MSF realiza cirurgias reconstrutivas na Chechênia

Operações são oferecidas de graça para a população com ferimentos causados pela guerra e acidentes com minas ocorridos na república

Apesar de a Chechênia ainda estar sob conflito, bombardeios e confrontos nas ruas, felizmente, não fazem mais parte do cotidiano. Para muitas pessoas que vivem na república, cicatrizes físicas e feridas são uma dolorosa lembrança da terrível guerra que vivenciaram e ainda continuam a enfrentar. Em uma tentativa de tentar ajudá-los a reconstruir suas vidas, MSF abriu recentemente um projeto de reconstituição cirúrgica no principal hospital de referência da república, o Hospital Número Nove.

"Nós percebemos que muitas pessoas com ferimentos e descapacitados crônicos devido à guerra, ou vítimas de acidentes de trânsito nas estradas, simplesmente não tinham acesso aos serviços cirúrgicos", contou Dr. Manana Anjaridze. "A maioria das pessoas só consegue juntar dinheiro para fazer uma operação cara quando ela é vista como capaz de salvar uma vida. Mas há muitos procedimentos cirúrgicos que podem ser feitos para melhorar drasticamente a qualidade de vida".

Pacientes que chegam nas clínicas de trauma e ortopedia são examinados pela equipe do hospital. Os que precisam de cirurgia e podem ser atendidos pelo programa de MSF são internados, e todo o tratamento e medicamentos são oferecidos gratuitamente. A equipe de MSF inclui um especialista em trauma, cirurgiões plásticos e anestesistas. Um fisioterapeuta acompanha o pós-operatório. O departamento de trauma, de 20 leitos, fica junto com a cirurgia vascular e assim os pacientes internados para cirurgias vasculares também têm o apoio de MSF.

Histórias como a de Rustam, cuja perna e pés esquerdos foram feridos devido à explosão de uma mina há cinco anos, são comuns. "Quando ele chegou até nós, já tinha passado por várias cirurgias dolorosas e sem sucesso. Agora, nós começamos a reconstituir sua perna, prendendo sua tíbia em uma estrutura externa de metal, para que o osso danificado possa crescer novamente. O próximo passo vai ser realinhar seu pé retorcido. Esperamos que em três meses ele esteja andando de novo", explicou o cirurgião checheno, Professor Yandarov.

Para realizar essas operações de reconstituição, o departamento de trauma foi reformado e reequipado por MSF. Uma máquina de oxigênio agora fornece oxigênio seguro aos pacientes, em vez do oxigênio industrial instável que eles costumavam usar, grande parte do qual era comprada por parentes. O fluxo de pacientes nas áreas esterilizadas e não esterilizadas do departamento foi reorganizada para reduzir o risco de infecção.

MSF trabalha com renomados cirurgiões chechenos, como o Professor Yandarovo e o Dr Khunarikov, especialista vascular, coordena o programa. Ambos trabalharam na Chechênia durante uma das fases mais pesadas da guerra, morando em porões e operando os pacientes em hospitais provisórios e prédios administrativos. O programa MSF espera dar a eles a oportunidade de trocar idéias e técnicas cirúrgicas com os cirurgiões franceses. Três cirurgiões franceses já visitaram hospitais em Lyon e Fontainebleau, e mais visitas estão planejadas.

Desde que o programa teve início, em julho de 2006, 52 pacientes foram operados. Médicos de MSF catalogaram os acidentes, queimaduras, ferimentos a bala e explosões de minas que provocaram os ferimentos. Alguns passaram por várias operações sem sucesso ou de pouca qualidade na Chechênia ou em repúblicas vizinhas ao longo dos anos, e muitos agora vão enfrentar uma série de cirurgias de reconstituição para corrigir traumas passados ou erros de operação.

"Uma de nossos pacientes, Madina, tinha 18 anos em 2002, e vivia em Vedeno (uma parte do Sul da Chechênia onde os conflitos eram intensos e ainda existem) quando ela foi atingida nos quadris por um atirador que usou balas explosivas", lembra o Professor Yandarov.

"Seus ossos dos quadris se estilhaçaram, deixando suas pernas cheias de fragmentos, e ela perdeu muito sangue. Ela levou dois dias para chegar ao hospital, devido à péssima condição das estradas e passagens por diversos postos de controle. Ela ainda estava viva quando chegou até nós e eu consegui estabilizar seu quadro e realizar uma cirurgia básica com o equipamentos que tínhamos disponíveis. No entanto, eu tive de dar alta rapidamente para ela porque não tínhamos mais espaço no departamento".

"Em agosto passado, ela veio me ver novamente, e embora umas das pernas tivesse sido recuperada com sucesso, a outra não curou da maneira correta e ficou deformada, fazendo com que ela mancasse. Dessa vez, eu pude fazer o que era necessário: nós quebramos a perna dela, corrigimos o problema, fizemos um transplante de osso e colocamos uma placa de metal. Agora ela pode andar normalmente".

O sucesso do programa já se espalhou. "No começo, os pacientes não acreditavam que teriam acesso a esse tipo de operação de graça, e eles tentaram nos pagar. Mas nós recusamos, e agora eles se acostumaram com isso. Esperamos que o número de pacientes atendidos pela clínica aumente", contou Dr. Khunarikov. MSF planeja realizar entre 25 a 30 operações de complexidade variada a cada mês.

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