Moçambique: o desafio de uma gravidez e um parto seguro em Cabo Delgado

A perspectiva de Atija Bacar, uma parteira tradicional que atua com MSF fornecendo assistência ao parto seguro

Foto: Mariana Abdalla/MSF
Foto: Mariana Abdalla/MSF

Atija Bacar tem 66 anos e vive no acampamento de deslocados internos Eduardo Mondlane em Mueda, em Cabo Delgado, Moçambique. Ela veio de Mocímboa da Praia, uma cidade fortemente atingida por ataques devido ao conflito em curso na província.

Ela atua hoje com Médicos Sem Fronteiras (MSF) como parteira tradicional (prestadoras de cuidados de gravidez e parto que vivem na comunidade) e auxilia mais de 100 mulheres no acampamento.

Como muitas mulheres que ali se encontram, Atija viveu experiências traumáticas, testemunhando o assassinato do marido e do filho. Ela diz que adora fazer o seu trabalho, já que pode ajudar mulheres em momentos de necessidade: “Quando cheguei aqui, este lugar era uma floresta. Algumas pessoas boas ajudaram a me instalar. Agora, também posso ajudar mulheres grávidas. Eu sei que elas precisam do meu apoio”.

Mariana Abdalla/MSF
Mariana Abdalla/MSF

Em Cabo Delgado, centenas de milhares de pessoas fugiram de casa em busca de segurança devido a um conflito em curso. O acampamento Eduardo Mondlane abriga mais de duas mil famílias deslocadas. As mulheres e as crianças estão entre as pessoas mais vulneráveis e enfrentam múltiplos desafios. Muitas delas caminharam longas distâncias e deixaram as famílias para trás.

Muitas foram separadas dos entes queridos ou testemunharam a sua morte devido a assassinato ou más condições de vida e falta de acesso a cuidados médicos. Além disso, muitas mulheres grávidas ainda são muito jovens e têm pouca ou nenhuma informação sobre como ter uma gravidez saudável ou sobre as necessidades e perigos do parto.

Mariana Abdalla/MSF
Mariana Abdalla/MSF

Desde outubro de 2021, a equipe de promoção da saúde de MSF em Mueda tem colaborado com líderes comunitários e parteiras tradicionais no acampamento para apoiar mulheres grávidas e crianças pequenas.

Um dos principais desafios é aumentar o número de mulheres que chegam ao hospital quando estão em trabalho de parto para que possam dar à luz de forma limpa e segura. Para conseguir isso, parteiras tradicionais organizam conversas regulares com mulheres grávidas para transmitir mensagens de promoção da saúde, informações logísticas práticas e informá-las sobre os serviços de transporte que MSF oferece para as levar ao hospital: uma “chopela” – pequeno veículo motorizado de três rodas –  está disponível, de plantão, a todo o momento. Além disso, realizam consultas regulares de acompanhamento das mulheres antes e após o parto.

O trabalho comunitário de MSF com as parteiras tradicionais continua em curso, e a equipe está entusiasmada com os resultados positivos que a iniciativa está alcançando. Em janeiro de 2022, 33% das gestantes no acampamento Eduardo Mondlane deram à luz aos seus filhos em uma estrutura médica. Já em abril de 2022, o percentual chegou a 75%. Este é um aumento significativo que, sem dúvida, se deve ao trabalho de sensibilização feito pelas parteiras tradicionais como Atija e à disponibilidade permanente de transporte no acampamento para encaminhar as mulheres para o hospital.

 

Mariana Abdalla/MSF
Foto: Mariana Abdalla/MSF

Atija visita o acampamento de deslocados internos Eduardo Mondlane, em Mueda, para aconselhar mulheres grávidas e lactantes.

 

Foto: Mariana Abdalla/MSF
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Aina Muinde é natural de Mocímboa da Praia e tem 20 anos. Teve o primeiro filho três dias antes desta foto ser tirada. Ela diz estar feliz por ter o filho ao seu lado, mas também está passando por dificuldades desde que o pai da criança morreu de doença desconhecida.

 

Foto: Mariana Abdalla/MSF
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 Muanajuma é de Mocímboa da Praia e está em Mueda há dois anos. Teve o primeiro filho em Palma, quando estava em fuga de ataques, e agora está grávida novamente enquanto reside no acampamento de deslocados internos Eduardo Mondlane.

 

Foto: Mariana Abdalla/MSF
Foto: Mariana Abdalla/MSF

Carla é de Muidumbe e está no acampamento de deslocados internos Eduardo Mondlane há um ano. Ela tem 15 anos e está à espera do primeiro filho.

 

Foto: Mariana Abdalla/MSF
Foto: Mariana Abdalla/MSF

Amina tem 17 anos e é de Mocímboa da Praia. Ela vive no acampamento de deslocados internos Eduardo Mondlane há um ano. Está grávida de nove meses, e esta é a sua primeira gestação. Por isso, tem medo de entrar em trabalho de parto.

 

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