Ucrânia: clínicas móveis de MSF nas estações de metrô de Kharkiv

Enquanto a cidade é alvo de bombardeios constantes, muitos procuram refúgio nas estações subterrâneas de transporte.

Foto: Adrienne Surprenant/MYOP

Desde o início da guerra na Ucrânia, Kharkiv, a segunda maior cidade do país, foi severamente afetada pela ofensiva russa. Enquanto muitas pessoas fugiram dos conflitos na cidade, aqueles que ficaram se refugiaram em estações subterrâneas para escapar dos bombardeios incessantes. As equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) oferecem consultas de saúde primária nessas estações.

Kharkiv tinha uma população de 1,8 milhão de habitantes antes da guerra. O município esvaziou parcialmente nas últimas semanas. “A cidade agora parece bastante deserta. Há poucas pessoas nas ruas e a maioria das lojas está fechada”, diz Michel-Olivier Lacharité, coordenador-geral de MSF na Ucrânia. “Ainda há algumas farmácias e mercados abertos para que as pessoas possam encontrar comida, mas o principal mercado em Kharkiv está fechado”.

Mercado destruído por um incêndio causado por um bombardeio russo em Kharkiv. Ucrânia, 10 de abril de 2022. | Foto: Adrienne Surprenant/MYOP

Desde o início dos conflitos, os bombardeios têm sido contínuos, particularmente na parte norte da cidade. “Os bombardeios ainda acontecem o dia todo, ao longo de um padrão aparentemente aleatório. As sirenes avisam as pessoas quando eles ocorrem. Há também um sistema de aviso através dos smartphones. Esses sinos tocam várias vezes por dia. É bastante angustiante”, diz Lacharité.

Para as 350 mil pessoas que, segundo as autoridades locais, ficaram na cidade, as estações de metrô são o lugar mais seguro. “Há três linhas na cidade de Kharkiv”, diz Lacharité, “e a maioria, se não todas as estações, está em uso”. Cada estação hospeda cerca de 100 pessoas durante o dia, um número que pode facilmente dobrar ou triplicar à noite. “A maioria das pessoas que vivem no subsolo são idosas ou vulneráveis. Elas estão lá há mais de 40 dias no frio e na umidade, dormindo em barracas”.

Nina, de 83 anos, aguarda para ser atendida pela clínica móvel de MSF em uma das estações de metrô de Kharkiv. Ucrânia, 11 de abril de 2022. | Foto: Adrienne Surprenant/MYOP

MSF montou clínicas móveis de saúde em várias estações nas três linhas subterrâneas de Kharkiv. Algumas consultas acontecem à noite. Apesar do toque de recolher na cidade, as equipes podem se mover de estação em estação através dos túneis. Mais de 510 consultas médicas já ocorreram desde o início das atividades, principalmente para infecções do trato respiratório e hipertensão, consequências das condições de vida na estrutura subterrânea, mas também do estresse.

“Mesmo no subsolo, você pode ouvir as vibrações dos bombardeios na superfície”, diz Lacharité.

Nina, 83 anos, era apenas um bebê durante a Segunda Guerra Mundial. “Tenho muito medo de sair da minha cidade, nunca estive no exterior. Eu amo muito Kharkiv”, ela diz com um sorriso triste. “Seus parques, suas praças… Mas é provável que as bombas destruam tudo. Receio que não restará nada além de ruínas”.

Além de consultas médicas, MSF também oferece apoio à saúde mental. Para as crianças e adolescentes que agora vivem nas estruturas subterrâneas, o fator estressante mais comum é o medo de sair a céu aberto.

Ludmilla, 40 anos, e seu filho Vladislav, 11 anos, em consulta com um médico de MSF em Kharkiv. Ucrânia, 11 de abril de 2022. | Foto: Adrienne Surprenant/MYOP

“O potencial de comportamento induzido pela ansiedade aumenta à medida que a guerra e a instabilidade continuam e a insegurança se torna uma característica permanente da vida. No entanto, as crianças aqui estão lidando muito bem com a situação extrema por enquanto”, diz Devash Naidoo, coordenador de atividades de saúde mental de MSF.

As equipes de MSF também estão distribuindo suprimentos muito necessários para a vida cotidiana: micro-ondas para aquecer os alimentos, detergentes para limpeza e filtros de água para fornecer água potável à noite. “Há tendas e camas improvisadas em todo lugar, o que significa que a situação sanitária nessas estações nem sempre é ideal”, diz o médico de MSF Guillaume Mongeau.

Camas improvisadas na plataforma de uma das estações de metrô de Kharkiv. Ucrânia, 09 de abril de 2022. | Foto: Lisa Searle/MSF

Apesar das condições de vida, para muitos, ficar no subsolo é a única opção. “O frio, a falta de sono… nada comparado à guerra. Pelo menos aqui estamos seguros”, diz Ludmilla, de 40 anos. Ela ficou em casa com a família o máximo de tempo possível, até que uma explosão aconteceu perto da casa deles. “Fiquei com muito medo pelo meu filho quando o vi segurando nosso gato com força no peito enquanto dizia: ‘Mãe, eu não quero morrer.’”

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