MSF começa a tratar Chagas na Colômbia

Equipes oferecem diagnóstico e tratamento em região com alto índice da doença e alertam para o risco de negligência por parte das autoridades

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) começou a diagnosticar e tratar pessoas infectadas com doença de Chagas no departamento de Arauca, no nordeste da Colômbia. A região tem uma das mais altas taxas de Chagas no país, com uma estimativa aproximada de 8% da população infectada.

Causada por um parasita, a doença de Chagas pode levar a sérias complicações de saúde e até causar a morte.  No entanto, até o momento, o tratamento não está disponível no país e, sem programas de rastreio, muitos nem sequer sabem que estão infectados.

MSF integrou triagem e tratamento de Chagas em seus serviços de cuidados primários de saúde, que já eram realizados na região. Através de clínicas móveis, MSF oferece gratuitamente consultas médicas, apoio à saúde mental, planejamento familiar e cuidados pré-natais para a maioria das pessoas que vivem em aldeias isoladas, sem acesso aos cuidados de saúde.

A equipe também fornece informações sobre os riscos de Chagas e incentiva as pessoas a fazerem um teste de diagnóstico da doença. Depois que um paciente é confirmado com doença de Chagas, ele recebe um check-up médico e é iniciado um período de dois meses de tratamento longo. A equipe de MSF realiza o acompanhamento médico periódico para verificar os efeitos colaterais e as dificuldades com o cumprimento do tratamento. Mesmo que haja uma possibilidade de efeitos colaterais gerados pelos medicamentos usados para tratar a doença, a experiência de MSF mostra que esses efeitos são gerenciáveis.

Doença de Chagas é endêmica na maioria dos países latino-americanos. É causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente através do “barbeiro”, um inseto sugador de sangue comum nas zonas rurais e periferia da cidade nas quais as pessoas vivem em casas de pau-a-pique feitas de barro e tijolos de palha. A transmissão também é possível de mãe para filho, através de transfusões de sangue, transplantes de órgãos e alimentos contaminados. Pacientes com doença de Chagas podem viver durante anos sem apresentar nenhum sintoma.

Se não tratada, no entanto, a doença pode levar a problemas graves de saúde, principalmente cardíacos e complicações intestinais e até mesmo a morte.

“Durante todo o nosso trabalho em Arauca, temos visto pessoas com sérias complicações cardíacas relacionadas com Chagas”, explicou Oscar Bernal, coordenador médico de MSF na Colômbia. “Nessa fase, porém, há pouco que podemos fazer para tratar a infecção, já que não há evidência clínica de que o tratamento contra o parasita em um estado tão avançado da doença seja eficaz. É por isso que temos que começar ativamente a diagnosticar e tratar a doença, para que possamos detectá-la cedo. Ao fazer um rastreio ativo, somos capazes de detectar a doença antes que o paciente comece a mostrar sinais, nesse momento é mais provável que o tratamento seja eficaz “.

Pessoas com doença de Chagas na Colômbia tem poucas alternativas para encontrar tratamento, e muitos morrerão em silêncio. A luta contra a doença está centrada no controle do vetor, com programas de erradicação do inseto que transmite a doença. Embora a prevenção seja importante, as autoridades de saúde não devem ignorar as necessidades daqueles que já estão infectados. Em julho de 2009, MSF lançou uma campanha internacional de chamada em países endêmicos para acabar com a negligência dos portadores de Chagas e apoiar diagnóstico e tratamento das pessoas afetadas. “Ao iniciar o tratamento que oferecemos no nosso projeto em Arauca, esperamos promover um debate nacional sobre Chagas e estimular as autoridades a reconhecerem Chagas como problema de saúde pública e se engajarem em programas de rastreio e tratamento”, disse Oscar Bernal.

MSF forneceu diagnóstico e tratamento para pessoas que sofrem de Chagas, em Honduras, Nicarágua, Guatemala e Bolívia, desde 1999. No final de 2008, MSF fez teste de Chagas em mais de 60.000 pessoas e diagnosticou 3.100 pacientes, dos quais 2.800 com êxito no seu tratamento. A experiência de MSF mostra que o diagnóstico e o tratamento de Chagas em ambientes com recursos limitados e áreas remotas é viável.

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