Quênia: MSF trabalha com sistema médico móvel e flexível

Devido à situação instável, Médicos Sem Fronteiras decidiu investir em unidades móveis para atender às vítimas da violência

Em Nairóbi, um dia após o anúncio dos resultados das eleições presidenciais, a violência tomou conta da comunidade de Mathare, onde vivem 40 mil pessoas. Ela se espalhou e aumentou à medida que os defensores e opositores do presidente Mwai Kibaki se enfrentavam, seguidos de confrontos entre as comunidades. No dia 30 de janeiro, a equipe de emergência levou nove pacientes feridos para a unidade emergencial de MSF em Mathare. Uma semana antes, a equipe havia tratado 19 pacientes em um único dia. Em um período de duas semanas, a equipe de MSF tratou 134 vítimas da violência na comunidade.

Ferimentos tornam-se cada vez mais sérios

Inicialmente, pacientes foram tratados na clínica Blue House em Mathare, onde MSF tem atendido indivíduos com HIV/Aids e tuberculose desde 2001. Para lidar com o fluxo de feridos, no dia 16 de janeiro, MSF abriu uma unidade emergencial em Huruma, comunidade vizinha a Mathare. Uma equipe de médicos e enfermeiros oferece primeiros socorros aos feridos. Seus ferimentos ilustram as formas que a violência está assumindo, resultado de protestos e confrontos com as forças de segurança e de confrontos violentos entre os civis, que se tornam mais perigosos a cada dia. Um jovem de 18 anos, por exemplo, foi baleado no braço quando a polícia perseguia 20 homens que haviam acabado de incendiar uma loja.

Ferimentos causados por facas e pedaços de pau

A equipe de MSF também está tratando pacientes que sofreram golpes de facão, facas e pedaços de pau, que provocam ferimentos sérios como fraturas e cortes profundos na cabeça, pernas e braços. Algumas das vítimas foram mutiladas. Após terem seu quadro clínico estabilizado, esses pacientes foram transferidos para o hospital de Nairóbi para serem operados ou para outros procedimentos julgados necessários. Fazem parte também das equipes conselheiros de saúde mental, cuja função é ouvir as experiências violentas pelas quais as vítimas passaram e, se necessário, pô-las em contato com seus familiares.

Focos múltiplos de violência

A violência, combinada com a disseminação de boatos, alimentou o medo das pessoas. A insegurança é igualmente palpável em todo o país. Bloqueios foram erguidos nas estradas, desaparecendo tão logo eram estabelecidos. Quando grupos de jovens armados com facas apareciam nas ruas, os moradores fugiam para acampamentos improvisados.

Em Naivasha, cidade 70 quilômetros a noroeste de Nairóbi, as tensões aumentaram nos dias 26 e 27 de janeiro. Quando uma equipe de MSF chegou no dia seguinte, havia 30 pessoas no hospital, vítimas de espancamentos e tiroteios.

Muitos funcionários do hospital não tiveram como ir trabalhar devido à insegurança. Uma equipe de Nairóbi – formada por um anestesiologista, enfermeira e médico – conseguiu chegar ao local. No mesmo dia, abastecidos com medicamentos e material médico, a equipe conseguiu tratar os pacientes, entre os quais dois indivíduos gravemente feridos com traumas cranianos e que foram transferidos imediatamente para o hospital de Nairóbi. No entanto, outros quatro pacientes em situação igualmente grave tiveram de esperar até o dia seguinte para serem transferidos em uma ambulância para Nairóbi.

Milhares de deslocados internos

A violência também obrigou milhares de moradores de Naivasha a fugir. Mais de três mil pessoas procuraram refúgio em uma prisão. Outras 1.500 foram para a delegacia de polícia. Nos dias que se seguiram, muitos moradores de Naivasha continuaram a aumentar o número de deslocados internos sob proteção da polícia. Uma nova equipe – formada por dois médicos, uma enfermeira e um logístico – viajou para Naivasha para ajudar a responder às necessidades. A equipe começou a realizar consultas médicas no acampamento de deslocados internos montado na prisão e assegurou que vários indivíduos com Aids e outras doenças crônicas continuassem a receber tratamento. A equipe também vai monitorar os acampamentos para garantir que eles tenham suprimentos de água necessários, bem como latrinas adequadas.

Mais a oeste, outra equipe baseada em Kericho visitou vários lugares, onde entre 500 e 2.500 deslocados internos foram buscar refúgio, para realizar consultas e vacinar as crianças contra sarampo e pólio, com a aprovação do Ministério da Saúde. A equipe de emergência, composta por 16 pessoas, vai ganhar reforço para continuar a responder de maneira apropriada à instável situação.

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