Paquistão: 5 perguntas sobre as inundações que atingiram milhões de pessoas no país

De acordo com estimativas, quase um terço do país, com 220 milhões de pessoas, ficou submerso.

Foto: MSF

As chuvas de monção que atingiram o Paquistão durante meses e se tornaram ainda mais intensas nas últimas semanas causaram danos generalizados em grande parte do país. Milhões de pessoas perderam suas casas e estão sendo forçadas a dormir em abrigos improvisados, enquanto muitas estruturas de saúde estão danificadas ou não estão funcionando.

 As equipes de Médicos Sem Fronteira (MSF) estão intensificando seu apoio às pessoas afetadas pela catástrofe e estão se preparando para intervir rapidamente em caso de surtos de doenças. O Dr. Khalid Elsheikh Ahmedana, vice-coordenador de operações de emergência da organização, compartilha as últimas atualizações em cinco perguntas:

 Qual é a situação atual no local?

 Estimativas iniciais de organizações internacionais indicam que milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária. Estes números devem, claramente, ser encarados com cautela, porque é difícil ter uma imagem precisa do que está acontecendo em todo o país. Mas nossas equipes no terreno observaram que as necessidades são enormes. Nossos profissionais viram vilarejos completamente submersos, em que muitas vezes só conseguiam avistar o topo de uma casa. Muitas pessoas perderam tudo e estão dormindo em tendas à beira da estrada.

Foto: MSF

O que as equipes de MSF estão fazendo atualmente em resposta às inundações?

 Nós intervimos rapidamente após a declaração do estado de emergência em 26 de agosto. No início, tínhamos cerca de mil membros da equipe de MSF no país, mas durante um desastre dessa magnitude, isso não é suficiente.

 Atualmente, nossas equipes estão viajando para diferentes regiões para realizar avaliações e prestar cuidados aos residentes. Nossas clínicas móveis tentam aproximar os cuidados de saúde o máximo possível daqueles que precisam. Além disso, nossas equipes de logística estão tentando fornecer água potável. Também distribuímos itens essenciais, como sabão, produtos de higiene e utensílios de cozinha. Esperamos conseguir enviar rapidamente mais recursos materiais, além de profissionais, para ampliar nossa intervenção.

Foto: MSF

Quais são as necessidades médicas da população?

 É muito cedo para tirar conclusões claras. No entanto, sabemos que algumas doenças endêmicas do Paquistão podem se espalhar devido à deterioração das condições de vida e à falta de higiene.

 A malária, por exemplo, pode se desenvolver devido à estagnação da água. Os mais expostos são as crianças, conhecidas por serem as principais vítimas da doença. A dengue, também transmitida por picadas de mosquitos, é outra doença endêmica no Paquistão. Há também casos de diarreia aquosa grave, que são uma consequência das inundações, porque as águas subterrâneas e as reservas de água podem ter sido contaminadas.

 Os patógenos, que são organismos que podem produzir doenças, proliferam em tais condições e, se as pessoas não tiverem acesso à água potável segura e a latrinas em funcionamento, as doenças transmitidas pela água provavelmente se espalharão.

Foto: MSF

 Como MSF está combatendo tais doenças?

 Nossas equipes trabalham para prevenir o desenvolvimento dessas doenças, estabelecendo centros de tratamento dedicados e/ou distribuindo medicamentos para o tratamento e a prevenção da infecção por malária. Também deve ser dada atenção especial às pessoas com doenças crônicas, como a diabetes, pois, na ausência de estruturas de saúde em funcionamento, elas podem sofrer com a perda da continuidade dos cuidados.

 Muitos dependem de avaliações mais precisas, que nossas equipes estão realizando. Por enquanto, uma vez que as pessoas que encontramos estão em sua maioria deslocadas e vivem em abrigos improvisados, uma de nossas prioridades é poder proporcionar acesso a água potável e abrigos adequados, e restaurar melhores condições de higiene. Estas são as necessidades mais urgentes.

Foto: MSF

 Quais são as possíveis consequências a longo prazo?

 As consequências de um desastre socioambiental dependem da sua magnitude e do número de pessoas afetadas. As chuvas de monção triplicaram este ano no Paquistão, de acordo com estimativas, e quase um terço do país, com 220 milhões de pessoas, ficou submerso.

 Temos também que considerar a destruição de parte do sistema de saúde, porque muitas estruturas estão danificadas e levarão tempo para se reconstruir. Nesta fase, não podemos prever nada, mas tentamos estar prontos para intervir rapidamente em diferentes cenários.

 Essas inundações provavelmente afetarão as pessoas por meses. Parte dos campos agrícolas, culturas e estoques de alimentos foram destruídos pelas inundações.

 Para algumas pessoas no país, o acesso à comida pode ser um problema por semanas ou meses.

 – Dr. Khalid Elsheikh Ahmedana, vice-coordenador de operações de emergência de MSF

 Alguns grupos de pessoas são mais vulneráveis do que outros, como mulheres grávidas ou crianças. Já começamos a enviar alimentos terapêuticos e ricos em nutrientes, que também usamos em outras áreas de intervenção. Podemos ou não precisar utilizá-lo nesse contexto, mas é melhor antecipar necessidades potenciais em uma situação dessa magnitude.

Foto: MSF

 

 

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