MSF apela por investimento global sustentado para o combate à tuberculose infantil

Em meio a cortes de financiamento dos EUA, crianças são as mais vulneráveis e sofrem maiores impactos com a interrupção de serviços essenciais

Maham Khalid, médica de MSF, examina Hussain, que está recebendo uma avaliação para tuberculose em Gujranwala. Punjab, Paquistão, fevereiro de 2025. © Gul Nayab/MSF

No Dia Mundial de Combate à Tuberculose (24/03), Médicos Sem Fronteiras (MSF) apela a todos os países e instituições doadoras internacionais que priorizem e garantam investimentos de longo prazo para diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose para todas as pessoas, especialmente para crianças, que continuam sendo as mais vulneráveis à doença.

A cada três minutos, uma criança morre de tuberculose no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,25 milhão de crianças e adolescentes (de 0 a 14 anos de idade) adoecem com tuberculose a cada ano, mas apenas metade dessas pessoas são diagnosticadas e tratadas.

Em 2022, a OMS revisou suas orientações para o tratamento de crianças e adolescentes com a doença, que, se adotadas e implementadas, podem melhorar drasticamente o atendimento e salvar vidas.

O projeto TACTiC (sigla em inglês para Testar, Prevenir e Curar a Tuberculose em Crianças), de MSF, está implementando as novas recomendações da OMS em programas da organização em mais de 10 países da África e da Ásia, já tendo documentado um aumento de crianças diagnosticadas com tuberculose que iniciaram o tratamento adequado.

Não podemos deixar que as decisões de financiamento custem a vida das crianças.”

– Ei Hnin Hnin Phyu, coordenadora médica de MSF

No entanto, os recentes cortes de financiamento dos Estados Unidos preocupam MSF, já que esse é o país que mais contribui financeiramente para programas de combate à tuberculose. De acordo com a OMS, os Estados Unidos respondem por metade de todo o financiamento internacional e bilateral.

“Durante anos, testemunhamos as grandes dificuldades que as crianças enfrentam para acessar o diagnóstico e o tratamento da tuberculose nos países onde trabalhamos”, explica Cathy Hewison, coordenadora-geral do grupo de trabalho de combate à tuberculose de MSF.

“As crianças em risco de ter a doença são muitas vezes negligenciadas, não sendo diagnosticadas ou enfrentando atrasos no diagnóstico. Agora, com os recentes cortes de financiamento dos Estados Unidos, essas lacunas na identificação e tratamento de crianças com tuberculose só aumentarão ainda mais, o que ameaça reverter anos de progresso no tratamento da doença”, alerta Cathy Hewison. “Ninguém deve morrer ou sofrer desta doença evitável e tratável.”

As equipes de MSF na província de Sindh, no Paquistão, estão testemunhando o que acontece diante dos cortes dos fundos estadunidenses, como a interrupção dos serviços comunitários, que desempenham um papel fundamental em um país que tem uma alta incidência de tuberculose.

Isso afeta especialmente a triagem ativa de pessoas na comunidade, uma abordagem que, quando aplicada, ajuda a aumentar o diagnóstico; a triagem de famílias de alto risco; e o fornecimento de tratamento preventivo da tuberculose para crianças.

“As crianças já são altamente vulneráveis à tuberculose. Estamos preocupados que os cortes de financiamento dos EUA, que estão impactando serviços comunitários, tenham um efeito desproporcional, aumentando o número de crianças com tuberculose e de mortes evitáveis”, alerta Ei Hnin Hnin Phyu, coordenadora médica de MSF no Paquistão. “Não podemos deixar que as decisões de financiamento custem a vida das crianças.”

 

Fatores de risco para crianças

Crianças com sistema imunológico enfraquecido, por exemplo, devido à infecção pelo HIV ou à desnutrição, são as mais vulneráveis e, portanto, serão desproporcionalmente afetadas pela interrupção dos serviços para o tratamento da tuberculose, da infecção por HIV e de questões relacionadas à nutrição.

Pacientes pediátricos com tuberculose são frequentemente excluídos de pesquisas e testes em desenvolvimento, realizados com novas ferramentas. Os recentes cortes de financiamento dos Estados Unidos interromperam inúmeros testes clínicos, atrasando a pesquisa e a inovação em tuberculose, com muitos deles sendo importantes para crianças com a doença.

Este é um grande retrocesso na luta contra a tuberculose, pois atrasa o desenvolvimento de diagnósticos e tratamentos altamente necessários para as crianças.

MSF pede à indústria farmacêutica e às instituições doadoras internacionais que garantam investimentos para o desenvolvimento e a avaliação de ferramentas médicas que possam melhorar o atendimento de questões relacionadas à tuberculose para crianças.

 

Envolvida em cuidados para tuberculose há 30 anos, Médicos Sem Fronteiras (MSF) é a organização não-governamental que mais fornece tratamento para a doença em todo o mundo, muitas vezes trabalhando em parceria com autoridades nacionais de saúde para tratar pessoas em uma ampla variedade de ambientes, incluindo zonas de conflito, periferias, prisões, acampamentos de refugiados e áreas rurais.

MSF também está envolvida em esforços para encontrar tratamentos mais curtos e seguros para tuberculose resistente a medicamentos, por meio de três ensaios clínicos: TB-PRACTECAL, endTB e endTB-Q. As recomendações da OMS para regimes de 6 e 9 meses (incluindo BPaLM e BPaL) para tratar a tuberculose resistente a medicamentos (TB-DR) foram feitas, principalmente, a partir de evidências dos ensaios TB-PRACTECAL e endTB.

 

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