Nigéria: inundações podem provocar surtos de malária e cólera em Maiduguri

MSF teme que o número de pessoas afetadas pelas doenças aumente, assim como os níveis de desnutrição na região

A enchente destruiu muitas estruturas em Maiduguri, na Nigéria. Setembro de 2024. © Abba Adamu Musa/MSF

Após as recentes inundações que devastaram grandes áreas de Maiduguri, no nordeste da Nigéria, Médicos Sem Fronteiras (MSF) se preocupa com o risco significativo de malária e doenças transmitidas pela água, incluindo o cólera. Também há um grande temor de que esta crise possa aumentar os níveis de desnutrição na região.

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MSF pede apoio adicional urgente, especialmente em relação a água, saneamento e assistência médica, para proteger as pessoas já fortemente impactadas pela insegurança e por níveis sem precedentes de desnutrição.

Em 10 de setembro, chuvas intensas provocaram o rompimento da barragem da represa de Alau, no estado de Borno, gerando grandes inundações na cidade de Maiduguri e em seus arredores. A enchente afetou severamente casas, mercados, campos, gado e várias unidades de saúde.

Pessoas afetadas pela enchente em Maiduguri levando seus pertences para longe de suas casas inundadas. Setembro de 2024. © Abba Adamu Musa/MSF

Segundo as autoridades do estado de Borno, cerca de 400 mil pessoas foram registradas em 30 locais de deslocamento improvisados. A maioria dos locais são escolas, onde há poucas latrinas e a água potável é escassa.

Estamos muito preocupados com as condições de vida precárias e os potenciais surtos de cólera e malária.”

– Issaley Abdel Kader, coordenador-geral de MSF na Nigéria

“O número de crianças afetadas por malária e diarreia aquosa aguda já havia começado a aumentar antes das inundações, e vimos algumas com sinais clínicos de cólera desde o início das enchentes. Tememos que o número de casos aumente sem o respectivo aumento do apoio médico e humanitário, especialmente em relação à água, saneamento e higiene”, diz Issaley Abdel Kader, coordenador-geral de MSF na Nigéria.

Na semana passada, as equipes de MSF foram a vários locais de deslocamento (Galtimari, Yerwa, Ali Sheriff, Vocational Enterprise Institute, Teachers Village) para avaliar as necessidades das pessoas e iniciar o fornecimento de serviços essenciais, como acesso à água por meio de caminhões-pipa e tanques de água, instalação e reparo de latrinas e distribuição de redes mosquiteiras. As equipes também estão realizando consultas ambulatoriais nos locais, incluindo suporte de saúde mental, e encaminhando pacientes críticos para as instalações que apoiamos.

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Considerando os riscos de aumento de doenças, MSF também planeja expandir em 100 leitos a unidade pediátrica que apoia, para atender à demanda do provável aumento de casos de malária. As equipes começaram a montar um centro de tratamento de cólera que pode ser ampliado para uma capacidade de 100 leitos, se necessário.

Andrew, médico de MSF, atende paciente no acampamento Teachers Village. Setembro de 2024. © Abba Adamu Musa/MSF

O governo do estado de Borno anunciou o fechamento e a fusão da maioria dos locais de deslocamento nos próximos dias. Eles planejam manter três locais principais para acomodar pessoas que ainda não têm onde ficar por mais uma semana, e uma vacinação em massa contra o cólera está programada.

“Todas as partes envolvidas na resposta humanitária devem continuar a fornecer assistência às pessoas afetadas pelas inundações enquanto for necessário e garantir acesso imediato e fácil a cuidados médicos para aqueles que precisam”, alerta Issaley. “O fechamento da maioria dos locais significa que muitos se encontrarão em uma situação muito vulnerável. Para aqueles que permanecem nos locais, ações rápidas devem ser tomadas para melhorar as condições de higiene, incluindo acesso a latrinas, água potável e redes mosquiteiras”.

Mulheres e crianças deslocadas buscam água fornecida por MSF no acampamento Teachers Village, em Maiduguri, nordeste da Nigéria. Setembro de 2024. © Abba Adamu Musa/MSF

O apoio às comunidades não será necessário apenas nos novos locais de deslocamento. Muito antes das inundações, toda a população de Maiduguri já enfrentava enormes desafios, incluindo uma das piores crises de desnutrição registradas no nordeste da Nigéria. Nos últimos meses, centenas de crianças com desnutrição severa foram admitidas a cada semana no hospital de assistência nutricional de MSF.

As admissões nas unidades de nutrição estavam começando a diminuir quando ocorreram as inundações.”
Ashok Shrirang Sankpal, coordenador médico adjunto de MSF na Nigéria

“Com os mercados e negócios severamente impactados, as colheitas danificadas e o gado levado pelas águas, há uma grande preocupação de que a tendência de queda se reverta e as admissões [nos centros de nutrição] comecem a aumentar novamente”, explica Ashok Shrirang Sankpal, coordenador médico adjunto de MSF na Nigéria.

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Esta é a segunda vez em apenas algumas semanas que MSF teve que lançar respostas de emergência relacionadas a inundações no norte da Nigéria. Em agosto, em Gummi, estado de Zamfara, casas e fazendas foram destruídas e milhares de pessoas ficaram desabrigadas por causa das fortes inundações.

Assim como em Maiduguri, as pessoas nesta área já enfrentam desafios significativos, incluindo desnutrição, insegurança persistente e falta de acesso a cuidados de saúde. As equipes de MSF têm apoiado comunidades em Gummi nas últimas semanas, entregando água potável limpa, consertando poços e entregando kits que incluem lonas plásticas para abrigo temporário e redes mosquiteiras.

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