Palestinos relatam histórias de violência frequente na Cisjordânia

Com crescimento do número de assentamentos israelenses, casos de violência contra famílias palestinas também aumentam.

À medida que os assentamentos israelenses se reproduzem em toda a Cisjordânia, o número de incidentes envolvendo os colonos, ou seja, israelenses que vivem nesses assentamentos, também cresce. As forças israelenses designadas para proteger as áreas ao redor dos assentamentos têm falhado em prevenir a violência de colonos civis contra os palestinos e, às vezes, a permitem. Com isso, os palestinos estão mais expostos do que nunca à brutalidade.

Cada família palestina conhece pelo menos uma pessoa atacada, presa ou assediada em situações relacionadas aos colonos. Três palestinos das áreas de Hebron e Nablus, no sul e no norte da Cisjordânia, respectivamente, compartilharam com Médicos Sem Fronteiras (MSF) as histórias de suas vidas em meio a assentamentos de colonos israelenses.

 Leia também: MSF apela a autoridades israelenses para que cessem despejo de palestinos na Cisjordânia

 

Nisreen Al-Azzeh, 51 anos, mãe de quatro filhos, vive em Hebron

Samar Hazboun/MSF
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Samar Hazboun/MSF
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Nisreen Al-Azzeh precisou instalar grades na janela de sua casa, na zona H2 de Hebron, uma área na Cisjordânia que está sob a ocupação israelense por causa da grande concentração de colonos. A casa da artista de 51 anos fica bem abaixo do complexo de assentamentos Ramat Ashay: “Eu os vejo sempre que abro a janela”, diz ela.

Moradores de Ramat Ashay e de outros três assentamentos próximos invadiram repetidas vezes a propriedade de Nisreen para quebrar as janelas com pedras. Colonos israelenses usaram paus para alcançar a janela entre a grade enquanto a família de Nisreen permanecia em silêncio no interior da casa.

“Eu queria gritar quando os vi danificando a janela, mas meu marido me disse para não fazer, por medo de que eles percebessem que estávamos aqui e nos atacassem.”

– Nisreen Al-Azzeh, moradora de Hebron.

Nisreen conta que os soldados israelenses raramente intervêm para impedir tais ataques, mesmo quando os testemunham. Segundo ela, o assédio que enfrenta tem se intensificado, com o objetivo de fazer com que ela e seus vizinhos deixem suas casas. “Eles querem dificultar nossas vidas para que possam controlar a área, especialmente com o novo governo. Eles querem nos expulsar”, diz.

Nisreen procurou a ajuda de Médicos Sem Fronteiras em 2016, depois de uma onda de violência particularmente intensa naquele ano, durante a qual várias pessoas de sua comunidade foram mortas por colonos israelenses ou soldados.

 

Mustafa Mlikat, 50 anos, pai de 13 filhos, vive nos arredores do vilarejo de Douma, no norte da Cisjordânia

Samar Hazboun/MSF
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Samar Hazboun/MSF
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Em uma casa erguida às pressas na forma de uma barraca em uma colina rochosa perto da aldeia de Douma, no norte da Cisjordânia, a filha de Mustafa Mlikat, Jinan, conversa com psicólogos de MSF. Com o apoio de profissionais, ela procura processar suas emoções depois de passar por uma mudança indesejada e pela demolição de sua casa. A história de Jinan reflete uma dupla dificuldade promovida pela ocupação israelense da Cisjordânia: a violência dos colonos e a violência do exército.

Mustafa, de 50 anos, vivia em uma comunidade beduína chamada Muarrajat, a uma hora ao norte do Mar Morto. Os problemas com os colonos israelenses começaram depois que eles construíram uma casa perto de Mustafa. “Eles têm ovelhas e costumavam vir para a nossa terra, então as ovelhas comiam os nossos jardins”, conta. Mustafa, que também cria ovelhas, não conseguiu impedir. “Se você tenta discutir com eles, eles têm grupos no WhatsApp e chamam outros colonos. De repente, você está lidando com 30 ou 35 colonos”, diz ele, lembrando de quando o irmão foi espancado em situação semelhante. Mustafa, como muitas outras pessoas de sua comunidade, foi forçado a ir embora.

Ele comprou a terra perto de Douma, onde vive agora, especificamente por causa da distância dos assentamentos de colonos israelenses. Mas viu, neste ano, o exército israelense destruir a casa de 300 metros quadrados que ele ergueu no terreno. Isso porque o espaço que Mustafa comprou estava na área C da Cisjordânia, sob o controle das autoridades israelenses, que não entregam licenças de construção aos palestinos. “Eles vieram no dia dois de fevereiro com uma escavadeira”, lembra.

A família conseguiu salvar da ação da escavadeira a maior parte dos móveis, mas os perdeu para a chuva que caiu naquele dia. Mustafa perdeu tudo primeiro para os colonos israelenses, depois para o exército. Ele, a filha Jinan e os outros 12 filhos agora dormem na tenda e em uma barraca enquanto Mustafa tenta encontrar uma solução.

 

Harbiyeh Al-Zaru, 50 anos, mãe de cinco filhos, vive em Hebron

Samar Hazboun/MSF

 

 

 

 

 

 

 

Samar Hazboun/MSF
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Harbieyh Al-Zaru mora na linha de frente. A mulher de 50 anos vive na Cidade Velha de Hebron, uma antiga região comercial vibrante que se transformou em uma cidade fantasma desde que as autoridades israelenses responsáveis por essa região impuseram restrições aos movimentos palestinos, à medida que a atividade de assentamentos israelenses crescia.

“Esta rua era lotada, cheia de transporte, cheia de vida, cheia de lojas. Agora, todas as lojas estão fechadas.”

– Harbiyeh Al-Zaru, moradora de Hebron.

O prédio da família de Harbieyh, onde ela mora, fazia parte desse ecossistema vibrante. “Minha família costumava alugar este prédio. Havia médicos, uma farmácia e lojas.” Agora, as forças israelenses colocaram câmeras de vigilância no telhado do prédio para proteger os mais de 800 colonos na região, privando a família de Harbieyh da privacidade de que desfrutavam para descansar ou pendurar roupas.

Quando os psicólogos de MSF a visitam, Harbieyh segura as lágrimas ao relatar as inúmeras histórias de violência e assédio que sua família enfrenta de soldados, colonos e, às vezes, de ambos. Recentemente, enquanto ela recebia parentes para jantar, os soldados invadiram violentamente a casa, exigindo que a família devolvesse as bicicletas desaparecidas que os colonos israelenses nas proximidades os acusaram de roubar. Ninguém tocou na comida naquela noite. Em vez disso, as crianças choraram, os convidados ficaram aterrorizados e Mutaz, filho de Harbiyeh, foi levado embora. As bicicletas foram encontradas mais tarde, dentro de uma loja.

 

Desde 1989, Médicos Sem Fronteiras atua na região da Palestina. Nossos projetos estão direcionados à prestação de cuidados médicos e de saúde mental à população palestina. Embora neste momento não tenhamos projetos que atendam à população israelense, estamos sempre disponíveis caso haja alguma demanda emergencial neste sentido.

Em todas os projetos onde atuamos, trabalhamos de maneira neutra, imparcial e independente, sem qualquer atrelamento a poderes políticos, militares, econômicos e/ou religiosos.

 

 

 

 

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