MSF testemunha retorno forçado e reassentamento em acampamento no oeste do Quênia

Deslocados internos que buscaram abrigos no acampamento de Endebess sofrem ameaças e agressões para voltar para casa

Na última semana, profissionais da organização médica humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) têm testemunhado o retorno forçado e reassentameto de deslocados internos que vivem no acampamento de Endebess, no oeste do Quênia. Moradores do acampamento estão sendo ameaçados e recebendo ordem para partir, apesar de muitos deles temerem voltar para suas cidades natais ou não terem para onde ir.

"Enquanto MSF está consciente da importância de um retorno eventual e um reassentamento das pessoas que tiverem de se deslocar durante o período de violência pós-eleitoral no Quênia, nós acreditamos que essa decisão deve ser voluntária e realizada de maneira organizada. Claramente não é o que ocorre em Endebess”, afirma Rémi Carrier, chefe de missão de MSF no Quênia.

No dia 14 de maio, MSF viu oficiais do governo e a polícia armada indo de tenda em tenda, ameaçando as pessoas e as pressionando para deixar o acampamento. A equipe de MSF também testemunhou prisões e agressões no acampamento.

Na última semana, cerca de 80% da população original do acampamento, composta por 9 mil pessoas, deixou o local. Alguns partiram depois que o governo prometeu dar a eles segurança, abrigo, grãos, comida e dinheiro, enquanto outros deixaram o acampamento sob ameaça de violência. Dentre os 1.200 que continuam no local, a maioria está muito traumatizada ou aterrorizada com o que pode acontecer quando voltar para casa ou não tem para onde voltar.

Durante visitas a vilarejos perto do acampamento de Endebess, a equipe de MSF descobriu que algumas pessoas colocaram tendas nos campos ou na beira da estrada. Outros procuraram refúgio nas escolas. "Quase nada foi preparado para essas pessoas forçadas a deixar os acampamentos. O acesso à água, latrinas e itens básicos é escasso. Estamos preocupados com o acompanhamento sanitário dessas pessoas", afirmou a médica de MSF Natasha Ticzon.

Quando perguntados, muitos desses deslocados dizem que foram pressionados a deixar o acampamento e que agora estão esperando receber a assistência do governo. Segundo eles, o governo lhes deu pouquíssimo apoio, apesar das promessas de compensação pelo reassentamento e menos ainda foi feito com relação aos motivos que levaram eles a se deslocar. "Foi meu vizinho que nos levou embora. Ele ainda está lá e tem sua panga (machado) em casa. Como podemos voltar nessas condições?", conta um homem em Endebess.

MSF vai continuar a ajudar as pessoas afetadas pela violência pós-eleitoral dentro e fora de Endebess e pede às autoridades que garantam que o retorno e o reassentamento sejam realizados de maneira respeitosa, bem planejada e voluntária.

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