Três estratégias utilizadas para melhorar o acesso à saúde para mulheres mães em Serra Leoa

MSF fornece serviços de saúde e financia transporte para diminuir a mortalidade materna no país.

© Saidu Bah

Apesar dos grandes progressos obtidos neste século, Serra Leoa ainda ocupava o 18º lugar na lista de países com o maior número de mortes de mulheres durante o parto em 2020, com uma estimativa de 443 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Muitas mulheres em Serra Leoa vivem em áreas rurais remotas, longe de instalações de saúde, e não podem arcar com o alto custo do transporte para chegar a um hospital. Isso é agravado por estradas precárias, escassez de ambulâncias em todo o país e falta de mecanismos adequados de encaminhamento de pacientes. Muitas vezes, quando uma mulher com complicações no parto consegue chegar a um hospital, já é tarde demais.

A equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kenema realiza cesarianas de emergência e outras cirurgias que salvam vidas de mulheres grávidas e mães que acabaram de dar à luz.

Também trabalhamos em dois outros locais em Serra Leoa – Mile 91 e Magburaka, no distrito de Tonkolili – para ajudar a equipe de saúde local a responder a emergências médicas maternas e pediátricas. Nos primeiros sete meses de 2023, equipes de MSF em Kenema, Mile 91 e Magburaka atenderam 3.326 mulheres em seus partos; 505 delas precisaram de cesarianas de emergência.

Conheça três estratégias adotadas em nossa abordagem para melhorar o acesso a serviços médicos para mulheres mães em Serra Leoa.

 

  1. Serviços de ambulância

O trabalho de MSF em Serra Leoa inclui a execução de um serviço de ambulância para levar mulheres e crianças que precisam de atendimento de emergência a hospitais o mais rápido possível.

Entre janeiro e julho de 2023, as oito ambulâncias de MSF transferiram 372 mulheres grávidas ou que haviam tido seus bebês há pouco tempo, junto com os recém-nascidos, para receber atendimento de emergência em um hospital. Muitas dessas mulheres enfrentaram condições com risco de morte, incluindo hipertensão induzida pela gravidez, hemorragia pós-parto, anemia na gestação e hemorragia pré-parto.

Umo Ngamanga vem do distrito de Moyamba, no sul de Serra Leoa. Ela deu à luz seu primeiro bebê em casa porque não conseguiu chegar ao centro de saúde mais próximo a tempo. “Comecei a sentir as dores do parto à noite, mas para chegar ao centro de saúde em Foindu, a 10 km de distância, é preciso caminhar duas horas e atravessar um rio”, ela contou.

“Meu bebê não conseguia se alimentar e estava com febre, então no dia seguinte o levei para Foindu. Ele foi imediatamente levado de mototáxi para o centro de saúde comunitário de Hinistas e, em seguida, foi transferido por uma ambulância de MSF para o hospital de Magburaka. Depois de receber cuidados, ele melhorou e eu consegui trazê-lo para casa”.

Umo Ngamanga segura seu bebê recém-nascido. Serra Leoa. © Saidu Bah

 

  1. Reembolso de transportes

MSF também reembolsa as mulheres pelo valor gasto com mototáxis — o único transporte alternativo disponível na maioria dos lugares — para chegar até as instalações de saúde. Nos primeiros sete meses de 2023, financiamos 900 viagens.

Baindu Massaquoi deu à luz sete filhos, mas apenas dois estão vivos. Ela estava no mercado trabalhando quando sentiu uma dor aguda e começou imediatamente a sangrar. “Eu sabia que a data prevista para o parto ainda estava longe, então decidi pegar uma moto e vir rapidamente para o hospital de MSF em Hangha”, ela conta. “Naquele mesmo dia, fui submetida a uma cesariana e agora me sinto ótima. Eu e minha bebê vamos ter alta em breve”.

Baindu Massaquoi segura sua bebê recém-nascida no hospital materno-infantil de MSF em Hangha. Serra Leoa. © MSF

 

  1. Treinamento de parteiras tradicionais

MSF também treinou parteiras tradicionais no distrito de Kenema para monitorar mulheres grávidas e ficar atentas aos sinais de perigo. Dessa forma, elas podem encaminhar as mulheres ao centro de saúde mais próximo para atendimento médico ou chamar uma ambulância de MSF para levar as pacientes ao hospital, se precisarem de cuidados avançados.

Muitas vezes, as gestantes não conseguem chegar até os hospitais a tempo e encontram nas parteiras tradicionais o único apoio de saúde durante o nascimento de seus filhos. Ao entrar em trabalho de parto, Musa Yahyah, que estava grávida de gêmeos, tentou chegar ao centro de saúde mais próximo, mas sentiu um dos bebês chegando. “Coloquei um pano debaixo de uma mangueira e dei à luz sozinha”, disse ela.

“Uma parteira tradicional me ajudou a dar à luz o segundo bebê, ainda debaixo da mangueira. Depois, ela chamou um mototáxi para levar meus gêmeos e eu ao hospital materno-infantil de MSF em Hangha, porque eu estava sangrando muito. Deram-me uma transfusão de dois litros de sangue, então meus bebês e eu finalmente ficamos bem”, contou Musa.

Profissional de limpeza andando perto da maternidade do hospital materno-infantil de MSF em Hangha, distrito de Kenema, Serra Leoa. © MSF

 

Muito mais precisa ser feito

As atividades de MSF para apoiar o atendimento a mães e crianças em Serra Leoa são cruciais, mas é necessário muito mais para que o país continue o progresso feito nos últimos 23 anos.

“O programa de saúde no país precisa incluir recursos humanos, manutenção e custo de combustível para as ambulâncias existentes nos Serviços Médicos Nacionais de Emergência”, diz Mohamed Morchid, coordenador-geral de MSF na região.

Também é importante considerar modelos criativos e sustentáveis que apoiem as necessidades de transporte de emergência das casas dos pacientes para as instalações de saúde mais próximas, pois essa continua sendo uma das principais barreiras identificadas pelas pacientes atendidas por MSF em termos de acesso a cuidados médicos de qualidade.

“Incentivamos o Ministério da Saúde e Saneamento, assim como parceiros e partes interessadas em saúde e desenvolvimento, a fazer investimentos adicionais em transporte de emergência. Isso ajudaria a salvar muito mais vidas”, diz Mohamed Morchid.

 

Em Mile 91 e na cidade de Magburaka, no distrito de Tonkolili, as equipes de MSF trabalham com o Ministério da Saúde e Saneamento para fornecer cuidados de saúde a mães e crianças nos centros de saúde locais e no hospital de Magburaka. No distrito de Kenema, as equipes de MSF concluíram a construção em 2019 de um hospital materno-infantil em Hangha, onde profissionais de MSF fornecem cuidados obstétricos e neonatais de emergência abrangentes. No hospital regional de Makeni, no distrito de Bombali, as equipes de MSF fornecem tratamento para pacientes com tuberculose resistente a medicamentos. MSF trabalha em Serra Leoa desde 1986.

 

 

 

 

 

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