Sírios sofrem com cortes de financiamento, apesar das graves necessidades médicas

MSF pede aumento urgente do apoio financeiro para o sistema de saúde da Síria, afetado por anos de conflitos e pelos terremotos de 2023.

Consulta com médica de MSF no centro de saúde geral de Mashhad Rohin, em Idlib. Noroeste da Síria, dezembro de 2023. © Abdulrahman Sadeq/MSF

O apoio financeiro internacional ao sistema de saúde no norte da Síria está em declínio. As necessidades médicas na região excedem em muito os serviços médicos disponíveis, com a população síria suportando o maior fardo por causa do apoio limitado e do fechamento de hospitais e instalações de saúde.

No entanto, essa situação terrível está sendo tratada com novos cortes de financiamento. Médicos Sem Fronteiras (MSF) pede à comunidade de doadores que participa da conferência de Bruxelas nesta segunda-feira, 27 de maio, que priorize o apoio financeiro ao setor de saúde sírio.

Após anos de conflitos, milhões de pessoas no norte da Síria estão enfrentando desafios ainda maiores para acessar cuidados de saúde, com o declínio do apoio financeiro internacional ao sistema de saúde sírio, alerta MSF.

Médica de MSF verifica a temperatura de um bebê no centro de saúde geral Hayr Jamous, apoiado por MSF, perto da cidade de Salqin, na província de Idlib. Noroeste da Síria, dezembro de 2023. © Abdulrahman Sadeq/MSF

Quase um terço das unidades de saúde das províncias de Idlib e Alepo, no norte do país, fecharam ou suspenderam parcialmente as atividades devido à falta de financiamento, deixando 1,5 milhão de pessoas sem acesso a cuidados de saúde de emergência essenciais. De acordo com as autoridades locais, 112 unidades de saúde estão em risco de fechamento até o final de junho. MSF pede que doadores e governos internacionais aumentem imediatamente seu apoio financeiro ao sistema de saúde no norte da Síria.

Diante da reunião de doadores internacionais e estados doadores em Bruxelas em 27 de maio, a situação na Síria é terrível. Em 2024, o financiamento total necessário para responder às necessidades humanitárias na Síria é de 4,07 bilhões de dólares. No entanto, apenas 6%, ou 326 milhões de dólares, foram financiados por meio do Plano de Resposta Humanitária. Os doadores internacionais e os estados doadores devem alocar fundos suficientes para os cuidados de saúde, pois a situação está se tornando mais difícil para as pessoas. Isso inclui menos instalações de saúde em funcionamento, superlotação das que estão funcionando, escassez de medicamentos e falta de profissionais.

“O povo sírio está arcando com o maior fardo do déficit financeiro, porque os hospitais não estão sendo financiados”, constata Carlos Arias, coordenador médico de MSF para o noroeste da Síria. “Por causa disso, quando as pessoas procuram cuidados de saúde, encontram hospitais fechados ou não há médicos ou medicamentos. Se elas encontrarem um médico, são solicitadas a comprar remédios em farmácias privadas, o que é inacessível.”

Tenho 68 anos e tenho diabetes. O fechamento de hospitais será uma sentença de morte para pessoas como eu.”
– Salim Mohammed, deslocado internamente no noroeste da Síria.

O déficit de financiamento e o impacto no sistema de saúde podem levar à deterioração das condições de saúde a longo prazo, ao aumento de surtos de doenças e ao comprometimento da qualidade de vida das pessoas. Grupos como crianças e mulheres grávidas podem ser particularmente afetados, por exemplo, se houver falta de campanhas de vacinação. Isso ocorre no momento em que a região já está se recuperando da destruição causada pelo terremoto de fevereiro de 2023 e pelo conflito, que já dura mais de 13 anos.
As pessoas estão enfrentando uma crescente escassez de água, levando-as a serem mais dependentes de caminhões de água. No entanto, esse meio é prejudicado por fontes de abastecimento instáveis e altos custos de combustível. Como resultado, a falta de água força as pessoas a adotar mecanismos negativos de enfrentamento, como reduzir o consumo ou usar água potável insegura.

MSF cobre uma proporção limitada de necessidades no fornecimento de assistência médica e humanitária crítica às comunidades nas províncias de Idlib e Aleppo. Nossas equipes co-gerenciaram ou apoiaram seis hospitais. Em 2023, fornecemos mais de 1 milhão de consultas ambulatoriais e mais de 150 mil consultas para doenças não transmissíveis. Nossas equipes deram assistência a mais de 20 mil partos e forneceram mais de 25 mil consultas individuais de saúde mental.

“Expressamos nossas preocupações em muitas ocasiões de que a deterioração da situação de saúde na Síria não possa ser resolvida com novos cortes de financiamento”, defende Thierry Goffeau, coordenador-geral de MSF para o noroeste da Síria. “Nossas equipes e parceiros estão testemunhando o impacto direto e grave por causa da falta de financiamento para os pacientes.”

Médica de MSF afere a pressão arterial de um paciente no centro de saúde geral de Mashhad Rohin, apoiado por MSF, na província de Idlib. Noroeste da Síria, dezembro de 2023. © Abdulrahman Sadeq/MSF

“Tivemos que deixar nossas casas por causa da guerra e vir para o noroeste da Síria. Desde que chegamos aqui, tem sido muito difícil obter cuidados médicos, porque os hospitais que estavam funcionando agora pararam”, conta Salim Mohammed, que está deslocado internamente no noroeste da Síria. “Tenho 68 anos e tenho diabetes. O fechamento de hospitais será uma sentença de morte para pessoas como eu.”

Nos últimos meses, 77 unidades de saúde no noroeste da Síria foram forçadas a suspender as atividades devido à falta de financiamento. Esse número inclui 17 hospitais, nove dos quais destinados a mulheres e crianças.

“MSF recebeu pedidos para apoiar diretamente pelo menos seis hospitais e cinco centros básicos de saúde, entre os quais três deles são críticos no cenário médico do noroeste da Síria”, diz Karim El-Rawy, coordenador de projeto de MSF em Idlib. “Embora MSF dependa de nossos próprios fundos, muitas outras ONGs são subsidiadas por financiamento público e seu trabalho é prejudicado pelos cortes.”

Para melhorar o acesso às instalações de saúde para as pessoas no noroeste da Síria, é essencial garantir o financiamento adequado. Isso permitirá a reabilitação de estruturas de saúde danificadas pelos terremotos e garantirá a provisão de recursos para que as instalações se tornem operacionais e ofereçam, no mínimo, o mesmo nível de serviços que estava disponível antes do terremoto. A disparidade entre o aumento das necessidades e o encolhimento dos fundos é contraditória e inaceitável.

No noroeste da Síria, MSF se concentra no fornecimento de assistência médico-humanitária crítica às comunidades nas províncias de Idlib e Aleppo. Nossas equipas co-geriram ou apoiaram seis hospitais, oferecendo uma gama abrangente de serviços especializados, incluindo cuidados maternos e pediátricos, vacinas, cirurgia, apoio de saúde mental e tratamento para doenças crônicas e de pele, bem como promoção da saúde. Além disso, mantemos uma unidade de queimados, onde nossa abordagem multidisciplinar inclui cirurgia, serviços de saúde mental, fisioterapia e cuidados paliativos. MSF também administra ou apoia 12 centros gerais de saúde, com ênfase particular na saúde sexual e reprodutiva e na promoção da saúde comunitária.

Implementamos 11 clínicas móveis em toda a região, oferecendo serviços médicos essenciais para pessoas deslocadas em áreas remotas e inacessíveis. Nossas outras atividades de alcance das comunidades incluem o gerenciamento de duas clínicas para doenças não transmissíveis, facilitando o encaminhamento de pacientes por meio de ambulâncias e fornecendo serviços cruciais de água, saneamento e higiene em mais de 100 acampamentos.

 

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