Nigéria: MSF apoia deslocados internos no estado de Zamfara

Equipes trataram quase 36 mil pacientes com malária nos dez primeiros meses do ano

Nigéria: MSF apoia deslocados internos no estado de Zamfara

“Decidimos deixar nosso vilarejo depois que 56 pessoas foram mortas por bandidos em um único dia. Nossos pertences eram constantemente roubados”, afirma Fátima, que agora está em um campo em Anka, no estado de Zamfara, no noroeste da Nigéria, depois que seu vilarejo em Jar’kuka tornou-se muito perigoso.

Abbas, também hospedado no campo em Anka, deixou seu vilarejo em Tangaram com a esposa e três filhos depois que seu pai foi sequestrado. “Dois anos atrás, meu pai, que era o líder tradicional de nosso vilarejo, foi sequestrado por bandidos e levado para o mato”, relembra. “Os bandidos exigiram um resgate, que foi pago. Desde então, não tentamos voltar. Duas pessoas voltaram para verificar a situação, mas um foi morto e o outro foi sequestrado, embora mais tarde tenha conseguido escapar.”

Fátima e Abbas são apenas duas das cerca de 200 mil pessoas que foram deslocadas no noroeste da Nigéria desde 2011, de acordo com o International Crisis Group. Isso inclui cerca de 100 mil que buscaram segurança nas cidades de Anka, Shinkafi e Zurmi, em Zamfara, após um aumento da violência em 2018.

Para as pessoas em Zamfara e estados vizinhos no noroeste da Nigéria, a insegurança tem interrompido as atividades cotidianas, como trabalhar e cultivar alimentos e impede as pessoas de acessarem serviços essenciais, como os de saúde. O que começou como disputas localizadas entre pastores de animais e agricultores pelo acesso à terra se transformou gradualmente em um grande conflito.

A maioria das pessoas fugiu de suas casas em resposta à violência extrema, incluindo sequestros e assassinatos em massa, como relatado por Fátima e Abbas. Atualmente, a maioria recebe quase nenhuma assistência organizada. Em Anka e em outros lugares onde os deslocados estão presentes, as pessoas necessitam de itens essenciais como abrigo, água potável e comida.

Como alimentar suas famílias quando elas não têm renda e onde cultivar seus próprios alimentos são as principais preocupações. “Nosso maior problema aqui é a comida”, diz Abbas. “Você sabe, como aldeões, a principal ocupação é a agricultura, mas agora não podemos cultivar e não podemos alimentar nossas famílias.”

Equipes de MSF trabalham em Anka desde 2010, onde a organização administra um hospital infantil com 135 leitos e fornece atendimento médico às pessoas deslocadas, água potável, lonas de plástico para construção de abrigos e itens essenciais, como utensílios de cozinha e cobertores.

Como resultado da escassez de comida, muitas crianças desnutridas chegam ao hospital de MSF. O mesmo ocorre em Shinkafi e Zurmi, onde MSF trabalha desde 2019. Em Shinkafi, MSF administra uma série de serviços no hospital geral da cidade, incluindo um centro de alimentação terapêutica com 33 leitos. No hospital de Zurmi, MSF administra um centro de alimentação com 30 leitos. Entre janeiro e outubro de 2020, equipes de MSF trataram 20.260 crianças com desnutrição em Anka, Shinkafi, Zurmi e Gusau, capital do estado.

A malária, que pode ser agravada pela desnutrição, também é uma grande preocupação. As equipes têm visto um número crescente de crianças com formas graves da doença. “Quando a alta temporada de malária começou, os casos que víamos estavam além de todas as expectativas”, informa Salih Muhammad Auwal, médico no hospital de Shinkafi. “Estávamos admitindo de 25 a 30 crianças com malária severa a cada dia.”  MSF respondeu aumentando o número de leitos de 19 para 54, montando enfermarias adicionais em barracas e contratando profissionais extras.

De janeiro a outubro, MSF tratou 35.358 pacientes com malária em todo o estado de Zamfara. As equipes também oferecem tratamento médico e apoio psicológico a sobreviventes da violência, tratando 312 pessoas em Anka, Shinkafi e Zurmi nos primeiros dez meses de 2020.

Com tantas necessidades médicas urgentes, os poucos estabelecimentos de saúde existentes estão superlotados. “Espaço para dormir é realmente um desafio”, avalia Grace Bwete, supervisora ​​das obstetrizes de MSF no hospital de Shinkafi. “Temos 53 leitos na enfermaria pediátrica, 33 no centro de alimentação e 6 na sala de emergência. A maioria dos pacientes que nos procuram está em estado grave e não podemos enviá-los de volta, então nós os admitimos mesmo quando estamos lotados.”

Como única organização humanitária internacional trabalhando permanentemente no estado de Zamfara, MSF procura mobilizar organizações locais e internacionais para fornecer assistência para resolver as necessidades das pessoas. “Estamos implorando ao governo para nos ajudar com alimentos e garantir que a paz seja restaurada às nossas comunidades”, afirma Fátima. “Gostaríamos de voltar e reconstruir nossas casas e começar uma nova vida.”

MSF trabalha na Nigéria desde 1996 e hoje está em sete estados: Borno, Jigawa, Zamfara, Sokoto, Benue, Ebonyi e Rivers.

 

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