A dengue é uma doença febril aguda sistêmica de origem viral. Nas últimas décadas, o número de casos de dengue no mundo tem aumentado dramaticamente.

A incidência global da dengue aumentou acentuadamente nas últimas duas décadas, representando um desafio substancial para a saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2023, foram mais de cinco milhões de casos reportados e mais de 5 mil mortes notificadas em 80 países. A ocorrência de múltiplos surtos já se espalha para regiões anteriormente não afetadas.


Nas Américas, entre 1o de janeiro e 11 de dezembro de 2023, foram notificados 4,1 milhões de casos suspeitos de dengue, incluindo 6.710 na sua forma graves. Embora a dengue seja endêmica na maioria dos países da América do Sul, México e América Central, e nos países do Caribe, no segundo semestre do ano passado houve um aumento alarmante no número de casos da doença.

1.

Causa

A dengue é causada por um arbovírus que se apresenta em quatro tipos diferentes: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Atualmente os quatro sorotipos circulam no Brasil intercalando-se com a ocorrência de epidemias, geralmente associadas com a introdução de novos sorotipos em áreas anteriormente não atingidas ou com alteração do sorotipo predominante.

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Transmissão

O vírus é transmitido pela picada de mosquitos da espécie Aedes que também são responsáveis pela transmissão da chikungunya, febre amarela e Zika.

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Sintomas

A dengue pode ter diferentes apresentações clínicas e de prognóstico imprevisível. Os primeiros sintomas aparecem de quatro a 10 dias depois da picada do mosquito infectado. A doença começa bruscamente e se assemelha a uma síndrome gripal grave caracterizado por febre elevada, fortes dores de cabeça e nos olhos, além de dores musculares e nas articulações.

Durante a evolução da doença, destacam-se três fases: febril, crítica e de recuperação. Na fase crítica da dengue (entre o terceiro e o sexto dia após o início dos sintomas), podem surgir manifestações clínicas (sinais de alarme) correspondentes a uma complicação da doença potencialmente letal chamada dengue grave (conhecida anteriormente como dengue hemorrágica). Na forma grave, há um aumento da permeabilidade vascular e da perda de plasma, o que pode levar ao choque irreversível e à morte.

Os sinais clínicos de alarme da dengue grave são: dor abdominal intensa e contínua; vômitos persistentes; hipotensão postural e/ou lipotimia (tonturas, decaimento, desmaios); hepatomegalia dolorosa (aumento de tamanho do fígado); sangramento na gengiva e no nariz ou hemorragias importantes (vômitos com sangue e/ou fezes com sangue de cor escura); sonolência e/ou irritabilidade; diminuição da diurese (diminuição do volume urinado); diminuição repentina da temperatura do corpo (hipotermia); e desconforto respiratório.

Uma infecção curada de dengue confere ao paciente imunidade contra o tipo de vírus responsável. Por existirem quatro tipos diferentes de vírus, para estar totalmente imunizado, é necessário ter tido contato com todos eles. Caso contrário, a cada contágio com um novo tipo de vírus, os sintomas são mais intensos e o risco de desenvolver a dengue grave é mais alto.

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Diagnóstico

O diagnóstico da dengue é feito comumente mediante sorologia para determinar a presença de anticorpos contra o vírus no sangue, mas não determina especificamente qual tipo de vírus é responsável pela infecção. O tratamento de um caso de dengue (mesmo que suspeito) não deve depender do diagnóstico laboratorial sendo os critérios clínicos e epidemiológicos muito importantes em épocas de surto.

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Tratamento

Não existe tratamento específico para a dengue. Os cuidados terapêuticos consistem em identificar precocemente a doença e tratar os sintomas: combater a febre e, nos casos graves, realizar hidratação por via intravenosa. O atendimento rápido para a identificação dos sinais de alarme e o tratamento oportuno podem reduzir o número de óbitos, chegando a menos de 1% dos casos.

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Prevenção

Desde o fim de 2015, a primeira vacina contra dengue foi registrada em diferentes países. De modo geral, os imunizantes têm mostrado uma efetividade muito variável (entre 50% e 80%) dependendo do tipo de vírus que causa a infeção, do tipo de indivíduos vacinados e do local onde tem sido implementado; igualmente o tempo de duração da proteção que está sendo estudado.

Vacinação:

As vacinas contra a dengue são de vírus vivos atenuados (não podem ser usadas por gestantes, pessoas com imunodeficiências ou em tratamento que prejudiquem o sistema imunológico). No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a Qdenga, vacina indicada para pessoas entre 4 e 60 anos, cujo esquema vacinal é composto por duas doses (com 3 meses de intervalo entre elas). Em um primeiro momento, a campanha pública de vacinação não será realizada em larga escala, por isso é preciso ficar atento aos locais de vacinação e à faixa etária para qual o imunizante está disponível. Na rede privada, além da Qdenga, ainda há a opção da Dengvaxia, que é indicada para pessoas de 6 a 45 anos que já tiveram dengue.

Além da vacina, o combate ao mosquito também é uma importante forma de prevenção, eliminando os criadouros de forma coletiva com participação comunitária e estimulando à estruturação de políticas públicas efetivas para o saneamento básico e o uso racional de inseticidas.

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Atividades

Em um projeto inovador que combina tecnologia e participação comunitária, MSF está respondendo à propagação da dengue em Tegucigalpa, Honduras. Este método seguro e eficaz utiliza mosquitos portadores da bactéria Wolbachia, que ajuda a prevenir a transmissão da dengue. A bactéria é introduzida nos ovos dos mosquitos e, uma vez maduros, os insetos são liberados para acasalar com os mosquitos locais e garantir que as novas gerações também a carreguem. O trabalho da população local também é essencial para o sucesso do projeto, cultivando ovos de mosquitos em frascos em casa e supervisionando a sua libertação.

Página atualizada em março de 2024.

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