Três perguntas sobre os recentes confrontos violentos em Porto Príncipe, Haiti

Pessoas na capital do país estão sofrendo à medida que os conflitos armados se espalham.

Foto: Valerie Baeriswyl

Em abril, confrontos violentos ocorreram em Porto Príncipe, capital do Haiti, inclusive em bairros que costumam ser calmos. O coordenador-geral de MSF no país, Mumuza Muhindo, explica nesta entrevista como as pessoas na cidade estão sendo vítimas da violência:

Quando começou essa onda de violência?

Desde o dia 24 de abril, vários bairros da capital têm sido palco de violentos confrontos entre grupos armados. São bairros onde as condições de vida das pessoas afetadas pela violência já são muito difíceis.

O conflito continua a evoluir e a se espalhar para outras áreas de Porto Príncipe que geralmente são bastante calmas. Alguns profissionais de MSF também estão sendo afetados pela violência em diferentes partes da cidade e não podem sair para trabalhar.

 

Ninguém mais se atreve a se aventurar nas estradas: agora há bloqueios ao longo das estradas principais, onde quase não há veículos – Mumuza Muhindo, coordenador-geral de MSF no Haiti.

 

Quais são as consequências para a população?

Algumas pessoas fogem de suas casas e procuram refúgio com seus parentes. Para muitos deles, essa não é a primeira vez. A violência recorrente leva a novos deslocamentos. Os mais vulneráveis passaram a noite em abrigos improvisados em uma praça pública não muito longe dos confrontos.

Para quem fica, nem sempre é possível sair de casa. Há tiroteios em torno das casas. Um de nossos colegas teve que passar a noite deitado no chão de sua casa para evitar ser atingido por balas.

As pessoas nem saem para fazer compras, já que até os mercados se tornaram lugares de confronto onde as pessoas arriscam suas vidas.

É possível manter o acesso aos cuidados de saúde?

Estamos muito preocupados porque nosso hospital de 70 leitos em Tabarre, especializado em atendimento de trauma e queimaduras, está quase lotado, e a insegurança está novamente se tornando um sério obstáculo ao acesso aos cuidados de saúde. As ambulâncias não podem mais acessar certos bairros para ajudar os feridos, o que significa que podem ter que esperar vários dias antes de serem tratados.

Além disso, os pacientes que precisam de tratamento não podem chegar às unidades de saúde porque as estradas estão bloqueadas. Desde domingo (24/04), observamos uma diminuição no número de pacientes no ambulatório do hospital de Tabarre.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) segue apoiando a população de Porto Príncipe e continua a a fornecer assistência médica conforme necessário. Como em todos os conflitos armados, enfatizamos que os civis devem ser poupados e que todos devem ter acesso a cuidados médicos.

MSF atua no Haiti desde 1991. A organização fornece assistência às populações em perigo, vítimas de desastres socioambientais e de guerra. MSF atua independentemente de qualquer poder político ou militar. Em 2021, 22.758 pessoas foram admitidas em departamentos de emergência administrados por MSF no país. Nossas equipes prestaram atendimento a 15.435 pessoas com traumas e 833 pessoas com queimaduras. Quase 1.600 sobreviventes de violência sexual e de gênero receberam atendimento. Um total de 12.803 consultas de atenção primária à saúde foram realizadas pelos nossos serviços ambulatoriais.

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