Paquistão: informação para combater a hepatite C na Colônia Machar em Karachi

Uma equipe de promotores de saúde trabalha para conscientizar a comunidade sobre o vírus

Paquistão: informação para combater a hepatite C na Colônia Machar em Karachi

Saia da movimentada estrada de Maripur e atravesse os trilhos do trem – búfalos pastando à sua direita, tuk-tuks (triciclos motorizados) e caminhões pintados de cores vivas estacionados ao acaso à sua da esquerda – e você entrará em uma das principais vias da Colônia Machar em Karachi. Espalhada por uma área de quase 300 km², é um assentamento não oficial, que abriga cerca de 150 mil pessoas. Muitos que vivem aqui não têm documentos oficiais, os moradores não têm acesso à coleta regular de lixo e não há sistema de esgoto além dos canais de drenagem entupidos de lixo. É difícil encontrar água potável.

Em uma das ruelas, em frente a uma pequena mercearia, fica a clínica de MSF, que oferece diagnóstico e tratamento para a hepatite C. Essa doença hepática é causada pelo vírus da hepatite C e é a principal causa de câncer de fígado. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Paquistão tem o segundo maior número de pessoas infectadas pelo vírus no mundo, que pode causar infecção aguda e crônica pela hepatite C. Ele é transmitido através do sangue e, portanto, a reutilização de agulhas e lâminas de barbear, práticas inseguras de saúde e o compartilhamento de itens domésticos comuns, como pentes ou escovas de dentes, podem espalhar o vírus.
 

Lançando a rede de informações

Situada perto do mar e de um dos portos de Karachi, muitas das pessoas que vivem em Machar trabalham na indústria pesqueira. Alguns consertam e constroem barcos de madeira para os pescadores que passam meses no mar pescando atum ou cavala para vender. Outros trabalham na pesca na Colônia e nas proximidades, onde preparam o peixe e o camarão para serem vendidos aos exportadores. As redes azuis secam ao sol, os peixes balançam ao vento e os homens de botas brancas de borracha descem à casa de leilão de peixes. Na tentativa de combater a hepatite C nessa comunidade, as equipes de MSF vão para onde as pessoas estão. Uma equipe local de promotores de saúde realiza sessões de informações sobre o vírus, seus sintomas e formas como ele pode se espalhar, além de organizar exames de hepatite C na comunidade. Elas visitam escolas e fábricas de peixe e reúnem grupos como barbeiros e esteticistas. Como explica Tassawar Ali, supervisor de promoção de saúde de MSF: “A maior força dessa comunidade é seu nível de engajamento e participação ativa. Com isso, podemos rastrear com sucesso as seções mais vulneráveis da população de Machar.”
 

Combater o vírus

Mais de 95% das pessoas que começaram a tomar medicamentos antivirais orais podem ser curadas da hepatite C, mas atualmente o acesso ao diagnóstico e tratamento permanece baixo no Paquistão. A clínica de MSF atende entre 30 e 35 pacientes por dia, alguns dos quais vêm pela primeira vez para o diagnóstico, outros para o acompanhamento mensal. Um tratamento combinado das pílulas de sofosbuvir e daclatasvir é tomado diariamente ao longo de três meses e, depois desse período, um exame de sangue pode confirmar se os pacientes estão curados. A maioria das pessoas pode ser tratada na clínica, mas aqueles com cirrose hepática ou complicações são encaminhadas para um hospital próximo para serem atendidas por um especialista gastroenterologista. Desde o início do projeto em 2015, 2.159 pacientes foram curados de hepatite C.

“Quando descobri que tinha hepatite C, sabia que era uma doença perigosa. Eu não conseguia controlar minha respiração e comecei a hiperventilar quando soube que tinha a doença. Eu não sabia o que aconteceria a seguir. Eu vim para cá e agora faz dois anos que estou completamente curada”, diz Juma Gul, ex-paciente e residente da Colônia de Machar.

Nos próximos meses, MSF planeja aumentar o número de pacientes que a equipe atende na clínica, com o objetivo de dar a mais pessoas acesso a diagnóstico e tratamento. Mas ainda falta trabalhar para entender a reinfecção e os possíveis padrões de resistência. Se uma pessoa é curada da hepatite C, isso não significa que ela não pode contraí-la novamente. É por isso que é tão importante que uma pessoa infectada e sua família iniciem o tratamento ao mesmo tempo. E que as pessoas entendam as diferentes maneiras pelas quais o vírus pode ser disseminado. 

Machar é apenas uma pequena área de Karachi, que é apenas uma cidade em todo o Paquistão, mas a esperança é que o tratamento da hepatite C feito desta maneira – em uma clínica mais próxima da comunidade e sem a necessidade de hospitais e especialistas na maioria dos casos – possa ser replicado.

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