Uzbequistão: “MSF está me dando a chance de fazer o meu trabalho favorito e ganhar experiência inestimável, o que me permite ajudar ainda mais as pessoas em necessidade”

Entrevista com Tetyana Pylypenko, líder da equipe médica de MSF e região do Uzbequistão

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Tetyana Pylypenko é da Ucrânia e trabalha com MSF há mais de 10 anos em seu país de origem e fora dele. Ela atua na área de enfermagem e, em 2014, assumiu a posição de líder da equipe médica da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Nukus, na região do Caracalpaquistão, no Uzbequistão. Abaixo, ela fala mais sobre seu trabalho com pacientes de tuberculose (TB).

Quando MSF começou a atuar em Nukus?

MSF trabalha com pacientes de TB no Caracalpaquistão desde 1998. Junto ao Ministério da Saúde, a organização implementou um programa de diagnóstico e tratamento de tuberculose sensível a medicamentos, e, ao longo dos anos, o projeto evoluiu e passou a incluir crianças e pacientes com formas da doença resistente a medicamentos (TB-DR). Hoje, todos os pacientes de TB no Caracalpaquistão têm acesso a diagnóstico e tratamento de TB. Atualmente, há cerca de 2 mil pessoas em tratamento para a doença; todos os medicamentos para TB são dados aos pacientes de forma gratuita se eles estiverem oficialmente registrados no programa de TB.

Quais são os desafios do trabalho em Nukus?

Há muitos desafios, mas o principal deles é o fato de que nem sempre os pacientes completam o tratamento. Isso acontece principalmente com aqueles que têm TB-DR – o regime é longo e árduo e cerca de 25% das pessoas interrompem o tratamento antes de completá-lo.

MSF tem feito grandes esforços para melhorar a aderência dos pacientes, e estruturou uma equipe de conselheiros para oferecer apoio psicossocial e educação de saúde, além de oferecer incentivos como pacotes de alimentos. No entanto, infelizmente, o número de pacientes que interromperam o tratamento não diminuiu.

A única forma de realmente melhorar a aderência é diminuir a duração do tratamento, diminuir o número de medicamentos envolvidos e garantir que a medicação possa ser tomada via oral, sem a necessidade de injeções. Em 2013, MSF e o Ministério da Saúde iniciaram um estudo com um regime a curto prazo, de nove meses em vez de dois anos. Cento e quarenta e seis pacientes foram recrutados para participar e, até agora, os resultados preliminares têm sido positivos. Os resultados finais serão apresentados em 2016.  

Quais foram algumas das últimas realizações do programa de TB?

Uma das grandes mudanças ao longo dos últimos anos é que os pacientes não precisam mais ficar no hospital por três meses para fazer o tratamento, podendo ser tratados como pacientes ambulatoriais em casa com suas famílias. Métodos de teste também evoluíram, e com a máquina Gene Xpert, que realiza testes para identificar a presença de TB no escarro, os resultados são disponibilizados em algumas horas, em vez de dias ou semanas. Isso significa que um tratamento efetivo pode começar o mais cedo possível.

Em junho de 2015, MSF introduziu um novo medicamento chamado bedaquilina para tratar pacientes com tuberculose ultrarresistente a medicamentos (TB-XDR). Isso deve aumentar suas chances de sobrevivência. MSF é a primeira organização a trazer a bedaquilina ao país.

Quais são as pretensões de MSF no combate à TB na região?

O principal objetivo do projeto é implementar regimes de tratamento mais curtos, envolvendo menos medicamentos e efeitos colaterais, com melhores resultados para pacientes de TB-DR. Porém, às vezes, as crianças são negligenciadas nos programas de TB, e MSF está envolvida em melhorar o diagnóstico e o tratamento para elas. A combinação de medicamentos (combinar medicamentos para criar uma formulação específica para as necessidades de crianças – e facilitar que sejam tomados via oral) está sendo planejada para os próximos meses.

Qual foi o aspecto mais gratificante da sua participação no projeto?

Ao longo dos quatro anos em que trabalhei no programa de TB, eu o vi evoluir. Graças ao trabalho árduo e ao trabalho conjunto de MSF e do Ministério da Saúde, mudanças aconteceram. Eu lembro de uma vez quando as pessoas estavam se deslocando para regiões do Caracalpaquistão, onde MSF estava atuando para conseguir tratamento para TB, mas elas não podiam ficar longe de suas famílias por muito tempo e muitas não terminaram o tratamento. Outras estavam morrendo porque não tinham opções de tratamento. Agora, todos os pacientes de TB têm acesso ao tratamento onde vivem.

O projeto conta com uma equipe forte e experiente formada por profissionais nacionais, que são muito motivados. Eu fiquei muito feliz em fazer parte de uma equipe tão profissional que ajuda pessoas em necessidade. Não consigo colocar em palavras o quão gratificante é o meu trabalho, e trabalhar com outros profissionais de MSF, do Ministério da Saúde e com pacientes.

Qual conselho você daria para as pessoas que sofrem de TB?

Se você está sofrendo com a TB, receber tratamento não só poderá salvar a sua vida, como também te prevenirá de passar a doença para seus amigos e entes queridos. Lembre-se: medicamentos para TB estão disponíveis e a tuberculose tem cura.

Se você tem TB sensível a medicamentos, o tratamento leva seis meses e os efeitos colaterais são raros. O tratamento para TB resistente a medicamentos é mais longo (cerca de dois anos) e resulta em mais efeitos colaterais, mas esses são controláveis. Eu sei que o tratamento é difícil e que pode ser duro manter a aderência a ele, mas, no fim, o resultado vale a pena.

Se você acha que pode ter os sintomas de TB, visite um médico o mais rápido possível.

E, por favor, nunca desista. Você também pode vencer a tuberculose.

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