Sudão: MSF deixa legado duradouro de um hospital para a comunidade no estado do Nilo Branco

Projeto de assistência a refugiados sul-sudaneses e comunidades anfitriãs iniciado em 2014, incluindo um hospital com 100 leitos, foi transferido às autoridades locais em dezembro de 2021.

Foto por: Igor Barbero/MSF
Foto por: Igor Barbero/MSF

Desde 2013, o estado do Nilo Branco, no Sudão, recebeu dezenas de milhares de refugiados que fugiam do conflito no estado do Alto Nilo, no Sudão do Sul. Nos últimos anos, Médicos Sem Fronteiras (MSF) forneceu assistência médica aos refugiados e às comunidades locais. Em dezembro de 2021, as equipes de MSF transferiram suas atividades médicas no estado do Nilo Branco, incluindo o hospital Al-Kashafa, ao Ministério da Saúde do Sudão.

Logo após cerca de 30 mil refugiados sul-sudaneses chegarem ao estado do Nilo Branco, em 2013, MSF lançou uma resposta de emergência em 2014, fornecendo assistência médica geral e água potável para os refugiados e construindo latrinas em um acampamento conhecido como Kilo 10.

À medida que mais pessoas fugiam pela fronteira do Sudão do Sul, mais campos foram estabelecidos na região. MSF expandiu sua assistência às comunidades de refugiados e anfitriãs administrando clínicas de assistência médica geral e vacinando dezenas de milhares de crianças contra o sarampo e outras doenças. As equipes realizaram atividades de promoção da saúde enquanto os engenheiros de MSF forneceram água potável e construíram latrinas.

Foto por: Igor Barbero/MSF

Hospital com 100 leitos inaugurados em 2019

Em 2016, MSF e o Ministério da Saúde modernizaram uma unidade de saúde no campo de Al-Kashafa para se tornar um hospital e, em 2019, abriram um hospital recém-construído com 100 leitos no acampamento. Seus serviços incluem cuidados de saúde gerais e especializados, tratamento para desnutrição, serviços de maternidade e tratamento de pessoas com doenças crônicas infecciosas, como HIV e tuberculose (TB). Hoje, os pacientes chegam ao hospital dos vilarejos vizinhos e de nove acampamentos para refugiados sul-sudaneses na área.

“As pessoas permanecem em suas casas, elas não podem ganhar dinheiro. Como resultado, as crianças contraem muitas doenças. Isso significa que nosso centro de alimentação terapêutica para pacientes internados fica cheio de crianças. Recebemos de 45 a 50 por semana e até 150 crianças por mês. Isso pode dificultar as coisas. Fico triste quando um bebê sofre muito, mas fico muito feliz quando um bebê que foi encaminhado a mim melhora e volta para casa em boas condições físicas”, explica Zakina Adam Ali, supervisora de nutrição de MSF.

Antes, a comunidade local tinha pouco acesso a cuidados médicos. O hospital Al-Kashafa de MSF se tornou o principal hospital de referência para refugiados e comunidades anfitriãs que vivem nas localidades de Al-Salam e Al-Jebelin, no estado do Nilo Branco.

Foto por: Musab Sahnon/MSF

Atualmente, o local atende a maioria dos cerca de 270 mil refugiados sul-sudaneses que vivem no estado do Nilo Branco, segundo o  Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), e cerca de 450 mil pessoas das comunidades locais, que correspondem a quase metade das consultas, a maioria delas da localidade de El-Salam, que fica mais perto do hospital.

“Meus filhos, Daoud, Al Hadi e Hammouda nasceram antes da abertura do hospital de MSF”, diz Zahra, que é de um vilarejo próximo. “Estou grávida de novo e meu futuro filho, que vamos chamar de Ahmed, vai nascer aqui no hospital. Sofríamos antes sem o hospital de MSF, mas agora podemos ter cuidados contínuos, desde o primeiro dia da gravidez até o nascimento do bebê. Os médicos monitoram sua condição com muito cuidado. Eles fazem check-ups regulares e, se você tiver uma deficiência no sangue, eles dão remédios para combatê-la”.

Resultados alcançados

Desde o início dos projetos, as equipes de MSF forneceram aproximadamente 500 mil consultas ambulatoriais e internaram mais de 20 mil pessoas para tratamento no hospital. Mais de 8 mil crianças com desnutrição com menos de cinco anos receberam tratamento no centro de alimentação terapêutica da instalação, e quase 5 mil mulheres deram à luz na maternidade. Profissionais de MSF vacinaram mais de 25 mil crianças para protegê-las contra doenças comuns da infância. A equipe de saúde mental de MSF forneceu mais de 6 mil consultas de saúde mental, e os promotores de saúde realizaram mais de 10 mil sessões de promoção da saúde.

“O maior sucesso em Al-Kashafa foi a construção do novo hospital, o que levou a uma melhor assistência a pacientes internados e ambulatoriais”, diz o coordenador do projeto de MSF Kennedy Olela, que trabalhou pela primeira vez para a organização em Al-Kashafa entre 2016 e 2017.

Foto por: Igor Barbero/MSF
Foto por: Igor Barbero/MSF

“Em 2016 e 2017, começamos a receber cada vez mais pacientes, e o espaço e os serviços foram se ampliando cada vez mais”, diz Olela. “Voltei em 2020 e fiquei orgulhoso de ver as mudanças na prestação de cuidados médicos no hospital com seus altos padrões de higiene. Somos capazes de oferecer qualidade de atendimento aos pacientes sem nos preocuparmos com as condições climáticas, que podem impactar na prevenção e no controle de infecções. O padrão de atendimento melhorou significativamente, e mais pacientes podem acessar cuidados confortáveis em um ambiente muito bom”.

Transferência de atividades

Em dezembro de 2021, as equipes de MSF transferiram suas atividades médicas no estado do Nilo Branco, incluindo o hospital Al-Kashafa, ao Ministério da Saúde do Sudão. “Conseguimos salvar muitas vidas e fornecer assistência médica para refugiados e comunidades anfitriãs. Reduzimos a carga de doenças e melhoramos o acesso das pessoas a cuidados médicos de qualidade no estado do Nilo Branco. Foi uma conquista conjunta, trabalhando lado a lado com o Ministério da Saúde, a Comissão de Refugiados, a Comissão de Assuntos Humanitários e outros parceiros para um objetivo comum de responder a emergências médicas e humanitárias”, disse Claudia Stephan, representante de MSF no Sudão, na cerimônia de transferência do projeto em 15 de dezembro.

Foto por: Musab Sahnon/MSF
Foto por: Musab Sahnon/MSF

Embora MSF esteja encerrando seu apoio médico na área, os serviços continuarão graças às autoridades de saúde sudanesas e outros parceiros nacionais e internacionais.

“Nossas equipes permanecem comprometidas em continuar fornecendo assistência essencial e vital à população sudanesa”, disse Stephan. “Nós nos adaptamos continuamente para atender às necessidades humanitárias e de saúde mais agudas de maneira imparcial e da melhor forma possível. Estamos confiantes de que nossos parceiros garantirão a continuidade deste projeto de sucesso e alocarão os recursos e a equipe de saúde necessários”.

Como uma organização médica de emergência, as ações de MSF são guiadas pela ética médica e pelos princípios de neutralidade, independência e imparcialidade. A assistência é oferecida com base em necessidades médicas, independentemente de raça, religião, gênero ou filiação política.

MSF trabalha no Sudão desde 1978 e hoje executa projetos em Cartum, Gedaref, Nilo Azul, Darfur Oriental, Darfur Central, Darfur Ocidental, Darfur do Sul e Kassala, com equipes de emergência lançando respostas em outras áreas conforme necessário.

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