MSF atende número alarmante de sobreviventes de violência sexual em campos de pessoas deslocadas na República Democrática do Congo

Em duas semanas, as equipes de MSF trataram 674 sobreviventes de violência sexual – a maioria mulheres – em acampamentos nos arredores da cidade de Goma

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Campo de Bulengo, nos arredores de Goma, onde MSF oferece serviços de saúde. Foto: Michel Lunanga/MSF

Em apenas duas semanas, mais de 670 sobreviventes de violência sexual foram tratados por equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em acampamentos para pessoas deslocadas nos arredores de Goma, capital da província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo (RDC). São 48 novos sobreviventes por dia. Esses números assombrosos refletem a extrema vulnerabilidade e o risco de violência enfrentados pelas pessoas deslocadas na região. Quase 60% dos sobreviventes foram atacados menos de 72 horas antes de chegarem às clínicas de MSF, o que demonstra a urgência da situação.

Os confrontos entre o exército congolês, o grupo M23 e os muitos grupos armados em Kivu do Norte levaram mais de 1 milhão de pessoas a fugir de suas casas desde março de 2022. Mais de 600 mil encontraram refúgio em acampamentos frequentemente superlotados nos arredores da cidade de Goma, onde as condições são muitas vezes insalubres.

De 17 a 30 de abril de 2023, as equipes de MSF trataram 674 sobreviventes de violência sexual em Bulengo, Lushagala, Kanyaruchinya, Eloime, Munigi e Rusayo. Somente em Rusayo, um dos campos mais recentes e densamente povoados no oeste de Goma, foram atendidas 360 pessoas sobreviventes da violência sexual. Esses números provavelmente são menores do que o número real, já que levam em conta apenas as consultas realizadas pelas equipes de MSF nos campos onde a organização está presente.

“Todos os dias, uma média de 48 novos sobreviventes de violência sexual são tratados por nossas equipes nos campos de deslocados”.
– Jason Rizzo, coordenador de emergência de MSF em Kivu do Norte.

“Durante meses, nossas equipes têm tratado um grande número de casos, mas nunca antes na escala catastrófica das últimas semanas. Quase 60% dos sobreviventes buscam atendimento dentro de 72 horas após o ataque, mostrando que é uma emergência médica e humanitária em curso”, acrescenta Rizzo.

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Mulheres são as principais atingidas pela violência sexual

Quase todas as pessoas que receberam tratamento médico de equipes de MSF por violência sexual são mulheres. A maioria relata ter sido atacada enquanto procurava comida ou lenha fora dos campos de deslocados. Em Rusayo, Bulengo e Kanyaruchinya, mais da metade dessas sobreviventes relatou ter sido atacada por homens armados.

“Depois que chegamos aqui, um dos meus filhos começou a mostrar sinais de desnutrição. Eu não podia apenas observar e não fazer nada. Eu decidi ir para a floresta para coletar madeira para vender para que eu pudesse comprar comida. Foi quando me deparei com bandidos que me atacaram “, diz uma mulher deslocada que vive no campo de Rusayo.

Escassez de recursos básicos aumenta vulnerabilidade

Apesar de várias organizações humanitárias terem aumentado as atividades na região nas últimas semanas, as condições de vida nos acampamentos ao redor de Goma continuam muito precárias. As pessoas que vivem lá têm dificuldades em acessar recursos para necessidades básicas como comida, latrinas, água e abrigo. A escassez crítica de assistência humanitária aumenta a vulnerabilidade das pessoas deslocadas e agrava o risco de violência a que podem estar sujeitas.

“É urgente melhorar as condições de vida das pessoas nos campos”
– Jason Rizzo, coordenador de emergência de MSF em Kivu do Norte.

“Necessidades básicas, como acesso a alimentos, água e saneamento, devem ser garantidas. Medidas de proteção devem ser fornecidas para manter as mulheres, em particular, fora de perigo ”, frisa Rizzo.

MSF oferece atendimento médico e psicológico gratuito e confidencial a todos os sobreviventes de violência sexual nos principais acampamentos para pessoas deslocadas nos arredores de Goma. Para evitar complicações médicas relacionadas à agressão sexual, é essencial que os sobreviventes se apresentem a um estabelecimento de saúde dentro de 72 horas após o ataque, para receber cuidados médicos adequados.

Sobre a nossa resposta de emergência

Desde maio de 2022, equipes de MSF trabalham em acampamentos para pessoas deslocadas nos arredores de Goma, prestando assistência médica gratuita, fornecendo água potável e construindo latrinas e chuveiros onde são mais urgentemente necessários. MSF também respondeu a surtos de cólera e sarampo em alguns campos, tratando pacientes e organizando campanhas de vacinação. Equipes de MSF também estão trabalhando nas cidades de Sake e Kayna, na província de Kivu do Norte, e na cidade de Minova, no Kivu do Sul, para melhorar o acesso a cuidados de saúde nessas áreas, onde dezenas de milhares de pessoas deslocadas também se refugiaram. Em Kivu do Norte, MSF continua a fornecer atendimento médico essencial gratuito nas cidades de Rutshuru, Kibirizi, Bambo, Binza, Mweso, Masisi e Walikale.

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