Onnie, o labrador que ajuda a cuidar de sobreviventes de violência extrema

O cachorro de 4 anos de idade é treinado para fornecer apoio terapêutico e atua com psicóloga em instalação de MSF no México.

Yesika Ocampo/MSF

Alicia de la Rosa é uma psicóloga especializada em psicoterapia assistida com animais. De la Rosa trabalha com Onnie, um labrador retriever de 4 anos de idade, para fornecer apoio de saúde mental a sobreviventes de tortura e violência extrema no Centro de Atenção Integral (CAI), na Cidade do México. O centro é administrado por Médicos Sem Fronteiras desde 2017. Ali, equipes de médicos, psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras e fisioterapeutas de MSF oferecem atendimento abrangente – e muitas vezes de longo prazo – a migrantes e mexicanos que passaram por experiências terríveis ao longo da rota de migração ou por violência extrema em seus países de origem.

Onnie é treinado para fornecer apoio terapêutico a crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. O apoio que ele e de la Rosa oferecem no centro é um dos componentes de cuidado psicossocial aos quais os pacientes têm acesso.

“Algumas das pessoas que passaram por situações traumáticas de extrema violência ou tortura têm dificuldade em expressar suas emoções e encontrar confiança novamente nos outros e no ambiente. Os pacientes deste centro são sobreviventes de sequestro, tortura, prostituição forçada, ameaça, mutilação, violência sexual, recrutamento forçado por grupos armados ou até mesmo testemunharam o assassinato de um membro da família”, explica de la Rosa.

“Trabalhar com Onnie dá aos pacientes a chance de quebrar barreiras para que eles possam se abrir para os terapeutas e se sentir confiantes para falar sobre as situações difíceis que vivenciaram”.

– Alicia de la Rosa, psicóloga de MSF.

 

Yesika Ocampo/MSF

 

Cães de terapia são treinados desde muito jovens. Onnie começou o treinamento ainda filhote. Ele foi exposto a diferentes estímulos sonoros, texturas, ambientes, pessoas e objetos. Quando completou 1 ano, Onnie começou o treinamento para se tornar um cão de terapia. A prática incluía aulas básicas de obediência para aprender, por exemplo, a sentar, deitar, virar, dar a pata, pular e se mover para que pacientes com dificuldades motoras possam escová-lo ou acariciá-lo.

A psicoterapia assistida com animais também ajuda as pessoas a expressar suas emoções. “Há pessoas com traumas complexos que não podem dizer: ‘Hoje estou muito triste’. Mas podem dizer: ‘Hoje Onnie parece triste’”, diz de la Rosa. “Isso permite que os psicoterapeutas reconheçam seu humor. Os pacientes também transferem a confiança que sentem pelo cão para o terapeuta. Eles pensam: ‘Se Onnie quer ficar com Alicia, então isso significa que eu posso confiar nela’”.

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Atualmente, Onnie oferece apoio a muitos pacientes no CAI, incluindo crianças, jovens adultos e famílias que fugiram de seus países de origem. Essas pessoas apresentam sintomas ou transtornos agudos de saúde mental (estresse pós-traumático, flashbacks ou ansiedade) devido a eventos traumáticos e de violência extrema aos quais foram submetidos nas mãos de grupos criminosos e outros.

 

Yesika Ocampo/MSF

 

“Onnie está ajudando dois pacientes a falar sobre as experiências traumáticas às quais foram submetidos”, conta de la Rosa. “Isso os ajuda a redefinir essas experiências e aprender a nomear emoções e sentimentos”, acrescenta. Um desses pacientes é um jovem que geralmente suprime memórias dolorosas e se fecha em si mesmo. Quando ele se lembra das experiências traumáticas, ele não consegue falar ou pensar. É quando Onnie entra em ação. “Juntos, eles fazem diferentes atividades e exercícios que o fazem se sentir mais relaxado, não ameaçado e capaz de falar sobre o que desencadeia essas memórias traumáticas”, diz a psicóloga.

Outra paciente tem dificuldade em discernir entre seus pensamentos e a realidade. Ela foi hospitalizada várias vezes depois de se autoflagelar. “Estamos trabalhando com ela para ajudá-la a perceber quando os sintomas de ansiedade e pensamentos recorrentes começam”, diz de la Rosa. “Onnie estava com ela durante uma crise. Ele começou a pressionar o colo dela com as patas e lambê-la para que ela estivesse ciente de seu corpo naquele momento. Hoje, os sintomas da paciente melhoraram bastante, e ela está há três semanas sem crises”.

No início do tratamento de um paciente, as equipes médicas e de saúde mental trabalham com eles para criar objetivos terapêuticos. Quando esses objetivos são alcançados, o trabalho de Onnie está completo. “Os pacientes sabem com antecedência que as visitas com Onnie ocorrerão entre certas datas, então eles estão preparados para que a terapia assistida com animais termine”, esclarece de la Rosa. “Isso ocorre porque o paciente estabelece vínculos afetivos com o cachorro, e é importante fechar esse laço de afeto de maneira positiva.”

Onnie e de la Rosa fazem parte da equipe de cuidados abrangentes de MSF há dois anos. “Estamos muito felizes. Conseguimos, em conjunto com todos os envolvidos no tratamento dos sobreviventes, ajudar nossos pacientes a se recuperarem. Ver uma melhoria na qualidade de vida dessas pessoas que sofreram tanto e que chegam ao centro tão traumatizadas é algo que nos dá uma grande satisfação”, conclui a psicóloga.

 

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