Situação de refugiados malineses piora

Já são mais de 300 mil pessoas buscando abrigo em países onde o acesso a água potável, abrigo e alimento é escasso

Uma crise política tem dividido o Mali desde o final de janeiro. Muitas pessoas estão saindo de regiões no norte do Mali; refugiados e deslocados internos têm se escondido no mato ou fugido em massa para Burkina Faso, Níger e Mauritânia. É comum que encontrem abrigo em locais já habitados – muitos dos quais prejudicados pela insegurança alimentar na região. Médicos Sem Fronteiras (MSF) está respondendo às crescentes necessidades humanitárias na região, providenciando assistência tanto aos refugiados quanto às populações locais.

O medo do fogo cruzado, a insegurança e a crise alimentar motivaram mais de 300 mil malineses a deixar seu país rumo às nações vizinhas. “Muitos estão aterrorizados e prontos para deixar tudo para trás na tentativa de escapar da violência”, disse Marie-Christine Férir, coordenadora de emergência de MSF. Os refugiados, que vêm principalmente de Timbuktu, Gao, Ségou e Mopti, estão se instalando em comunidades e acampamentos nos quais o fornecimento de água, abrigo e comida é extremamente limitado.

Cuidando da saúde básica
Para atender às necessidades das populações vulneráveis, MSF está dando apoio a centros de saúde em Burkina Faso (Gandafabou e Férrerio), na Mauritânia (Fassala, Mbéra e Baaikounou) e no Níger (Chinagodar, Bani Bangou e Yassan). Semanalmente, MSF trata pessoas nos campos de Burkina Faso (Dibissi, Ngatoutou-Niénié, Déou) e do Níger (Ayorou, Maigaïzé, Bani Bangou, Abala, Gaoudel e Nbeidou) por meio de suas clínicas móveis. Desde fevereiro, as equipes médicas de MSF realizaram mais de 23 mil consultas na região fronteiriça do Mali. “Estamos tratando basicamente infecções respiratórias, malária e diarreia. Tais problemas estão geralmente ligados às más condições em que vivem os refugiados”, diz Marie-Christine. As equipes de MSF estão também tratando um grande número de mulheres que precisam de cuidados obstétricos. Cem mulheres deram à luz no posto de saúde de MSF no acampamento de Mbéra, na Mauritânia.

Água: um recurso raro e precioso
Os refugiados não têm acesso suficiente à água potável, principalmente nas áreas desertas da Mauritânia. A água é um insumo essencial para evitar doenças e outros problemas de saúde relacionados à higiene. No campo de Bani Bangou, caminhões de MSF estão providenciando alguns reservatórios, somando cerca de 200 m3 de água clorada por semana. “Com temperaturas chegando a 50 graus, temos de assegurar que os refugiados e, principalmente, crianças pequenas e idosos, bebam água suficiente”, diz Marie-Christine. Migrações como essa são ainda mais alarmantes, considerando que a região já sofre com a seca e a insegurança alimentar.

Tratando e prevenindo a desnutrição
Os refugiados são totalmente dependentes de ajuda humanitária para recursos básicos, como a distribuição de alimentos, mas as mães não recebem leite nem alimentos apropriados para alimentar seus filhos. “O arroz pode aliviar a fome, mas não substitui os nutrientes necessários para as crianças. A distribuição de alimentos com proteínas, gorduras, vitaminas, carboidratos e minerais é essencial para o crescimento e o desenvolvimento da criança”, diz Marie-Christine. Na Mauritânia, refugiados contaram a MSF que tiveram de deixar o Mali por conta da falta de comida. Desde o início da resposta à emergência, MSF tratou quase mil crianças severamente desnutridas nesses três países.

Enfrentando epidemias
Proteger as crianças do sarampo é outra prioridade de saúde nos acampamentos onde MSF está atuando. Nesses locais, onde as pessoas vivem em meio à desordem e as crianças sofrem de desnutrição crônica, uma epidemia de sarampo pode ser devastadora. MSF vacinou mais de 10 mil crianças desde março com a ajuda de autoridades da área da saúde. Casos de cólera têm sido registrados em Namarigoungou e Bonfeba, no Níger. MSF e o Ministério da Saúde trataram cerca de 600 pacientes com cólera desde o início de maio. Outra equipe de MSF está na fase final de preparação de dois centros de tratamento de cólera com 60 leitos cada.

A vulnerabilidade dos refugiados e a proximidade da estação chuvosa vão elevar o risco de epidemias como malária e cólera. Além disso, o tradicional período de fome, que tem início no mês de julho, sempre vem acompanhado de um pico de desnutrição. No tratamento dessas pessoas vulneráveis, os refugiados terão de enfrentar o duplo fardo composto por desnutrição e malária.

Na região de Sikasso, no Mali, equipes de MSF estão conduzindo também atividades pediátricas e nutricionais em cinco centros de saúde e no hospital de Koutiala. Além de atividades curativas, MSF está trabalhando na prevenção das principais doenças infantis. No norte, MSF está trabalhando no hospital de Timbuktu oferecendo ajuda para as cidades de Timbuktu, Kidal e Mopti.

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