram atendimento médico – eles eram transferidos para os Centros de Recepção de Migrantes de Lajas Blancas e San Vicente. Agora, a área de Canaán Membrillo tornou-se a porta de entrada para a maioria dos migrantes, mas não há cuidados disponíveis para sobreviventes de violência sexual ou pacientes que sofrem de problemas médicos graves. Quando chegam ao Centro de Recepção de Migrantes de San Vicente, sua condição médica frequentemente piorou, e muitas vezes é tarde demais para sobreviventes de violência sexual receberem alguns tratamentos preventivos, como profilaxia para prevenir infecções, como HIV, ou contracepção de emergência para evitar a gravidez – ambos os quais devem ser administrados dentro de 72 horas após a violência sexual.

Nas últimas semanas, o número de pessoas que não receberam atendimento dentro de 72 horas após a violência sexual aumentou. As autoridades panamenhas devem implementar urgentemente mecanismos para detectar sobreviventes de violência sexual em Canaán Membrillo e estabelecer mecanismos de proteção eficazes para evitar ataques a migrantes ao longo da perigosa rota entre a Colômbia e o Panamá, afirma MSF.

“As condições das instalações de San Vicente também devem ser melhoradas”, disse Ben Ali. “Os abrigos geralmente não estão disponíveis; crianças e mulheres grávidas dormem no chão. As condições sanitárias são precárias”.

Essas condições afetam a saúde física e mental dos migrantes.

Em abril, as equipes de MSF trataram em média 78 pacientes por dia, principalmente por doenças de pele e dores no corpo. Entre os casos tratados, 20% estavam relacionados a diarreia, infecções respiratórias e doenças digestivas.
A equipe de saúde mental de MSF tratou uma média de seis pacientes diariamente para condições como estresse agudo, episódios depressivos, ansiedade e luto pela morte de membros da família ao longo da jornada, incluindo por afogamento. Essas condições foram desencadeadas principalmente por experiências que ocorreram ao atravessar a perigosa selva de Darién, onde MSF documentou violência sexual, roubos e acidentes trágicos resultantes do traiçoeiro relevo.

Apesar da redução em janeiro e fevereiro, o número de migrantes que atravessaram Darién aumentou em março e abril, assim como os casos de roubo e violência sexual. Em 2022, de janeiro até a primeira semana de maio, MSF tratou 89 casos de violência sexual que ocorreram durante a travessia da selva de Darién. Em 2021 (de abril a dezembro), foram tratados 328 casos.

Por esse motivo, MSF repete seu apelo por uma rota segura, além de atendimento médico de emergência em Canáan Membrillo e uma melhoria nas condições de recepção no Centro de Recepção de San Vicente para migrantes que atravessam a selva de Darién.