Violência e grave escassez de suprimentos deixam as pessoas em Burkina Faso em extrema necessidade

Entrevista: coordenador do projeto de MSF em Djibo, Alfarock Ag-Almoustakine, responde a quatro perguntas sobre a crise humanitária em Burkina Faso

Foto: Mohamed El-Habib Cisse/MSF

Desde 2018, Burkina Faso é atormentada por violentos confrontos no Sahel, que causaram o deslocamento interno de mais de 1,5 milhão de pessoas, tornando-se o epicentro de múltiplas crises humanitárias.

Há meses, nossas equipes em campo chamam a atenção para a rápida deterioração da situação humanitária, principalmente no Centro-Norte do país, onde confrontos entre grupos armados continuam causando deslocamentos internos e gerando necessidades significativas de assistência humanitária.

Quais são suas reflexões sobre a situação em Djibo?

 

“Fiquei particularmente chocado com a rapidez com que a situação se deteriorou durante os meses em que trabalhei em Djibo. A cidade está sob bloqueio desde fevereiro. A população enfrenta dificuldades para se adaptar aos desafios de segurança. As pessoas não podem acessar suas fazendas nos arredores da cidade e não podem cuidar de seu gado, pois há escassez de comida e água. A situação atual é crítica e muito preocupante, não apenas em Djibo, mas também em cidades como Pama e Sebba – na verdade, na maior parte do país. Os esforços de assistência precisam ser intensificados agora mais do que nunca, em todo o país. As necessidades mais urgentes são de alimentos, água e saneamento e cuidados de saúde.”

Como você descreveria o cenário atual da região?

 

“Djibo está sob cerco de grupos armados há oito meses. Esperamos que todas as partes possam encontrar uma solução para abastecer a cidade o mais rapidamente possível, a fim de evitar uma catástrofe humanitária. A situação de segurança na cidade se deteriorou acentuadamente desde 2019. É impossível alcançá-la por estrada por causa de dispositivos explosivos improvisados, emboscadas, ataques e os pontos de controle irregulares estabelecidos na estrada. Hoje, é muito difícil abastecer a cidade por vias terrestres, e os moradores não podem ir e vir sem arriscar suas vidas. A única maneira segura de chegar à cidade atualmente é por meio de um voo humanitário fretado de Ouagadougou. A região costuma ser muito insegura em alguns momentos, com ataques esporádicos por grupos armados, como aconteceu em junho.

Como resultado, as necessidades humanitárias se multiplicaram desde julho, que foi a última vez que a cidade recebeu suprimentos. Esta situação está provocando um grande impacto nos seus residentes, que agora dependem dos raros comboios de abastecimento escoltados pelo exército. Não é possível encontrar nada no mercado, e o combustível tornou-se escasso. Todos os moradores se queixam da mesma coisa: a escassez de alimentos e os preços inflacionados da pouca comida disponível.”

Foto: Mohamed El-Habib Cisse/MSF

Que impacto o cerco está causando na saúde das pessoas?

 

Dificuldades para obter medicamentos e consultas médicas em atraso, muitas vezes porque as pessoas não podem pagar, têm sido um problema há meses em Djibo. Mas agora, por causa do bloqueio, as unidades de saúde também estão enfrentando escassez de suprimentos médicos. Os cuidados para tratar desnutrição, por exemplo, foram reduzidos por algum tempo no distrito devido à escassez de alimentos terapêuticos prontos para uso.

A equipe médica de MSF foi notificada sobre mortes de agentes de saúde comunitária e de organizações locais da sociedade civil. Mas isso ainda não foi confirmado por nossos dados médicos. Não há dúvida de que a situação é crítica, mas não podemos confirmá-la e é necessária uma análise mais profunda.

O ataque mais recente a um comboio na estrada para Djibo aconteceu na semana passada, então a única opção são os voos do Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas, mas isso é muito limitado, considerando as necessidades atuais. Quanto tempo você acha que uma família de seis a oito pessoas pode sobreviver com cinco quilos de arroz? Dois ou três dias, talvez. Sem novos suprimentos em breve, a cidade realmente ficará sem nada. É por isso que a população precisa que um corredor humanitário seja criado agora.”

Foto: Mohamed El-Habib Cisse/MSF

Como o bloqueio afetou as atividades médicas de MSF em Djibo?

 

“Em Djibo, MSF fornece apoio médico e cirúrgico ao Ministério da Saúde na sala de emergência, bem como em dois centros de saúde. As principais questões médicas tratadas por nossa equipe são diarreia, desnutrição, malária e infecções respiratórias, que são um resultado direto das condições precárias de vida das pessoas e da falta de água limpa. Fornecemos 41.147 consultas de saúde geral de janeiro a setembro, vacinamos 6.086 crianças contra uma série de doenças, tratamos 289 crianças com desnutrição aguda grave, tratamos 389 crianças com desnutrição aguda moderada e realizamos 244 intervenções cirúrgicas de emergência.

Também estabelecemos atividades de distribuição de água em dois locais para ampliar o acesso das pessoas à água potável. No entanto, não é suficiente para atender às necessidades de toda a população.

Nas últimas semanas, razões de segurança nos forçaram a reduzir nossas atividades em um dos dois centros de saúde onde trabalhamos. Também tivemos que reduzir nossas atividades de transporte de água, devido à escassez de combustível, bem como à situação de segurança em algumas partes da cidade.

Nossas equipes também terão que se adaptar a esta situação para seguir fornecendo cuidados de saúde gratuitos às pessoas em Djibo.”

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