Milhares de pessoas foram afetadas pelo aumento da violência em Maï-Ndombe, na RDC

Em agosto, a violência intercomunitária eclodiu no território de Kwamouth; MSF foi a única organização a fornecer cuidados médicos e assistência às pessoas deslocadas.

Foto: Johnny Vianney Bissakonou/MSF

Nas últimas semanas, um aumento da violência intercomunitária no território de Kwamouth, província de Mai-Ndombe, na República Democrática do Congo, resultou em pessoas sendo perseguidas e mortas, casas e vilarejos queimados, bloqueios de estradas para interceptar inimigos e milhares de pessoas fugindo de suas casas para a floresta ou atravessando o rio Kwa para encontrar abrigo em assentamentos improvisados no território de Bolobo.

“Quando chegamos à área, encontramos milhares de pessoas vivendo em condições deploráveis, sem abrigo, acesso a água potável ou saneamento”
– Dieya Papy, médico da equipe de emergência de MSF.

“A área tem uma alta prevalência de malária, e as condições de vida das pessoas estavam claramente colocando-as em risco de adoecer. Tivemos que agir rapidamente”, disse Dieya Papy.

Respondendo às necessidades imediatas

A equipe de emergência de MSF chegou a Kwamouth em 24 de agosto, para responder às necessidades mais urgentes das pessoas enquanto convocava outras organizações de assistência a participar da resposta. Em um contexto de altas tensões, a pequena equipe também tentou o seu melhor para ajudar as pessoas que fugiram para locais mais distantes.

Nossa prioridade era transportar os feridos graves para Kinshasa e melhorar as condições de vida nos locais da melhor maneira possível, instalando latrinas e pontos de água e distribuindo itens essenciais, como mosquiteiros, sabão e pastilhas de desinfecção de água”, diz o Dr. Papy.

Foto: Johnny Vianney Bissakonou/MSF

“O acesso das pessoas aos cuidados de saúde era extremamente limitado na área, por isso, fizemos doações para instalações de saúde locais e lançamos clínicas móveis nos locais para pessoas deslocadas em Simbambili e Sokoa.”

Nas últimas três semanas, a equipe de MSF, assistida por duas enfermeiras do Ministério da Saúde, forneceu mais de 750 consultas médicas por meio de clínicas móveis, principalmente para malária e infecções respiratórias. Eles também transportaram pessoas gravemente feridas para hospitais em Kinshasa por barco e por estrada.

Pacientes traumatizados pela violência

Além das necessidades médicas imediatas das pessoas, os eventos violentos também deixaram muitas pessoas traumatizadas psicologicamente.

“Quando ouvi os tiros, fugi com minha irmã para a casa da nossa tia. Mas quando chegamos lá, os homens nos ameaçaram com suas armas.”
-Astrid*, de 11 anos.

“Eles queriam que lhes mostrássemos as casas habitadas por pessoas da comunidade que perseguiam. Disseram que matariam minha irmã se não o fizéssemos. Então, apontamos para a casa na nossa frente. Eles foram lá e mataram duas crianças”, disse Astrid*.

“Alguns pacientes têm pesadelos, desenvolvem uma desconfiança de outras comunidades que antes não tinham ou mostram sinais de depressão ou de sentimento de culpa”, disse Joel-Christopher Bolombo, psicólogo de MSF que ofereceu cuidados de saúde mental a pacientes com traumas desde que chegou a Kwamouth, há três semanas.

“Além de fornecer cuidados médicos tradicionais, é essencial ajudá-los a expressar seus sentimentos por meio de palavras ou desenhos. Esse tipo de evento deixa pacientes com feridas invisíveis que também precisam ser tratadas”, completa ele.

Foto: Johnny Vianney Bissakonou/MSF

A violência se espalha para Bandundu

Em meados de setembro, a situação de segurança em Kwamouth havia melhorado o suficiente para permitir que muitas das pessoas deslocadas retornassem para casa, enquanto os confrontos e a violência se moviam para o leste, em direção à cidade de Bandundu.

“Na semana passada, enviamos uma equipe móvel ao longo da estrada para Bandundu para avaliar as necessidades, e imediatamente encontramos pessoas gravemente feridas que transferimos para Kinshasa”, explica Dr. Papy.

“Esta semana, vimos com nossos próprios olhos vilarejos incendiados e pessoas massacradas, em um padrão muito preocupante de ataques e contra-ataques. Por isso, decidimos reforçar a nossa presença em Bandundu, para prestar assistência às pessoas deslocadas e responder às necessidades médicas.”

“Neste ponto, deixaremos uma equipe em Kwamouth para poder responder a qualquer novo aumento da violência e às necessidades das pessoas.”
– Dieya Papy, médico da equipe de emergência de MSF.

Embora a situação de segurança na cidade de Kwamouth tenha melhorado brevemente, as tensões e a violência continuam a aumentar, como aconteceu em 20 de setembro, quando ocorreu um ataque perto da cidade. Após o episódio, a equipe de MSF ajudou a tratar os feridos no hospital geral de Kwamouth.

Esta não é a primeira vez que MSF lançou uma resposta de emergência na província de Maï-Ndombe após a violência intercomunitária. Após os confrontos entre as comunidades Tende e Nunu, em Yumbi, em dezembro de 2018 – que causou a morte de centenas de pessoas em apenas alguns dias – uma equipe de MSF tratou os feridos no hospital de referência geral de Yumbi e administrou clínicas móveis para fornecer cuidados médicos e apoio psicológico às pessoas.

* Nome alterado para proteção.

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