Necessidades significativas de saúde permanecem em Hawija seis anos após combates

Desde 2016, MSF fornece acesso gratuito aos serviços de saúde para a população afetada pelos conflitos na área.

Foto: Hassan Kamal Al-Deen/MSF

Como em todas as manhãs, o Dr. Ramah Essa chega à clínica de MSF no subdistrito de Al-Abbasi, na província de Kirkuk, norte do Iraque, para acompanhar pacientes com doenças crônicas. São por volta das 8 horas da manhã, e vários pacientes já estão esperando-o chegar. O médico começa o dia com uma mulher idosa que sofre de diabetes e hipertensão. Ela vem regularmente para exames de rotina. “E agora, vamos testar seu nível de açúcar no sangue para que possamos ver se sua diabetes está controlada. Se não estiver, vamos ajustar o tratamento”, explica o Dr. Ramah para a paciente.

Nesta instalação de MSF, o Dr. Ramah e seu colega Dr. Saif recebem pacientes que procuram atendimento médico para doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes, hipertensão, asma, epilepsia e distúrbios psiquiátricos. Tais condições requerem tratamento médico de longa duração ou ao longo da vida e acompanhamento rigoroso para evitar o desenvolvimento de complicações que podem levar a situações críticas. “Temos entre 3 mil e 3.500 pacientes em tratamento que nos visitam regularmente na clínica Al-Abbasi”, diz o Dr. Ramah. “Junto com o Dr. Saif, atendemos cerca de 50 a 60 pacientes, em média, todos os dias”.

Desde 2016, MSF fornece acesso gratuito aos serviços de saúde para aqueles que fugiram de Hawija durante o controle do grupo Estado Islâmico – e os combates subsequentes para retomar a área – e também aos que retornaram e/ou que não saíram.

Foto: Hassan Kamal Al-Deen/MSF

Primeiro, administramos clínicas móveis nos locais de recepção para as pessoas que fugiam de Hawija. Em seguida, trabalhamos nos campos de deslocados, onde aqueles que foram forçados a deixar suas casas estavam se estabelecendo. Mas, desde 2020, esses acampamentos foram fechados após uma decisão do governo federal, forçando as famílias a retornar às suas áreas de origem e, às vezes, levando-as a enfrentar deslocamentos secundários para outras regiões.

Muitas unidades de saúde foram parcial ou totalmente destruídas durante os combates para retomar Hawija do controle do grupo Estado Islâmico, deixando a população que retornava com acesso reduzido a serviços de saúde muito necessários. À medida que as necessidades das pessoas e as lacunas existentes na prestação de cuidados de saúde aumentaram, MSF mudou as atividades para se concentrar nas DCNTs, nos serviços de saúde mental e nos cuidados de saúde sexual e reprodutiva.

Antes dos combates, o sistema de saúde já sofria com a escassez de suprimentos e profissionais de saúde nessa região. Mas, agora, com várias instalações danificadas ainda não restauradas ou não funcionais, juntamente com a pressão adicional colocada no sistema para atender às necessidades de saúde dos retornados, atender às enormes necessidades na área é impossível. As pessoas geralmente precisam viajar longas distâncias para comparecer a uma consulta médica, pois as instalações próximas a elas estão fora de serviço, enfrentam escassez ou nunca existiram.

“Hoje, trabalhamos na clínica Al-Abbasi e no centro de saúde primário de Hawija, que está na cidade central de Hawija. Nossas equipes prestam assistência a 7 mil pacientes que sofrem de DCNTs nos dois locais ao todo, e a capacidade de resposta de MSF está atingindo seu pico”, diz Tetyana Pylypenko, coordenadora-médica de MSF no Iraque. “Embora reconheçamos as grandes necessidades da comunidade, não podemos inscrever todos os pacientes que precisam de tratamento. Estamos tentando manter uma boa qualidade de atendimento aos pacientes, e haverá limitações para isso se o número de pacientes continuar crescendo. O espaço limitado nas instalações, os desafios de fornecimento e a disponibilidade de profissionais estão entre os desafios que poderíamos enfrentar”, acrescenta Tetyana.

Dividindo a carga com o sistema público de saúde

Em colaboração com as autoridades de saúde locais, MSF desenvolveu critérios específicos para o início do tratamento em nossas instalações. Nossas equipes se concentram em cuidar dos pacientes mais vulneráveis que precisam de tratamento urgente. Ao mesmo tempo, encaminhamos pacientes mais estáveis para o centro de saúde primária público próximo. Dessa forma, podemos dividir a carga com a clínica pública e fornecer cuidados melhor direcionados aos pacientes. Ainda no centro de saúde primária de Hawija, MSF oferece às mulheres consulta pré-natal, pós-natal e planejamento familiar, mas em uma seção separada da clínica de DCNT.

Tanto em Hawija quanto em Al-Abbasi, nossas equipes não só recebem pacientes das grandes cidades, mas também dos vilarejos vizinhos e até das províncias próximas. As pessoas vêm às clínicas de MSF para se beneficiar de cuidados médicos gratuitos e de qualidade.

Apoiando a saúde mental

Amira e seus colegas, que trabalham com MSF como profissionais comunitários de saúde mental, realizam visitas diárias às casas em Al-Abbasi para conscientizar e informar as pessoas sobre saúde mental e sensibilizá-las sobre os serviços de MSF. Muitas vezes, eles encontram indivíduos que apresentam sinais de ansiedade ou estresse que sugerem a necessidade de apoio psicossocial.

Foto: Hassan Kamal Al-Deen/MSF

Os profissionais aconselham as pessoas a visitar nossos conselheiros de saúde mental na clínica. Lá, Fatin, nosso conselheiro de saúde mental, e seus colegas apresentam aos pacientes informações importantes para entender melhor sua condição e fornecer-lhes algumas técnicas e mecanismos de adaptação para ajudá-los a superar e desenvolver estratégias de enfrentamento sólidas.

“O cuidado que prestamos tem que incluir as dificuldades e as restrições pelas quais os pacientes passam em sua vida, além do trauma e do estado psicológico em que estão”, explica a Dra. Annie Marie, líder da equipe médica de MSF em Kirkuk.

“É por isso que mantemos a saúde mental como parte essencial dos serviços que prestamos, especialmente sabendo que, nos últimos anos, a população aqui passou por várias experiências traumáticas que exigiriam anos para se curar completamente”, acrescenta a Dra. Annie.

No Hospital Geral de Hawija, Wafaa, uma obstetriz desenvolvedora de MSF, passa o dia no departamento de maternidade apoiado por MSF ajudando obstetrizes que às vezes auxiliam até 300 mulheres a dar à luz seus bebês todos os meses. No local, MSF apoia as obstetrizes desenvolvendo suas capacidades na sala de parto diariamente.

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