Uma fagulha de esperança

Conheça a história de recuperação de uma bebê recém-nascida atendida por nossas equipes em Adré, no Chade.

Uma fagulha de esperança – de 800 gramas, especificamente. No final de setembro de 2023, uma mãe chegou à unidade de cuidados neonatais de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Adré, no leste do Chade, com a filha recém-nascida. A bebê decidiu vir ao mundo cedo demais, em um lugar onde algumas pessoas poderiam considerar um dos mais difíceis para alguém começar sua vida nos dias de hoje. 

O leste do Chade acolhe atualmente cerca de 450 mil pessoas refugiadas do Sudão, devastado por intensos conflitos desde abril deste ano. O Sudão vive um contexto de violência no qual ataques contra civis e contra a prestação de cuidados de saúde se tornaram uma norma.

O Chade, país com a segunda classificação mais baixa no Índice de Desenvolvimento Humano no mundo, tem recebido as pessoas que fogem dos conflitos no Sudão. Comunidades em situação de vulnerabilidade estão hospedando outras comunidades em uma situação particularmente vulnerável no leste do Chade. Foi nesse lugar que a menina nasceu. Em um abrigo, antes de ir para o hospital.

O peso de 800 gramas está muito abaixo do padrão indicado para um bebê recém-nascido. O ideal, segundo os padrões na Europa, é em torno de 3,5 quilos. Mesmo em um contexto com muito mais recursos, seria um desafio possibilitar que um bebê prematuro sobrevivesse com um peso tão baixo.

“Se há um acontecimento que manifesta o incrível esforço e sucesso da equipe médica aqui é essa menina”, explica Michael Malley, pediatra de MSF. “Manter um bebê de 800 gramas vivo significa uma atenção extremamente cuidadosa aos detalhes durante um longo período de tempo por pessoas motivadas.”

A equipe precisou verificar os sinais vitais da bebê a cada duas ou três horas, checar a glicose a cada duas horas e intervir quando o nível estava baixo, averiguar a temperatura a cada duas ou três horas e intervir, caso necessário. Os profissionais envolvidos no cuidado da bebê também precisaram administrar inúmeras doses de antibióticos durante o tratamento e verificar se o tubo de alimentação estava seguro no lugar correto. Além disso, a equipe apoiou a mãe psicologicamente.

No dia 1º de novembro, a menina já pesava 1.320 gramas. Ainda é pouco se comparado ao que pode ser considerado ótimo, mas ela está bem o suficiente para receber alta e ir para casa. Esse foi um grande dia para todos na equipe.

O trabalho de Michael no Chade estava prestes a terminar – ele ia embora no dia seguinte. Mas o médico quis fazer uma última visita à unidade neonatal do hospital de Adré, para se certificar de que a bebê estava bem.

Grata pelos cuidados que a filha recebeu, a mãe decidiu nomeá-la em homenagem a Michael. Então, nesse último encontro, era para Mikaela que ele estava olhando, envolta em um cobertor colorido, cercada por outras mães com seus filhos recém-nascidos na sempre movimentada unidade neonatal do hospital de Adré.

Desde o início desta emergência, MSF atendeu 1.043 partos na região. Felizmente, a maioria deles não seguiu um caminho tão difícil em termos de saúde. No entanto, nenhuma dessas crianças chegou em um contexto humanitário adequado. Em Adré, faltam itens essenciais, como água potável, alimentos e redes mosquiteiras para prevenir a malária.

Todos os dias, dezenas de crianças são tratadas na enfermaria para desnutrição do hospital pediátrico de MSF em Adré. Todas as semanas, centenas de mães recebem alimentos terapêuticos nos pontos de distribuição organizados por MSF para tratar em casa seus filhos com quadros de desnutrição menos graves. No entanto, isso não é suficiente e ainda há mais pessoas que precisam de assistência do que uma organização humanitária consegue atender.

A pequena Mikaela é uma fagulha de esperança para todos nas equipes de MSF que atuam no leste do Chade, mas também para as pessoas refugiadas que sabem que seus filhos podem receber cuidados gratuitos quando necessário. Apenas 800 gramas podem pesar muito. E uma fagulha pode iluminar uma noite.

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