Simplificando o autoteste de HIV em Eswatini

Ferramenta digital auxilia pacientes com informações e orientações para pré e pós- testes

Foto: Makhosazana Xaba

O Eswatini tem uma das maiores incidências de HIV do mundo. As equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) introduziram o autoteste para identificar a presença do vírus em 2016. Isso foi feito com o objetivo de empoderar as pessoas, na medida em que eles podem fazer o teste onde queiram, de acordo com sua conveniência. O kit de autoteste é uma ferramenta que permite à pessoa testar para o HIV e, em seguida, ir a uma unidade de saúde para confirmar seu status. Isso é empoderador, pois a própria pessoa está no controle de sua experiência de testagem.

No começo da iniciativa de autoteste de HIV, tanto as populações urbanas como as rurais foram orientadas com informações ao receberem os kits de autoteste. Todos e todas tiveram a opção de fazer o teste sem assistência ou com aconselhamento no local.

Isso foi feito com a integração de sessões educacionais de conscientização, que visavam incentivar a busca por cuidados de saúde, explicando a eficácia dos kits de autoteste. Para aqueles que optaram pelo teste domiciliar sem assistência, foram realizadas consultas de acompanhamento para confirmar os resultados e oferecer encaminhamentos para tratamento e cuidados, conforme necessário.

As pessoas que haviam testado negativo para o HIV foram encaminhadas para o recebimento de informações e acesso a outras medidas preventivas, como preservativos e a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP)*. As pessoas que tiveram resultado positivo para o HIV foram encaminhadas ao hospital mais próximo para o teste confirmatório e para dar início à terapia antirretroviral (TARV).

O feedback da comunidade revelou que algumas pessoas preferiram autorreferências, o que significa que se encaminhariam para sua unidade de saúde de escolha quando precisassem de tratamentos e cuidados. No entanto, isso comprometeu a qualidade do aconselhamento pós-teste e o intervalo de tempo até que os serviços relevantes pudessem ser acessados.

• Leia também: Sete perguntas e respostas sobre o HIV/Aids

Ferramenta digital para apoiar o autoteste

Percebendo a necessidade de reduzir o contato com profissionais de saúde durante o teste de HIV, mas ainda assim buscando oferecer uma experiência excepcional de autoteste, em outubro de 2022, MSF adaptou a “Pocket Clinic” (“Clínica de Bolso”, em tradução livre), uma abordagem digital para a testagem de HIV.

Esta ferramenta inovadora se centra nas necessidades das pessoas, pois oferece aconselhamento pré e pós-teste digitalmente, por meio da utilização de um tablet. As pessoas são guiadas ao longo da jornada de autoteste do HIV enquanto assistem a vídeos autoexplicativos com orientações sobre o que é o HIV, por que o teste para HIV é importante e o que acontece depois do resultado, seja ele negativo ou positivo.

Como parte de sua primeira fase, a “Pocket Clinic” atualmente é oferecida no local de testagem e pode ser igualmente eficaz de forma online e offline.

“Antes da ‘Pocket Clinic’, não éramos capazes de realmente ajudar as pessoas que tivessem pego o kit de autoteste de HIV. A clínica nos permite encaminhar de forma efetiva e oferecer o suporte necessário após o teste. Além disso, uma pessoa teria que esperar até que terminássemos um atendimento para ser atendida; com a ‘Pocket Clinic’, sou capaz de atender mais de uma pessoa por vez. Tudo o que tenho que fazer é registrar e monitorar. Todo o mais, todos são capazes de fazer de forma independente”, diz Ivy Nxumalo, conselheira de MSF em Shiselweni, Eswatini.

Considerando ser a proximidade com as pessoas que assiste um dos valores prezados por MSF, a “Pocket Clinic” está disponível em ambientes urbanos e rurais. Para oferecer o suporte ideal para pessoas vivendo em comunidades rurais, a clínica é móvel e pode ser acessada por moradores de vários locais em dias diferentes. Caso seja necessário, as comunidades podem entrar em contato com as equipes de MSF para solicitar serviços durante as campanhas comunitárias.

Atualmente, a “Pocket Clinic” atende cerca de nove pessoas por dia e aproximadamente 135 utilizaram o serviço no primeiro mês.

“O que eu mais gosto na ‘Pocket Clinic’ é que eu consigo fazer as coisas com privacidade sem a sensação de pressa. Além disso, se eu não entender qualquer informação, me sinto livre para voltar o vídeo, enquanto que, se estou em um hospital, sempre presto atenção para não desperdiçar o tempo da enfermeira quando peço para esclarecer certas informações. Sim, muito tem sido dito sobre a testagem para HIV, mas o conceito de ‘Pocket Clinic’ prioriza os benefícios de se obter informações mais corretas, pois sou um aprendiz visual e, portanto, prefiro orientação visual do que ouvir um profissional de saúde. Estou feliz com o atendimento”, diz Khosi, que acessou a “Pocket Clinic”.

A “Pocket Clinic” se soma a algumas iniciativas digitais já implementadas nos projetos de MSF em Eswatini, o que garante a oferta de serviços melhores e mais fáceis para as pessoas atendidas.

*Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) – uma pílula de uma vez ao dia indicada para indivíduos HIV negativos que avaliam estar expostos a um maior risco de adquirir a infecção, a fim de preveni-la.

Compartilhar