“Nos sorrisos e na gratidão de nossos pacientes, encontramos nosso propósito”

Awa Abdumadou compartilha sua experiência supervisionando as equipes que levam cuidados essenciais a comunidades isoladas no projeto de MSF em Abyei, no Sudão do Sul.

Awa Abdumadou com duas agentes comunitárias durante uma visita semanal a um dos locais de gerenciamento integrado de casos. © Isaac Buay/MSF

“No coração do Sudão do Sul, aninhado dentro dos limites de Abyei, é onde minha história começa.

Meu nome é Awa Abdumadou, mas para os moradores locais e os agentes comunitários daqui, sou carinhosamente conhecida como Nyan Abyei, a ‘Senhora de Abyei’. Embora eu tenha chegado como alguém de fora, essa comunidade me acolheu, fazendo sentir como se eu conhecesse e fizesse parte da Área Administrativa Especial de Abyei, no Sudão do Sul, durante a vida toda. Agora, aos olhos deles e em meu coração, sou uma ‘garota de Abyei’.

Eu uso meu título de coordenadora de enfermagem MSF com orgulho. Confiaram a mim uma grande responsabilidade: treinar agentes de saúde da própria comunidade, fornecer medicamentos vitais para a população e supervisionar para garantir que nossos objetivos sejam alcançados.

Nossa operação abrange 17 locais de gerenciamento integrado de casos comunitários. Em cada um deles, dois agentes comunitários e um profissional da equipe especializada em água e saneamento trabalham incansavelmente. Qual a função deles? Diagnosticar e tratar a malária, tratar casos de diarreia e fazer exames de desnutrição. Equipadas com testes de diagnóstico rápido, as equipes prestam atendimento imediato. Um teste positivo? Eles conhecem o protocolo. Um caso de diarreia sem complicações? Elas estão prontas para intervir.

No entanto, nossa atuação aqui não é isenta de desafios. Durante a estação chuvosa, as estradas ficam intransitáveis. Os veículos ficam inutilizados e é preciso muita determinação e pés resistentes para chegar às nossas instalações de gerenciamento integrado de casos comunitários. Mas esses obstáculos são insignificantes comparados às imensas necessidades de saúde.

Uma equipe de gerenciamento integrado de casos comunitários em visita ao vilarejo Nyinijo, em Abyei. Algumas comunidades são de difícil acesso e exigem longas caminhadas, principalmente na estação chuvosa. © Sean Sutton/Panos

A presença de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Abyei é um farol de esperança para a comunidade, pois não há nenhuma outra unidade de saúde na região, nenhum outro lugar onde as pessoas possam buscar cuidados médicos. São apenas nossos locais de gerenciamento integrado de casos comunitários, estabelecidos com a ajuda da própria comunidade, que auxiliam na prevenção e tratamento de doenças. E não se trata apenas de fornecer medicamentos; MSF subsidia esses voluntários que atendem suas comunidades.

Quando chove, nossos locais ficam muito movimentados. Mais de 100 pacientes se reúnem todas as quartas e sextas-feiras. Eles vêm em busca de atendimento médico, e nós estamos prontos, informando dados, estocando medicamentos e, o mais importante, oferecendo cuidados de saúde.

A comunidade confia em nós, portanto, nosso alcance e impacto são enormes. Uma interação recente com líderes comunitários evidenciou isso. Eles falaram sobre o impacto positivo de MSF. Esses sentimentos positivos nos levam a continuar trabalhando. Não importa quão instáveis sejam as estradas, não importa quão grande seja a distância para chegar aos pacientes, é a alegria e o alívio nos rostos das pessoas que atendemos que alimentam nosso trabalho humanitário. Pois em seus sorrisos, em sua gratidão, encontramos nosso propósito.”

Sobre a Awa

“Eu queria ser enfermeira desde criança. Em 2005, MSF começou a trabalhar em meu país, o Níger. Eu tinha 12 anos de idade quando ouvi falar de uma ONG chamada MSF que estava fornecendo tratamento para crianças que sofriam de malária e desnutrição.

Soube que MSF estava contratando profissionais de enfermagem para a temporada de malária em 2013. Enviei minha inscrição e, após realizar um teste e entrevista, fui contratada. Com exceção de um curto período sem trabalhar por causa de um acidente de moto, estou com MSF desde então. Trabalhei em Zinder e Margaria por dois anos na unidade de emergência antes de me tornar instrutora, treinando novos enfermeiros por quatro anos. Depois, em 2020, me tornei coordenadora de enfermagem.

Em seguida, fui trabalhar com a organização na República Democrática do Congo por quatro meses, mas por causa da pandemia de COVID-19, fiquei por oito meses. Voltei para o Níger e trabalhei na pediatria por seis meses durante a estação chuvosa, no período de outubro a abril. Depois, fui trabalhar como equipe internacional em projetos regionais de MSF.

MSF me enviou para Gana por oito meses para melhorar meu inglês como parte de um novo programa de desenvolvimento pessoal. Isso me ajudou muito. Em 2021, trabalhei em um projeto para pacientes que vivem com tuberculose (TB) e HIV em Eswatini por três meses. Depois, voltei a trabalhar no Níger, atuando com pediatria por seis meses. No final de 2021, trabalhei em Burkina Faso, no Quênia, e agora estou aqui no Sudão do Sul.

Estou muito, muito feliz. Adoro meu trabalho. Ajudo a colocar um sorriso no rosto das pessoas. O único desafio é estar longe da minha família, especialmente agora, com a possibilidade de um conflito eclodir em meu país*.

O trabalho de MSF no Sudão do Sul é incrível e eu realmente aprecio o apoio que podemos oferecer. Ajudamos a evitar que as pessoas fiquem gravemente doentes por causa da malária e da diarreia. Estamos aqui para salvar vidas, e é isso que estamos fazendo.

Minha equipe é habilidosa no que faz. Eles estão muito motivados em ajudar a comunidade. Às vezes, caminhamos por horas em condições difíceis, como hoje, em meio à água da enchente. Temos que trabalhar durante as mudanças climáticas para acessar as comunidades que não têm acesso à assistência médica. Quanto mais remotas elas são, mais precisam de nós.

Treinamos agentes locais para fazer testes de malária, conhecer os sinais de alerta de doenças e fornecer medicamentos. Eles se comunicam com a comunidade, fornecendo informações que salvam vidas sobre o que fazer caso se sintam doentes, quais sintomas observar e quando buscar ajuda. Eles também reportam dados de saúde, discutem os desafios que eles e a comunidade enfrentam e propõem soluções para esses desafios.”

Atuação de MSF em Abyei

Em Abyei, no Sudão do Sul, MSF apoia os serviços de saúde secundária no Hospital Ameth Bek, a única instalação que fornece cuidados médicos especializados e serviços cirúrgicos na região. Nossas equipes oferecem uma gama de serviços, incluindo cuidados de internação, cuidados de emergência 24 horas por dia, cirurgia, cuidados maternos e neonatais abrangentes, tratamento de doenças crônicas, apoio de saúde mental, promoção de saúde, locais de gerenciamento integrado de casos comunitários, bem como a colaboração com as autoridades locais de saúde.

*Texto escrito em novembro de 2023

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