Transformando a saúde em contextos de crise humanitária por meio da inovação digital

Em Histórias de MSF, o queniano Vincent K’Omoth fala de sua carreira na organização e explica como a coleta e análise de dados ajuda a melhorar os serviços de saúde nos projetos

Vincent durante sessão de treinamento com equipe de MSF na Etiópia.

Minha jornada com Médicos Sem Fronteiras (MSF) me lembra do começo humilde que me levou até onde estou hoje, atuando como profissional de Implementação Móvel, uma função que me faz viajar de projeto em projeto, usando a tecnologia para melhorar a prestação de cuidados de saúde em contextos humanitários.

Crescendo na cidade de Homa Bay, no Quênia, na década de 1990, testemunhei MSF apoiando o Ministério da Saúde. Naquela época, era apenas uma organização que eu admirava, mas eu não tinha ideia de que um dia faria parte dela.

Comecei a trabalhar com MSF em dezembro de 2008. Como codificador de dados em Lankien, no Sudão do Sul, embarquei em uma tarefa crucial, mas aparentemente básica: coletar dados médicos de vários setores. Isso envolveu a inserção de registros de pacientes e informações epidemiológicas em bancos de dados para atividades de rotina e respostas a emergências.

Cada detalhe garantiu relatórios médicos precisos e permitiu que MSF acompanhasse as tendências de saúde na região. Testemunhei em primeira mão a importância dos dados para informar as decisões médicas e moldar o trabalho de MSF em saúde. Depois de um ano e meio, me ofereceram uma nova oportunidade – uma transição para o escritório de coordenação em Juba, também no Sudão do Sul, como coordenador de dados do país.

Essa nova função exigiu um conjunto de habilidades mais amplo. Me tornei o guardião dos bancos de dados médicos de MSF no Sudão do Sul, auxiliando as equipes de projeto com ferramentas de coleta de dados e garantindo a qualidade dos dados aderida aos protocolos de MSF. Minhas responsabilidades também incluíam analisar dados para identificar tendências preocupantes para a saúde, além de supervisionar e treinar profissionais na área.

Também participei de pesquisas operacionais, obtendo uma compreensão mais profunda do impacto que os dados têm na melhoria dos resultados de saúde em ambientes com recursos limitados.

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Meus próximos passos me levaram ao Afeganistão, o que foi uma experiência contrastante com a que tive no Sudão do Sul. Trabalhei no movimentado Hospital Boost, em Lashkagar. Treinei profissionais de tratamento de dados recém-contratados. Essa experiência foi inestimável, pois me permitiu aprimorar minhas habilidades e construir confiança trabalhando em um país que vive em grande insegurança.

As ferramentas digitais simplificaram a coleta de dados, melhoraram a coordenação do atendimento ao paciente e, por fim, salvaram vidas. Isso despertou o desejo de contribuir de forma mais ampla para outras iniciativas de “eHealth” de MSF, isto é, outras iniciativas de tecnologia aplicadas à saúde. Aproveitando minha experiência e conhecimento, fiz a transição para uma função na equipe de eHealth na sede da organização.

Nessa nova função, garanto que as soluções de eHealth sejam efetivamente integradas e gerenciadas em todos os projetos de MSF. Isso inclui supervisionar a implantação, manutenção e treinamento sobre o uso de Sistemas de Informação de Saúde e Registros Médicos Eletrônicos. Meu portfólio atual abrange projetos no Sudão, Etiópia, Bangladesh, Somália, Nigéria, Síria e outros.

Além das implantações no local, promovo uma comunidade online de apoio. Fornecemos uma plataforma para os usuários que atuam nos projetos se conectarem, fazerem perguntas e compartilharem desafios, garantindo que recebam o suporte que precisam.

A implantação e manutenção de sistemas de eHealth em locais remotos vem com seus próprios obstáculos. Um dos desafios mais significativos é a conexão instável com a internet, uma questão crítica para o sistema atual e que requer soluções criativas e adaptação. Trabalhar em vários fusos horários também exige flexibilidade e compromisso com a colaboração global.

Planejamento cuidadoso, considerações estratégicas e capacidade de adaptação a diversos ambientes são fundamentais para o sucesso das iniciativas de eHealth. Isso envolve a compreensão dos contextos locais, a adaptação de abordagens de treinamento e a promoção de uma cultura de colaboração entre especialistas em eHealth e profissionais de saúde que trabalham nos projetos.

Olhando para o futuro, imagino um futuro em que a eHealth ajude MSF a responder de forma mais eficaz a emergências de saúde. Um sistema de eHealth robusto permitiria a monitorização em tempo real de surtos de doenças e avaliações eficientes das necessidades de cuidados de saúde, permitindo intervenções mais rápidas e direcionadas. Além disso, acredito em alavancar plataformas digitais de aprendizado e sessões de treinamento virtual para capacitar os profissionais de saúde locais com conhecimentos e habilidades médicas essenciais. Isso não apenas fortalecerá a força de trabalho de saúde em áreas mais vulneráveis, mas também promoverá soluções médicas sustentáveis.

É profundamente gratificante fazer parte de uma organização comprometida em fornecer cuidados de saúde de qualidade para aqueles que mais precisam. À medida que continuamos a navegar e nos adaptar ao cenário em evolução da prestação de cuidados de saúde, estou confiante de que a eHealth desempenhará um papel crucial na formação do futuro da prestação de cuidados de saúde em contextos humanitários, garantindo que ninguém seja deixado para trás ao receber os cuidados que precisa.

Enquanto MSF adota soluções digitais de saúde, a segurança dos dados e a privacidade dos pacientes permanecem primordiais.

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