RDC: em Goma, MSF continua a receber vítimas e apela por acesso humanitário

Intensos conflitos tomaram o centro da cidade, causando pânico e impactos devastadores para a população civil

Pessoas chegando ao porto de Kituku, em Goma. Elas estão fugindo dos contínuos conflitos em Kivu do Norte e do Sul. 22 de janeiro de 2025. © Moses Sawasawa

Um grande fluxo de pessoas feridas pelos confrontos na República Democrática do Congo (RDC) continua chegando ao hospital Kyeshero, em Goma. As equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão atendendo os pacientes, mesmo com os conflitos armados e a insegurança que atingiram a cidade nos últimos dias.

A organização foi afetada por vários incidentes desde o início da semana, alguns dos quais limitaram a sua capacidade de fornecer às pessoas os cuidados médicos de que necessitam. Neste momento, MSF está se preparando para enviar mais profissionais para Goma, mas precisa que o acesso humanitário seja garantido por todas as partes envolvidas.

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Os combates entre o M23, o exército congolês e seus respectivos aliados chegaram ao centro de Goma no início desta semana, deixando a cidade em estado de pânico, com um impacto devastador sobre a população. Por vários dias, a região foi isolada do resto do mundo, e as vítimas dos conflitos continuam a chegar nas instalações médicas.

Instalações humanitárias e médicas não foram poupadas

“No hospital Kyeshero, uma bala perfurou o telhado da sala de cirurgia durante uma operação”, relata Virginie Napolitano, coordenadora de emergência de MSF em Kivu do Norte. “Vários de nossos equipamentos e medicamentos foram saqueados, comprometendo nossa assistência médica dentro e fora de Goma.”

“Saques realizados por homens armados também afetaram nossos colegas na cidade. Um deles foi ferido à bala em sua casa durante um ataque. Outras organizações e instalações médicas também foram atacadas. Não podemos aceitar que isso aconteça”, conclui Virginie.

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Apesar da situação, uma equipe de MSF continua trabalhando no hospital de Kyeshero, em apoio ao hospital de Ndosho, onde as equipes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) estão recebendo um fluxo ainda maior de feridos.

Desde quinta-feira (23/01), foram tratados 142 pacientes. Somente na terça-feira (28/01), MSF recebeu 37 pessoas feridas, a maioria mulheres. A maior parte das lesões foram causadas por estilhaços, outros pacientes sofreram ferimentos à bala.

Desde sexta-feira (24/01), a população teve que lidar com cortes contínuos de água e eletricidade. O fornecimento de refeições de MSF para os pacientes e suas famílias atualmente está ameaçado, pois a insegurança, o risco de saques e o fechamento de estradas estão impedindo nossas equipes de reabastecer os estoques de alimentos, que duram apenas de dois a três dias.

Impacto na população civil é enorme

A insegurança crescente e os combates intensos forçaram MSF a reduzir temporariamente o número de equipes ativas em Goma e nos acampamentos para pessoas deslocadas internamente nos arredores da cidade. Enquanto isso, as necessidades médicas e humanitárias na cidade e em seus arredores só irão aumentar.

Nas últimas semanas, dezenas de milhares de pessoas se juntaram às 650 mil pessoas que já viviam em acampamentos ao redor de Goma por mais de dois anos. Os combates também atingiram áreas ao redor dos acampamentos, fazendo com que as pessoas fugissem mais uma vez.

Pessoas chegam em Goma após fugirem dos confrontos armados em Kivu do Norte e do Sul. 26 de janeiro de 2025. © Jospin Mwisha

“O impacto deste conflito na população civil é enorme. Além dos feridos e mortos, estamos recebendo relatos devastadores de acampamentos de pessoas deslocadas internamente onde nossas equipes não podem mais ir”, alerta Stephan Goetghebuer, coordenador de projetos de MSF em Kivu do Norte.

“No local de pessoas deslocadas internamente de Kanyaruchinya, o centro de saúde que apoiamos continua em funcionamento, mas a equipe viu duas crianças morrerem esta semana porque não puderam ser transferidas para nenhum hospital”, completa Goetghebuer.

É preciso garantir o acesso humanitário à região

MSF está se preparando para enviar equipes de volta a Goma para avaliar qual resposta pode ser fornecida e qual a melhor forma de aumentar suas atividades, após o saque dos últimos dias. A organização quer repor seus estoques e ampliar o atendimento de emergência o mais rápido possível.

Uma maneira possível de mover novas equipes e equipamentos para Goma seria através da Grande Barreira, que separa a RDC de Ruanda. Isso requer facilitação e garantias das partes envolvidas.

À medida que a situação continua a se deteriorar, MSF apela às partes em conflito para que façam mais para proteger os civis. Elas também devem respeitar as regras mais básicas do direito humanitário internacional e garantir o acesso humanitário, para que a assistência médica essencial possa ser fornecida às pessoas.

As equipes de MSF ainda estão presentes em outras áreas afetadas pelo conflito nas províncias do Kivu do Norte e do Sul.

 

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