Terremoto na Síria: “Há muitos mortos e feridos nos hospitais”

MSF está enviando suprimentos e profissionais para hospitais no Noroeste do país.

Foto: Abdul Majeed Al Qareh

De acordo com as últimas estimativas, os terremotos que atingiram a Turquia e a Síria causaram mais de 35 mil mortes. No noroeste da Síria, as equipes de MSF implementaram um plano de emergência desde o dia 6 de fevereiro, quando os tremores começaram. O objetivo é apoiar hospitais e fornecer assistência médica e itens essenciais às pessoas afetadas, mobilizando grande parte dos 500 profissionais da organização no país.

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O hospital MSF de Atmeh, que é especializado no atendimento de queimaduras graves, realizou numerosas doações de equipamentos médicos e não médicos e, com o apoio de cirurgiões, levou reforços a vários hospitais da região . Além disso, numerosas doações foram feitas a partir de projetos locais de MSF para 30 hospitais da região.

“Em 6 de fevereiro, entendemos rapidamente que estávamos diante de uma situação catastrófica. A destruição foi enorme na região, lançamos nosso plano de emergência menos de 3 horas após o primeiro terremoto e colocamos nosso pessoal em alerta.”
– Mohammad Darwish, vice-diretor do hospital MSF Atmeh.

As equipes em Atmeh enviaram equipamentos médicos para cerca de dez hospitais da região, para Bab al-Hawa, Darat Izza, Idlib e Atarib. “Todos os hospitais estavam sobrecarregados, inclusive o nosso”, explica Dr. Samih Kaddour, diretor do hospital de Aqrabat, especializado em cirurgia ortopédica e reconstrutiva.

“As equipes de MSF foram as primeiras a nos ajudar e a compartilhar seus recursos. Elas nos forneceram materiais, incluindo a fabricação de moldes e esterilizantes para ferimentos. Admitimos 800 pessoas na sala de emergência, dentre as quais 250 necessitavam de tratamento cirúrgico. Até 11 de fevereiro, os feridos continuaram a chegar. Desde então, infelizmente, o período de tempo para salvamento de emergência acabou”, disse Samih.

Dr. Samih Kaddour, diretor do hospital de Aqrabat, especializado em cirurgia ortopédica e reconstrutiva, para onde equipes de MSF realizaram doações após os fortes terremotos na região. Foto: Abdul Majeed Al Qareh, 2023.

Cirurgiões de MSF do hospital também foram enviados a determinadas unidades de saúde da região para apoiar seus colegas que estavam lidando com um grande número de feridos. “Fui a um hospital localizado próximo à Turquia”, afirma o Dr. Mohammad Zaitoun. “Devido ao fechamento da fronteira e à impossibilidade de receber apoio externo ou de transferir os feridos, isto nos colocou sob enorme pressão. Havia muitos feridos, os profissionais estavam exaustos. Fizemos nosso melhor junto às equipes de MSF em Atmeh. Como cirurgião, eu estava na sala de cirurgia. Nunca havíamos testemunhado tamanho influxo de pacientes, exceto talvez durante os bombardeios ou massacres que ocorreram na região.”

“Havia muitos feridos, os profissionais estavam exaustos. Nunca havíamos testemunhado tamanho influxo de pacientes.”
– Dr. Mohammad Zaitoun, cirurgião de MSF em Atmeh, na Síria.

Ambulâncias do hospital de Atmeh também foram envolvidas na resposta de emergência, transferindo pacientes entre hospitais. O plano de intervenção das clínicas móveis de MSF foi adaptado à situação, e elas foram enviadas para locais onde as vítimas do terremoto estavam aglomeradas. As equipes que compõem estas clínicas vêm trabalhando regularmente há vários anos, prestando assistência médica às pessoas que vivem nos diversos acampamentos da região que abrigam pessoas deslocadas pela guerra. Atualmente, os profissionais estão visitando os lugares onde as pessoas que perderam suas casas estão se refugiando diariamente, seja em Sarmada, Kammouneh ou Al Dana.

“Ainda não temos uma visão clara da situação na área mais ampla de Atmeh”, continua Mohammad Darwish. “Sabemos apenas que os hospitais estão cheios de pessoas ferida s e morta s e que as necessidades são imensas. As pessoas da região precisam de tudo. Imediatamente recorremos aos nossos armazéns logísticos e distribuímos centenas de itens essenciais, mas isso não é suficiente. Cerca de 2.500 cobertores foram doados aos hospitais para seus pacientes, e centenas de kits de necessidades básicas foram distribuídos às famílias”.

“Sabemos apenas que os hospitais estão cheios de pessoas ferida s e morta s e que as necessidades são imensas.”
– Mohammad Darwish, vice-diretor do hospital MSF Atmeh.

As equipes de MSF na região estão utilizando seu estoque de emergência, enquanto aguardam suprimentos internacionais, cujo envio tem sido prejudicado pelas tensões políticas em torno desta região sem acesso ao mar. Até a ocorrência dos terremotos, Bab al-Hawa era o único corredor humanitário da Turquia para esta área no n oroeste da Síria.

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Membros da equipe de MSF carregam suprimentos para a distribuição às vítimas do terremoto. Foto: Abdul Majeed Al Qareh, 2023.

“Quase uma semana após os terremotos, não recebemos nenhuma ajuda externa”, lamenta Moheed Kaddour, diretor de um hospital em Atmeh, e irmão de Samih Kaddour. “O apoio só veio de outros hospitais, comunidades locais ou organizações já presentes antes do desastre. Com isso, o hospital de MSF em Atmeh desempenhou um papel importante. Entretanto, esta capacidade de resposta, construída por meio do apoio regular a uma rede de cerca de 20 estruturas de saúde, agora enfrenta algumas limitações, tais como a impossibilidade de transferir pacientes em estado grave para a Turquia”, completa Moheed.

“Normalmente, podemos transferir nossos pacientes gravemente feridos para estruturas de saúde apropriadas na Turquia”, explica Mohammad Darwish. “O hospital de MSF em Atmeh oferece cuidados essenciais, mas também tem suas limitações e só pode cuidar adequadamente de pessoas com queimaduras moderadas. Hoje, não há mais leitos hospitalares especializados na prefeitura de Idlib e não se pode atravessar a fronteira”.

No noroeste da Síria, os fortes terremotos estão desestabilizando uma região que já tem mais de dois milhões de pessoas deslocadas vivendo em acampamentos e onde falta o acesso à assistência médica.

“Nove dias após os terremotos, ainda estamos mobilizados pelo cuidado de nossos pacientes”, diz Moheeb Kaddour. “Ainda estamos realizando cirurgias vitais em vítimas da síndrome de esmagamento, que é resultado de uma compressão prolongada dos músculos e pode ser fatal ao causar saturação e insuficiência renal. A situação é indescritível e, por enquanto, estamos sozinhos”.

 

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