Sudão: MSF suspende apoio ao Hospital Turco após mais de um ano de incidentes violentos

Equipe da organização foi assediada várias vezes dentro e fora do Hospital Turco, em Cartum, incluindo ameaças contra suas vidas

Hospital Turco, no Sudão. © MSF

Após mais de um ano de incidentes violentos dentro e fora do Hospital Turco, apoiado por Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Cartum, no Sudão, a organização tomou a decisão de evacuar sua equipe da instalação. Os incidentes incluíram ameaças contra a vida dos nossos profissionais. Essa decisão não foi tomada de forma fácil. Por quase 14 meses, MSF conseguiu fornecer tratamento contínuo na instalação, apesar de muitas obstruções, muitas vezes deliberadas, das partes em conflito. No entanto, como resultado de eventos recentes, esse trabalho agora não é mais possível.

“A situação no Hospital Turco, localizado em uma área controlada pelas Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), tornou-se insustentável. Vários incidentes violentos ocorreram dentro e fora das instalações nos últimos 12 meses, e as vidas dos profissionais de nossa equipe foram repetidamente ameaçadas”, explica Claire Nicolet, coordenadora-geral da resposta de emergência de MSF no Sudão.

Hospitais e instalações de saúde devem ser protegidos e respeitados pelas partes em conflito como santuários.”

Claire Nicolet, coordenadora-geral da resposta de emergência de MSF no Sudão

“A equipe está física e mentalmente exausta. Devido ao bloqueio imposto pelas autoridades sudanesas desde setembro – proibindo o transporte de suprimentos médicos e pessoal humanitário para áreas controladas pela RSF – a equipe do Hospital Turco tem trabalhado sem descanso nos últimos 10 meses”, explica Nicolet. “O bloqueio significa que não foi possível para nós trazer uma nova equipe para substituí-los, e eles têm trabalhado incansavelmente para manter o hospital aberto sob intensa pressão.”

Cirurgias serão interrompidas

O Hospital Turco permanece aberto graças à presença da equipe do Ministério da Saúde do Sudão. No entanto, sem a presença da equipe de MSF, cirurgias não serão realizadas e o futuro do hospital é incerto. Desde o início da guerra no Sudão, o Hospital Turco tem sido uma parte crucial do sistema de saúde, atendendo pacientes não apenas de Cartum, capital do país, mas também de lugares tão distantes como Wad Madani, no estado de Al Jazirah, onde MSF também foi forçada a suspender suas operações em maio de 2024, por causa dos repetidos incidentes de segurança e obstruções para trazer equipes e suprimentos, situação semelhante à de Cartum.

Antes de MSF estabelecer uma sala de emergência e expandir a capacidade do centro cirúrgico no Hospital Turco, em meados de maio de 2023, a instalação era especializada no atendimento de mulheres e crianças. Quase 80% de todos os procedimentos cirúrgicos no hospital no ano passado foram cesarianas que salvaram a vida de mulheres que sofreram complicações durante a gravidez e o parto.

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Como resultado desses repetidos incidentes de segurança, todas as cirurgias no hospital foram interrompidas. MSF também forneceu cuidados pré-natais, cuidados pós-natais, planejamento familiar, administrou a unidade de terapia intensiva pediátrica, o centro de nutrição terapêutica hospitalar para crianças com desnutrição aguda grave e a unidade neonatal – a única de toda Cartum. O apoio de MSF a essas atividades também foi suspenso.

O Hospital Universitário Bashair, em Cartum, também apoiado por MSF, enfrentou várias incursões armadas nos últimos meses e, entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, a organização foi forçada a suspender as atividades cirúrgicas na instalação. MSF continua trabalhando neste hospital, apesar desses incidentes. A situação de segurança em geral deteriorou-se significativamente, especialmente em Cartum.

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MSF apela às partes em conflito para que civis e infraestruturas civis sejam protegidos – incluindo hospitais e outras estruturas de saúde. Para que as instalações médicas possam permanecer operacionais, é vital que os suprimentos médicos e os trabalhadores humanitários recebam as autorizações necessárias para poderem se deslocar pelas linhas de frente do conflito. Devido ao bloqueio em curso imposto às organizações humanitárias pelas autoridades sudanesas, muitas instalações estão lutando para permanecer abertas. A vidas e a saúde de milhões de pessoas em Cartum e outras partes do país estão em risco.

 

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