MSF exige ação para acabar com a brutalidade e a violência sexual na selva de Darién

Em apenas uma semana, MSF tratou 113 sobreviventes de violência sexual em Darién, incluindo nove crianças.

Migrantes da rota de migração de Darién. Agosto de 2023. © Juan Carlos Tomasi/MSF

As pessoas na rota de migração pela selva de Darién, uma região sem estradas entre a Colômbia e o Panamá, enfrentam um nível intenso de brutalidade e crueldade em ataques de violência sexual. Nos últimos dois meses, equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) também registraram um aumento exponencial no número de agressões, no que se teme ser um agravamento da já terrível situação na rota. MSF pede às autoridades panamenhas que reforcem imediatamente as medidas de proteção aos migrantes.

De acordo com os números preliminares, em apenas uma semana de fevereiro, as equipes de MSF trataram 113 pessoas – incluindo nove crianças – depois de terem sido abusadas sexualmente por grupos criminosos que atuam em Darién – um número bem próximo ao de 120 pessoas tratadas durante todo o mês de janeiro. Esses números são o dobro da média mensal de 2023, quando 676 pessoas foram tratadas durante todo o ano. As equipes de MSF estão horrorizadas e preocupadas com essa tendência crescente. Estamos indignados com o nível de impunidade com que esses grupos criminosos operam.

“Esse aumento no número de ataques é inimaginável”, frisa Luis Eguiluz, coordenador-geral de MSF no Panamá e na Colômbia. “Já havíamos tratado um número muito alto de pessoas em dezembro e janeiro, e falava-se em mortes ocasionais”, relata.

“Agora, nesses últimos ataques, o nível de brutalidade é extremo: uma dúzia de homens armados está detendo grupos cada vez maiores de migrantes, entre 100 e 400 pessoas, ameaçando-os, agredindo-os, abusando sexualmente de mulheres de forma sistemática, na frente de outros migrantes e até mesmo na frente de suas famílias e filhos”, relata Eguiluz. “Em um episódio recente, vários migrantes nos contaram que aqueles que se recusaram a cooperar [com os homens armados] foram mortos a tiros.”

“Esses crimes ultrajantes estão aumentando e, o que é pior, ninguém parece se importar, não vemos muita mudança na impunidade com que os agressores operam”, continua Eguiluz.

MSF condenou repetidamente a vulnerabilidade dos migrantes em Darién e tem equipes especializadas em tratar a agressão sexual como uma emergência médica para as pessoas que precisam dela quando saem da selva.

“Os níveis de violência e violência sexual que estamos testemunhando em Darién são inéditos, não os vi em outras crises humanitárias”, diz Eguiluz. “Vemos uma completa falta de ação para lidar com a situação ou ajudar com suas consequências.”

“Renovamos nosso apelo às autoridades panamenhas para que redobrem seus esforços para proteger as pessoas em situação mais vulnerável em seu território, especialmente em Darién”, diz Eguiluz. “Muitas delas são famílias, mulheres e crianças em situações muito difíceis. É inaceitável que isso continue acontecendo.”

Desde abril de 2021, Médicos Sem Fronteiras vem prestando serviços médicos e psicológicos a pessoas em trânsito que chegam ao Panamá por Darién. Atualmente, as equipes estão presentes na comunidade de Bajo Chiquito e no centro de recepção de migrantes Lajas Blancas.

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