MSF vê cenário alarmante e inicia atividades em Rondônia

Organização mantém foco em áreas vulneráveis da região Norte do Brasil

Com um cenário alarmante de grande aumento no número de casos e de mortes pela COVID-19 e de colapso nos sistemas de saúde no Brasil, Médicos Sem Fronteiras (MSF) mantém mobilizadas equipes de emergência para auxiliar no combate à doença. A organização tenta responder rapidamente ao avanço do novo coronavirus em locais da região Norte com sistemas de saúde precários e populações vulneráveis.
O objetivo de MSF é que o pessoal de saúde destas localidades esteja mais bem preparado para enfrentar crescente número de casos da doença. Neste momento, há equipes atuando em Rondônia, Roraima e Amazonas.

“Nos estados da região Norte há proporcionalmente uma menor disponibilidade de leitos, especialmente para casos mais graves”, explica o coordenador de emergência de MSF no Brasil, Fábio Biolchini. “Por esta razão é muito importante intensificar as estratégias de prevenção e diagnóstico precoce de casos moderados para evitar que eles se agravem e demandem cuidados intensivos, que podem simplesmente não estar disponíveis”, disse ele.

Rondônia

Nesta semana, uma equipe de MSF iniciou atividades na cidade de Porto Velho, capital do estado de Rondônia. O apoio inclui reforço das equipes médicas, aprimoramento de protocolos de prevenção e controle de infecções e treinamento de equipes locais em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). As ações podem ser adaptadas e modificadas de acordo com as necessidades, já que a situação é bastante volátil.

Normalmente, são realizados nas UPAs apenas procedimentos de emergência, e pacientes que necessitem de cuidados adicionais são transferidos a um hospital depois de estabilizados. Com o aumento dos casos de COVID-19, entretanto, os hospitais estão superlotados e as equipes locais estão sendo obrigadas a acomodá-los nas UPAs. Há pacientes em estado moderado, mas também alguns em estado grave, o que demanda atendimento de cuidados intensivos. Por causa disso, UTIs estão sendo improvisadas.

A situação referente à COVID-19 também está sendo monitorada em outras localidades de Rondônia. Há preocupação em relação ao suprimento de oxigênio, com algumas cidades registrando estoques baixos. O quadro é preocupante devido à alta do consumo causada pelo aumento dos pacientes de COVID-19.

Roraima

MSF já vinha atuando em localidades do estado de Roraima e nas últimas semanas foram realizadas ações contra a COVID em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela (214 km da capital, Boa Vista) e Caracaraí (142 km da capital), além da capital, Boa Vista.

Em Pacaraima, a equipe do hospital local teve treinamento em controle e prevenção de infecções. Profissionais de saúde locais também receberam apoio de saúde mental. O mesmo trabalho está em curso nesta semana em Caracaraí, terceira maior cidade do estado.

Foi a precariedade do sistema de saúde que levou MSF a iniciar, em 2018, um projeto de reforço aos atendimentos em Boa Vista, sobrecarregada pela chegada de um grande fluxo de migrantes provenientes da Venezuela.

O projeto segue em atividade, mas as demandas cresceram com a chegada da pandemia. Paralelamente ao trabalho de apoio ao sistema de saúde local, a atuação de MSF foi importante para viabilizar a abertura do hospital de campanha em Boa Vista, que entrou em operação em junho do ano passado, em um momento de grande sobrecarga sobre o sistema local. Além disso, desde o início da pandemia promotores de saúde e equipes médicas têm realizado visitas a locais onde vive a população de migrantes para transmitir orientações de higiene e distanciamento social.
O quadro em Roraima e Rondônia é semelhante ao de muitos locais da região Norte, onde existe uma deficiência histórica na disponibilidade de recursos materiais e humanos na área médica.

“Tentamos acompanhar de perto a situação na região. O fato de termos profissionais em campo permite que nos desloquemos rapidamente a uma determinada área caso seja necessário iniciar um projeto de emergência de apoio às equipes de saúde locais”, explica Fábio Biolchini.

Amazonas

Equipes de MSF mantém também presença no estado do Amazonas, para onde a organização retornou no final do ano passado quando os casos de COVID-19 começaram a crescer fortemente, levando ao colapso do sistema de saúde e a uma grave crise de falta de oxigênio.

Até o início de março, MSF atuou no reforço aos atendimentos médicos na UPA José Rodrigues, adaptada para atendimento de pacientes graves de COVID-19. Também esteve presente em localidades do interior. Em São Gabriel da Cachoeira, profissionais apoiaram as atividades em uma unidade de atendimento para casos moderados, enquanto em Tefé houve reforço da equipe médica do Hospital Regional, que teve sua capacidade ampliada para atender ao número crescente de casos.

Depois de ter colaborado com este reforço dos atendimentos durante um período crítico da segunda onda da doença, o trabalho em Manaus está focado agora no apoio psicológico para profissionais da área de saúde. Psicólogos de MSF trabalham no Hospital 28 de Agosto, o maior da capital amazonense, e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) José Rodrigues.

“Percebemos que desde que passou o pico de mortes de janeiro e fevereiro, a demanda por nossos atendimentos tem crescido muito”, explica o gerente de saúde mental de MSF, Álvaro Palha. “As necessidades por suporte psicológico costumam aflorar depois que a fase mais aguda de eventos muito graves, como epidemias, é superada. Por isso é tão importante mantermos nossa presença neste momento”, explicou ele.

A atuação dos psicólogos inclui consultas individuais e atendimentos em grupo, além de assistência remota para os funcionários que estão afastados de suas funções por motivo de saúde. Também estão sendo realizados treinamentos com equipes locais para que o trabalho possa ter continuidade.

Importância da prevenção

Com o forte aumento do número de casos e mortes registrados nas últimas semanas no Brasil, MSF tem enfatizado a necessidade urgente de reforçar as medidas de prevenção. Como as perspectivas são de que ainda demore até que uma parcela significativa da população esteja imunizada, não é o momento de relaxar medidas de distanciamento social e higiene. Ações simples, como lavar as mãos, evitar aglomerações e utilizar máscaras continuam sendo as mais efetivas para deter o avanço do novo coronavírus.

É preciso também a adoção imediata de medidas coletivas para reduzir a circulação de pessoas, ao mesmo tempo em que sejam garantidos meios básicos de subsistência aos mais vulneráveis para compensar a interrupção das atividades. Deste modo, diminuiremos as contaminações que devem causar em breve um aumento do número de casos que terão de ser acolhidos por um sistema de saúde já saturado.

 

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