“Ser obstetriz é o melhor trabalho que posso imaginar”

Em Histórias de MSF, a obstetriz Martha Abuk, do Sudão do Sul, faz relato sobre o que a motiva na profissão e sobre sua experiência na maternidade do hospital de Aweil

A sul-sudanesa Martha Abuk Jacob, atua como obstetriz de MSF em Aweil desde 2016. © Peter Bräunig

Quando uma mãe sorri para seu recém-nascido pela primeira vez, Martha Abuk Jacob fica feliz. Primeiro, por tudo ter corrido bem, depois, porque ela pôde ajudar como obstetriz – dois aspectos que ela nunca considera garantidos.

Abaixo, confira o relato da profissional:

“Ser obstetriz é o melhor trabalho que posso imaginar, todos os dias desde que comecei meu treinamento, há 10 anos. Foi um dos momentos mais tristes de minha vida que me levou a seguir esse caminho. Eu tinha 8 anos de idade quando minha mãe entrou em trabalho de parto. Naquela época, meu país natal, o Sudão do Sul, estava lutando para se tornar independente do Sudão. Era muito perigoso ir ao hospital. Após o parto, minha mãe começou a sangrar muito e morreu pouco depois de dar à luz minha irmã mais nova. A dor e o luto fizeram com que eu quisesse me tornar obstetriz, pois queria fazer tudo o que pudesse para salvar outras famílias de uma experiência tão terrível.

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Mas meu caminho até lá não foi fácil. Eu engravidei aos 16 anos de idade. Criei meu filho sozinha na casa do meu pai, que fez tudo o que pôde para garantir que eu conseguisse concluir meus estudos, embora as taxas escolares fossem um fardo enorme. Então, o governo do Sudão do Sul lançou um treinamento gratuito de três anos para obstetrizes com o objetivo de reduzir a alta taxa de mortalidade materna no país. Isso foi um grande golpe de sorte para mim. Eu me inscrevi e consegui uma vaga, e de fato consegui me tornar obstetriz.

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Trabalho para Médicos Sem Fronteiras (MSF) no hospital de Aweil, no norte do país, desde 2016. Quando começo meu turno no início da manhã, posso ver de longe dezenas de mulheres na praça em frente à nossa maternidade. Todas elas estão em estágio de gravidez avançado. Algumas estão andando de um lado para o outro porque as contrações já começaram.

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Nosso hospital oferece o único atendimento gratuito em toda a região, para mais de um milhão de pessoas. Fico feliz com cada mulher que chega até nós, apesar das longas distâncias, e consegue dar à luz com segurança em nosso hospital. O fato de podermos operar imediatamente em caso de emergência, infelizmente, não é algo comum no meu país. As poucas clínicas existentes geralmente não têm eletricidade, salas de cirurgia, medicamentos e equipamentos de ultrassom. Muitas mulheres e seus bebês morrem.

A obstetriz Martha Abuk Jacob durante parto na maternidade de MSF no hospital estadual de Aweil. © Oliver Barth/MSF

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Toda mulher no Sudão do Sul provavelmente está ciente dos grandes riscos da gravidez e do parto. Portanto, fiquei muito aliviada por ter dado à luz três meus quatro filhos em nossa maternidade em Aweil. Eu sabia que lá receberia a melhor assistência médica possível. Sinto que todas as mulheres que apoio com meu trabalho em nosso hospital têm a mesma gratidão. Ainda tenho outra meta de carreira em mente: quero estudar medicina e me tornar ginecologista. Já comecei a economizar dinheiro para isso e também me candidatei a uma bolsa de estudos. Tenho certeza de que realizarei esse sonho profissional também.”

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