Políticas de migração da União Europeia estão matando pessoas que buscam por segurança

Naufrágio no dia 14 de junho na Grécia foi o mais mortal registrado no Mediterrâneo desde 2015: “Quantas vezes mais teremos que repetir essa tragédia?”

Equipe de MSF em operação de busca salvamento no Mediterrâneo em maio de 2023. Foto: Skye McKee/MSF

Após o naufrágio de 14 de junho, que deixou até 500 pessoas mortas e desaparecidas na costa da Grécia, Médicos Sem Fronteiras (MSF) denuncia as políticas de migração da União Europeia (UE). Fazemos um apelo à responsabilização pelas vidas perdidas e à criação de um mecanismo de busca e salvamento no mar dedicado, proativo e liderado pelo Estado.

“A falta de determinação política para garantir a capacidade de salvamento contribuiu para o acidente marítimo mais mortal registrado no Mediterrâneo desde 2015.”
– Duccio Staderini, chefe do projeto de MSF na Grécia e nos Balcãs.

Equipes de MSF que prestam assistência médica e psicológica aos sobreviventes do naufrágio no centro de registro de Malakasa, na Grécia, expressaram tristeza e indignação com a perda de vidas.

“Quantas vezes mais teremos que repetir essa tragédia?”
– Duccio Staderini, chefe do projeto de MSF na Grécia e nos Balcãs.

“As centenas de vidas perdidas no mar são uma consequência direta das políticas de migração ‘dissuasivas’ da UE que forçam as pessoas a se arriscar em rotas mortais. Em vez de garantir uma passagem segura às pessoas que se deslocam, essas políticas estão matando pessoas”, reiterou Duccio Staderini.

Equipes de MSF em Malakasa ofereceram atendimento de saúde a sobreviventes do naufrágio. Foto: Avra Fialas/MSF

A equipe de MSF em Malakasa prestou assistência médica a 87 sobreviventes com queimaduras e ferimentos causados pela exposição à água do mar e ao sol, choque hipoglicêmico por falta de comida, assim como sofrimento psicológico e emocional por estarem expostos à ameaça de morte iminente, por não saberem se parentes e amigos a bordo do navio estão vivos ou mortos e por suas experiências na Líbia.

“Os sobreviventes contaram às nossas equipes que pediram ajuda, esperaram por horas e viram seus amigos se afogarem.”
– Elise Loyens, coordenadora médica de MSF.

“Eles [os sobreviventes] relataram os horrores que viveram na Líbia: torturas, espancamentos, dias e até semanas no deserto sem comida ou água. Um jovem sírio disse que desejou morrer todos os dias em que esteve na Líbia”, contou Loyens.

De acordo com sobreviventes, cerca de 300 pessoas do Paquistão estavam a bordo do navio – somente 12 sobreviveram, segundo confirmado até o momento. Havia também muitas crianças no convés inferior do barco, segundo relatos – somente oito foram encontradas vivas.

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Um sobrevivente descreveu a viagem e o naufrágio para a equipe de MSF: “Não bebi água por dois dias, mas chorei tanto que não senti sede. Quando o barco virou, me agarrei a uma grade de metal para salvar a minha vida. Eu podia ver as pessoas sendo jogadas ao redor, sendo esmagadas contra as partes do barco e sendo jogadas no mar”.

“Dia e noite, ainda ouço os gritos das pessoas e o som das suas gargantas a borbulhar com a água do mar e a sufocar enquanto se afogavam.” – Sobrevivente do naufrágio do dia 14 de junho na Grécia.

Os sobreviventes iniciam agora uma jornada de recuperação, enquanto tentam lidar com a tragédia e processar o trauma psicológico. Ao mesmo tempo, eles estão recebendo e tendo que responder mensagens de famílias angustiadas tentando descobrir o que aconteceu com seus entes queridos.

Embora o naufrágio de 14 de junho tenha sido o mais mortal no Mediterrâneo nos últimos anos, as equipes de MSF na Grécia são regularmente chamadas para fornecer assistência médica de emergência às pessoas que sobreviveram a travessias marítimas perigosas.

MSF reitera seu apelo à União Europeia e seus estados membros, incluindo a Grécia, para:

  •  Garantir uma investigação transparente e independente e utilizar todos os mecanismos de responsabilização para examinar este e outros naufrágios semelhantes ocorridos na Costa da Europa.
  •  Comprometer-se com uma mudança política fundamental que coloque o salvamento de vidas em primeiro lugar. Esse naufrágio precisa levar a uma reflexão sobre como a migração tem sido tratada nos últimos anos pela UE. Por muito tempo, a UE e seus Estados-membros implementaram políticas que permitem a morte e o sofrimento, em vez de garantir resgate e proteção.

 

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