Projetado para atender 20 mil pessoas, campo de refugiados sírios já conta com mais de 35 mil

Brasileiro fala sobre as condições de vida no campo de Domeez, no Iraque, onde Médicos Sem Fronteiras (MSF) oferece cuidados médicos e fornece serviços de água e saneamento

Nos últimos três meses, o administrador Luiz Otávio Guimarães esteve no Iraque, trabalhando como coordenador de logística nos projetos que a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) mantém no país. Um desses projetos é o campo de refugiados sírios de Domeez, onde Luiz Otávio trabalhou por um mês.

“Eu ficava baseado na cidade de Erbil (a 20 quilômetros do campo de refugiados), de onde coordenava a logística tantos nos projetos de controle de infecção em dois hospitais da região como no campo de refugiados de Domeez”, diz.  “Mas, em fevereiro, tive que passar um mês no campo de refugiados para contratar e treinar novas pessoas, já que estava havendo um aumento muito grande no número de refugiados, o que demandava ainda mais das nossas equipes.”

O campo, que foi projetado para atender 20 mil pessoas, hoje conta com mais de 35 mil refugiados. A cada dia cerca de 100 pessoas cruzam a fronteira da Síria com o Iraque para se refugiar em Domeez.
 
Luiz Otávio, que trabalha com MSF desde 1997 e já esteve em países como Malaui, Chade e República Democrática do Congo, entre outros, diz que o campo de Domeez foi uma das experiências mais fortes que teve na vida. “O que mais me chocou lá é que eram pessoas que um dia tinham casa, acesso à saúde e no outro, tinham perdido tudo por causa da guerra. Não tinham sequer um lugar para dormir ou uma coberta para se proteger do frio.”

Ele conta que era difícil voltar para o alojamento da organização, localizado na cidade de Dohuk. “Era difícil dormir coberto, sob um teto, sabendo que as pessoas no campo estavam em condições tão difíceis”, lembra.  

Uma das atividades de Luiz Otávio era distribuir kits de higiene e limpeza e água. “Numa situação como essa em que as pessoas estão precisando de muita coisa é necessário traçar uma estratégia muito bem definida para não haver confusão. Primeiro é preciso fazer uma boa avaliação para tentar levantar o número de pessoas no local, o que é um desafio porque todos os dias tem gente chegando. Depois, temos que fazer uma comunicação clara dos dias e locais onde serão feitas as distribuições. As pessoas têm que confiar que elas vão receber o que está sendo distribuído e, para isso acontecer, além de divulgar o esquema de distribuição é fundamental que a organização cumpra com todas as promessas feitas.”

Também era responsabilidade de Luiz Otávio garantir a drenagem dos dejetos das latrinas. “Como o campo foi crescendo muito rapidamente e era tudo improvisado, sem um sistema de saneamento capaz de suprir as necessidades locais, o risco de doenças é muito grande”, diz.

Superlotação e péssimas condições de vida no campo de Domeez, no Iraque, levaram a uma recente deterioração da saúde dos refugiados sírios. Devido ao aumento da lotação do campo, Médicos Sem Fronteiras dobrou o tamanho da equipe. Atualmente, estão sendo realizadas 3.500 consultas por semana e campanhas de vacinação emergenciais estão em curso, além disso, profissionais da organização percorrem as tendas dos refugiados fornecendo água potável limpa.

MSF é o principal provedor de saúde no campo de Domeez, onde trabalha desde maio de 2012. As equipes de MSF estão construindo 140 novas latrinas nas regiões mais negligenciadas do campo e planejam consertar latrinas e drenar água estagnada para prevenir surtos de doenças.

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