Terremoto no Haiti: sobreviventes precisam de cuidados contínuos no sul do país

As necessidades na região Sul do Haiti continuam ao mesmo tempo em que trabalhamos para fornecer cuidados contínuos às pessoas mais afetadas pelo terremoto

Terremoto no Haiti: sobreviventes precisam de cuidados contínuos no sul do país

O maior número de mortos e feridos no terremoto do dia 14 de agosto no Haiti ocorreu na região mais ao sul do país, o departamento de Sud. Antes desse desastre, hospitais e clínicas já estavam escassos em áreas remotas de Sud, e o terremoto danificou ou destruiu muitas instalações de saúde e estradas, dificultando que os sobreviventes das áreas rurais pudessem chegar rapidamente ao atendimento.

No Hospital Immaculée Conception (HIC), em Les Cayes, capital do departamento de Sud, uma equipe médica de MSF está fornecendo cuidados cirúrgicos e pós-operatórios a mais de 90 pacientes por meio de uma colaboração com o Ministério da Saúde.

“Minha equipe chegou a Les Cayes no dia 23 de agosto”, lembra Prunau Mimose, uma enfermeira supervisora da equipe médica de emergência de MSF. “O hospital estava lotado. Crianças e adultos estavam juntos. As pessoas estavam chegando ao hospital após vários dias com feridas infeccionadas”.

Cuidados cirúrgicos e pós-operatórios

MSF começou a fornecer atendimento cirúrgico, pós-operatório e psicossocial no hospital e instalou sete barracas com um total de 62 leitos adicionais para pacientes. A sala de cuidados pós-operatórios do hospital, onde Prunau Mimose trabalha, esteve cheia quase que continuamente desde o terremoto. Assim que um paciente sai da cama, outro paciente chega.

Mimose gerencia a atividade de enfermagem e as idas e vindas dos pacientes. Ela elogia os voluntários locais que se prepararam para atuar no hospital, bem como a equipe. “Se não fosse pelos voluntários, nosso trabalho seria mais difícil”, diz ela. “Eles são ótimas pessoas – trabalham sem parar”.

Muitos dos pacientes, especialmente aqueles na zona rural montanhosa da região, tiveram uma jornada longa e difícil para Les Cayes.
“Eu estava indo cuidar do rebanho quando de repente a terra tremeu”, lembra Jean Nader Joseph, conhecido como Dèdè. “Eu estava com um amigo e ele foi o primeiro a ver o deslizamento de terra. Logo ele gritou: ‘Dèdè pedras estão caindo em nossa direção!’, quando uma pedra o atingiu na cabeça. Ele morreu instantaneamente, e a mesma pedra atingiu minha perna. Passei a noite no mato e só na manhã seguinte minha esposa e vizinhos vieram me ajudar”.

Dèdè diz que primeiro procurou tratamento com um curandeiro tradicional para seus ferimentos, mas quando soube que o Hospital Immaculée Conception estava prestando atendimento gratuito aos sobreviventes do terremoto, ele foi para lá. Após 12 dias no hospital, ele tinha acabado de receber alta e estava prestes a retornar para seu vilarejo a duas horas de distância, nas montanhas além da cidade de Camp Perrin. Mas, como muitos pacientes com traumas, ele ainda precisará de cuidados de acompanhamento. À medida que mais pacientes progridem em seu tratamento, MSF começou a oferecer fisioterapia no hospital.

“Uma vez que a fase aguda de cuidar dos feridos tenha passado, temos muito trabalho a fazer nos cuidados pós-operatórios, em particular para evitar o risco de infecção e garantir a reabilitação adequada”, explica Carla Melki, coordenadora de emergência de MSF. “A ideia é evitar infecções pós-operatórias que podem ter consequências bastante graves para a sua mobilidade a longo prazo”.
As casas de muitos pacientes foram destruídas, tornando mais difícil fornecer cuidados de acompanhamento após a alta. MSF está trabalhando para garantir que os pacientes que receberam alta tenham abrigo, diz Melki.

Para alcançar os pacientes que não conseguem chegar a Les Cayes por conta própria, no dia 23 de agosto, MSF começou a administrar de duas a três clínicas móveis por dia em áreas rurais e remotas gravemente afetadas pelo terremoto. Para viajar para algumas áreas, as equipes devem usar motocicletas ou andar a pé com burros para carregar seus suprimentos. Outras áreas são acessíveis apenas por via aérea ou marítima.

“A maioria das áreas próximas ao epicentro, especialmente perto de Maniche ou Aquin, são difíceis de alcançar”, disse Bram Keijzer, coordenador médico do projeto de emergência de MSF. “Realizamos visitas exploratórias para identificar vilarejos onde podemos prestar cuidados. Também visitamos acampamentos para pessoas deslocadas no centro de Les Cayes, alguns dos quais estão lá desde o terremoto de 2010”.

As clínicas móveis fornecem serviços de saúde primária e mental, e cada clínica pode atender até 100 pacientes por dia. Na primeira semana, as clínicas móveis atenderam quase mil pacientes. Os pacientes que precisam de cuidados especializados são transportados para instalações médicas em funcionamento, como o HIC em Les Cayes, quando possível. Além dos ferimentos do terremoto e feridas e infecções relacionadas, os pacientes da clínica móvel frequentemente têm infecções respiratórias e vaginais, problemas de pele, sinais de desnutrição e outras doenças associadas a más condições de vida e falta de água potável e instalações de higiene.

MSF também trabalhou, junto com outras organizações, para melhorar o acesso à água potável e saneamento nessas comunidades e apoiou as unidades de saúde locais com suprimentos médicos e estruturas temporárias desde o terremoto.

Keijzer diz que sua equipe continuará buscando maneiras de alcançar os vilarejos mais remotos afetados pelo terremoto. O projeto regular de MSF para cuidados de saúde materno-sexual e reprodutiva na cidade de Port-a-Piment, em Sud, também continua funcionando, embora o edifício onde MSF atuou por anos tenha sido severamente danificado pelo terremoto.
 
Além de nosso trabalho no Sud, MSF tem equipes de resposta a emergências trabalhando nas regiões de Grand’Anse e Nippes, que também foram fortemente afetadas pelo terremoto. Em Grand’Anse, apoiamos três centros de saúde primários que encaminham pacientes para Les Cayes quando necessário. MSF está presente no Haiti há 30 anos e, além de responder a desastres naturais, como o terremoto de 2010 e o furacão Matthew em 2016, MSF tem o objetivo de responder às lacunas críticas no acesso à assistência médica. Nossas atividades regulares continuam incluindo o hospital Tabarre em Porto Príncipe, onde MSF está tratando pacientes gravemente queimados e também pessoas com ferimentos fatais. MSF abriu um centro de emergência no bairro de Turgeau, em Porto Príncipe, em agosto de 2021. MSF também trata vítimas de violência sexual e de gênero em Porto Príncipe e Gonaïves.

 

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