“Os pacientes expressavam sua gratidão e o progresso deles me dava um sentido de propósito”

Em Histórias de MSF, o supervisor de enfermagem Aso Khalil compartilha detalhes da prestação de cuidados de saúde durante e após o conflito em Hawija.

Aso Khalil atuou como supervisor de enfermagem no projeto de MSF em Hawija, Iraque. © Hassan Kamal Al-Deen/MSF

Minha jornada com Médicos Sem Fronteiras (MSF) começou em 2016 no acampamento de Daquq, em Kirkuk, onde as pessoas que foram forçadas a fugir da cidade de Hawija e seus arredores estavam se estabelecendo. As necessidades de saúde eram muito urgentes naquela época, pois a população de Hawija estava isolada do resto do país, com pouco ou nenhum acesso a qualquer recurso.

Trabalhamos dentro do acampamento e administramos clínicas móveis que iam diariamente aos locais de recepção onde as pessoas chegavam. Fornecemos uma série de serviços médicos para doenças crônicas e não crônicas nessas áreas. Foi de partir o coração testemunhar as situações terríveis em que as pessoas se encontravam. Vi pessoas que perderam partes do corpo, outras que sofreram lesões corporais graves, e muitas que lutavam contra um profundo sofrimento psicológico depois de perderem tudo e chegarem exaustas aos acampamentos.

A partir dessas atividades, continuei atuando com MSF quando fizemos a transição do nosso trabalho para as instalações de saúde dentro de Hawija, após o fim dos confrontos armados para retomar o controle da cidade do grupo Estado Islâmico e quando as pessoas começaram a voltar e não encontraram nenhum serviço disponível em suas cidades natais.

Fomos primeiro ao subdistrito de Al-Abbasi, localizado na região leste de Hawija, onde estabelecemos uma clínica de saúde primária para oferecer cuidados de saúde mental, atendimento médico e tratamento a pessoas com doenças crônicas. Também reabilitamos a usina de água local, que estava danificada, e fornecemos água potável para a população.

Durante meu trabalho com MSF, encontrei alguns dos casos mais desafiadores de minha carreira. Lembro de um senhor de 60 anos que caía em lágrimas ao falar sobre seus dois filhos perdidos na guerra e sobre o sequestro de sua filha, cujo destino ainda era desconhecido. Essas histórias eram difíceis de ouvir e, apesar disso, muitas dessas pessoas se sentiam constrangidas em procurar atendimento de saúde mental, pois não estavam acostumadas a isso.

Encontrei imensa satisfação em meu trabalho e sou grato por ter ajudado pessoas que precisavam urgentemente de cuidados médicos. Os pacientes expressavam sua gratidão e o progresso deles me dava um sentido de propósito. Como parte de MSF, passei a entender a importância de nossa reputação na comunidade. As pessoas confiam em nós para oferecer os melhores serviços médicos e de saúde mental, e essa é uma responsabilidade que levo a sério.

Receber presentes simbólicos de pacientes que concluíram o tratamento de longo prazo e fazer amizades com aqueles que nos visitavam regularmente foram lembretes do impacto que estávamos causando. Em MSF, nosso compromisso de fornecer serviços de saúde para a comunidade sem fins lucrativos nos fez ganhar a confiança e o respeito das pessoas que atendemos. É um privilégio fazer parte de uma organização que prioriza o bem-estar das pessoas acima de tudo.

Atuação de MSF em Hawija

Após quase uma década ajudando a restaurar o acesso aos serviços de saúde destruído pelos conflitos armados na província de Kirkuk, no Iraque, Médicos Sem Fronteiras (MSF) repassou as atividades para as autoridades locais.

Durante nossa atuação, por meio de várias instalações de saúde, nossas equipes forneceram mais de 32 mil consultas ambulatoriais, garantindo o acesso a cuidados de saúde essenciais.

Além disso, apoiamos a recuperação da infraestrutura do Hospital Geral de Hawija e fornecemos treinamento aos profissionais de saúde locais.

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