“O que me dá mais força e confiança em meu trabalho são os meus pacientes e saber que posso fazer muito por eles”

Em Histórias de MSF, Juliana Alexander compartilha sua jornada como técnica em medicina no projeto de MSF em Aweil, no Sudão do Sul

Juliana Alexander Justin na ala de emergência de MSF em Aweil, Sudão do Sul. © Oliver Barth/MSF

Juliana Alexander Justin trabalha como técnica em medicina* no departamento de emergência de MSF no Hospital Estadual de Aweil, no Sudão do Sul. O sistema de saúde do país não tem médicos experientes em número suficiente e suas responsabilidades são imensas. Mas para ela, é um sonho de infância que se tornou realidade.

“Quando criança, eu passava muitas noites no hospital. Cresci na cidade de Wau, no Sudão do Sul, onde minha mãe trabalhava como enfermeira. Ela sempre me levava com ela em seus turnos noturnos para que eu pudesse cuidar da minha irmãzinha, que ainda era um bebê. Eu adorava ver minha mãe conversando com os pacientes com uma voz calma, coletando sangue e distribuindo medicamentos. Eu ficava fascinada com sua capacidade de ajudar as pessoas que estavam doentes e feridas. Aquelas noites me fizeram querer um dia ser médica.

Entretanto, depois que terminei a escola, meus pais não puderam pagar as mensalidades da faculdade de medicina. Mas tive sorte, porque naquela época o governo do Sudão do Sul criou bolsas de treinamento para enfermeiros, obstetrizes e técnicos em medicina. O objetivo era combater a alta taxa de mortalidade materna e infantil no país. Eu me inscrevi e fui bem-sucedida: como técnica em medicina, pude me aproximar de meu sonho profissional.

Chegar lá não foi fácil. Minha língua materna é o balanda, e na escola aprendíamos em árabe, mas todo o treinamento era em inglês, que eu não falava muito bem naquela época. Também tive que assumir rapidamente tarefas no trabalho clínico para as quais não havia sido preparada. Há muito poucos médicos no Sudão do Sul como um todo. Nós, técnicos em medicina, preenchemos essa lacuna, apesar de termos apenas três anos de treinamento.

Carregar uma responsabilidade tão grande foi difícil no início. Houve momentos em que eu só conseguia me motivar a continuar porque, apesar de todos os contratempos, eu via todos os dias que muitos dos meus pacientes estavam melhorando cada vez mais.

Agora, sou uma profissional muito experiente e trabalho para MSF na ala de emergência em Aweil, no norte do país, há sete anos. Fornecemos assistência médica gratuita para cerca de 1,3 milhão de pessoas.

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Durante a temporada de malária, por exemplo, temos de cuidar de muitas crianças ao mesmo tempo com uma equipe pequena, e muitas dessas crianças correm perigo de morte. Então, eu trabalho de forma altamente concentrada para não perder tempo.

Recentemente, preparei uma transfusão de sangue para uma criança que estava gravemente doente. A mãe me disse, completamente exausta, que caminhou por um dia e meio até chegar à clínica, pois não tinha dinheiro para o transporte. É assim que acontece com muitas famílias. Fiquei feliz por ela ter conseguido chegar até nós a tempo.

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Sempre tenho que esperar o pior em meu trabalho. O que me ajuda a suportar isso é o forte apoio da nossa equipe. Damos conselhos, nos apoiamos nos momentos difíceis e agradecemos uns aos outros pelo bom trabalho que realizamos. Mas o que me dá mais força e confiança em meu trabalho são os meus pacientes e saber que posso fazer muito por eles, assim como minha mãe já foi capaz de fazer muito por seus pacientes.”

 

*Os técnicos em medicina concluíram três anos de treinamento na área e suas qualificações os colocam entre enfermeiros e médicos. Eles formam a espinha dorsal do atendimento médico no Sudão do Sul.

 

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