Três questões sobre a intensificação da violência israelense na Cisjordânia

Em duas semanas, mais de 50 palestinos foram mortos durante operações das forças israelenses na Cisjordânia

Escombros no acampamento de Tulkarem após ataque aéreo israelense | Outubro de 2024 © Oday Alshobaki/MSF

Nas últimas semanas, Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem observado uma escalada de violência extrema na Cisjordânia, na Palestina, especialmente em Jenin, Tulkarem e Tubas, desde que o cessar-fogo foi implementado em Gaza. Em 21 de janeiro de 2025, Israel iniciou uma operação militar chamada “iron wall” ( “muro de ferro”, em tradução para o português), que matou pelo menos 50 palestinos, incluindo uma menina de 2 anos de idade. Também deslocou à força cerca de 20 mil pessoas em Jenin e mais de 6 mil em Tulkarem, e danificou gravemente de 150 a 180 casas.

A seguir, Brice de la Vingne, coordenador da unidade de emergência MSF, compartilha uma atualização sobre a situação e a resposta da organização.

Qual é a situação atual na Cisjordânia desde o recente cessar-fogo em Gaza?

Desde a implementação do cessar-fogo em Gaza, no dia 19 de janeiro, observamos uma onda de ataques violentos e bloqueios em toda a Cisjordânia. Em 21 de janeiro, os militares israelenses anunciaram o início de uma operação chamada “iron wall”, que começou no acampamento de refugiados de Jenin. Ela está em andamento há quase duas semanas e agora se expandiu para a cidade de Tulkarem, onde diversos ataques aéreos israelenses foram realizados na região.

Até o momento, estima-se que o bombardeio tenha causado danos graves a entre 150 e 180 casas, além de ter danificado infraestrutura básica de água e energia. Também causou o deslocamento de 20 mil pessoas e resultou em mais de 50 mortes, de acordo com o Ministério da Saúde local.

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Entre as vítimas, estão três profissionais de enfermagem e dois médicos, que foram feridos por ataques israelenses no hospital Khalil Suleiman, em Jenin. As forças israelenses também mataram um paramédico que cumpria seu dever humanitário e uma menina de 2 anos durante um ataque em Tulkarem.

Essa situação ocorre após mais de um mês de operações violentas lideradas pela Autoridade Palestina no acampamento de Jenin, em dezembro de 2024, até que a operação militar de Israel assumiu o controle. Como resultado, [antes mesmo do cessar-fogo em Gaza] os palestinos em Jenin já estavam enfrentando escassez de suprimentos vitais, como água e eletricidade.

Como essa situação está afetando as pessoas da região?

As forças israelenses impõem severas restrições de movimento em Jenin, mas também no restante da Cisjordânia, caracterizadas pelo fechamento de estradas, demoras prolongadas nos postos de controle e a instalação de novos portões nas entradas dos vilarejos. Isso está tornando cada viagem complicada, seja para ir ao trabalho, visitar familiares ou procurar atendimento médico.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 68% das instalações de saúde na Cisjordânia agora não conseguem funcionar por mais de dois ou três dias por semana, e os hospitais estão funcionando com apenas 70% de sua capacidade.

Em Jenin e Tulkarem, a situação é ainda mais grave, pois as pessoas não têm comida, água e combustível devido ao bloqueio e aos ataques recorrentes.

Desde o início de 2025, as forças israelenses mataram 70 palestinos na Cisjordânia. Isso inclui 38 pessoas mortas na província de Jenin.

Qual é a resposta atual de MSF na Cisjordânia?

Estamos apoiando o hospital Khalil Suleiman em Jenin com combustível e água. Também entregamos mais de 10 mil litros de combustível e mais de 800 mil litros de água para manter a instalação em funcionamento. Estamos fornecendo ajuda humanitária em Jenin e Tulkarem com a distribuição de kits de higiene básica, alimentos e colchões.

No acampamento de refugiados de Tulkarem, estamos colaborando com a Sociedade da Cruz Vermelha Palestina para apoiar as pessoas com suprimentos médicos, água potável, pão e fraldas para crianças.

Em Nablus e Hebron, onde nossas equipes também trabalham, tivemos que reduzir e adaptar nossas atividades médicas devido às restrições de movimento. Entretanto, apesar das restrições causadas pela insegurança, reafirmamos nosso compromisso de permanecer e apoiar as pessoas em toda a Cisjordânia.

 

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