Necessidades humanitárias persistem na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela

Depois de três anos prestando cuidados, MSF está transferindo seus projetos para a Premiére Urgence Internationale e pede respostas de assistência para milhares de famílias na fronteira

Foto por: Santiago Valenzuela/MSF

Bogotá, 2 de dezembro de 2021 – Na região colombiana de Catatumbo, onde Médicos Sem Fronteiras (MSF) trabalha desde novembro de 2018, há uma crise contínua causada por conflitos armados, condições precárias em assentamentos temporários e violência contra mulheres, crianças e adolescentes. Depois de três anos prestando assistência nos distritos de Tibú, Puerto Santander e no vilarejo de La Gabarra, MSF está transferindo seus projetos à Premiére Urgence Internationale (PUI) e pede para as instituições atenderem às necessidades dos migrantes venezuelanos e colombianos, que ainda não possuem condições básicas de vida.

Nos distritos Divino Niño, Tres Montañas e 12 de Septiembre e na comunidade Yukpa, MSF observou que pelo menos 10 mil famílias vivem em condições sanitárias vergonhosas. “Nesses assentamentos e em quatro outros em La Gabarra onde trabalhamos, encontramos sérios problemas com água potável, higiene e falta de atendimento médico para venezuelanos e colombianos vulneráveis. Em nossas clínicas, continuamos vendo pessoas com doenças respiratórias, crianças com doenças gastrointestinais, problemas de pele, malária e até COVID-19″, diz Sulaith Auzaque, coordenadora de MSF em Catatumbo.

Avaliação do projeto

De novembro de 2018 a outubro de 2021, MSF conduziu 47.825 consultas médicas: 42.720 consultas ambulatoriais gerais, 210 para violência sexual, 4.729 para assistência pré-natal e 166 para cuidados pós-natais. Durante esse tempo, houve uma série de 11 feminicídios relatados. De acordo com Auzaque, “há uma subnotificação considerável da violência contra as mulheres, em grande parte devido às diferentes barreiras, incluindo o medo de denunciar”.

Também durante o período, MSF realizou 13.610 consultas de planejamento familiar, atingindo um total de 8.789 pessoas. Tanto em La Gabarra quanto em Puerto Santander e Tibú, MSF prestou cuidados de saúde mental para a população migrante venezuelana e colombiana, alcançando um total de 3.527 consultas. As precárias condições em que chegaram milhares de famílias à Colômbia exacerbaram os sentimentos de tristeza, incerteza e ansiedade em muitos casos. Ao longo do projeto, a equipe de saúde mental trabalhou com abordagem psicossocial individual, levando em consideração as dificuldades decorrentes dos conflitos armados e da xenofobia.

Principais necessidades

A maioria das crianças que cruzam a fronteira por vias irregulares chega com algum tipo de condição médica, seja cutânea, gastrointestinal ou respiratória. A equipe de MSF também tratou mulheres grávidas sem exames pré-natais, pacientes crônicos com diabetes e pacientes com câncer que não tiveram acesso a medicamentos ou monitoramento periódico. Além disso, as famílias vivem em condições de superlotação, muitas vezes expostas a fontes de água contaminadas, o que pode levar ao surgimento de doenças.

Foto por: Santiago Valenzuela / MSF

Já os pacientes que precisam de atendimento hospitalar – desde que tenham plano de saúde – precisam se deslocar até Cúcuta, o que pode levar até sete horas, e depois esperar três meses para conseguir uma consulta com um especialista. Isso se torna ainda mais complicado pela falta de segurança e proteção na área devido às disputas entre diferentes grupos armados.

“As famílias têm uma preocupação constante com os conflitos porque vemos crianças sendo recrutadas e muitas pessoas acabam trabalhando nas plantações de coca, então ficam mais expostas lá. Aqueles de nós que migraram, o fizeram para encontrar trabalho e comida, mas tem sido difícil”, conta Eduardo*, que mora em um dos assentamentos provisórios.

A população também foi exposta à violência resultante do trabalho sexual e do deslocamento forçado devido a ameaças de grupos armados. Auzaque acredita que é fundamental que as instituições governamentais e organizações humanitárias trabalhem para “um melhor atendimento integral aos migrantes venezuelanos e colombianos que não têm plano de saúde e façam um maior esforço para melhorar a água, o saneamento e o abrigo. E talvez o mais importante: existem diferentes tipos de violência contra a população na região que em hipótese alguma devemos normalizar”.

* Nome alterado para proteger a identidade da fonte.

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