Foto: Caitlin Ryan/MSF

Epidemias e Pandemias

Milhões de pessoas ainda morrem a cada ano de doenças infecciosas que podem ser prevenidas ou tratadas

Surtos de cólera, sarampo e febre amarela podem se espalhar rapidamente e ser fatais, sendo um risco particular em ambientes com condições de vida precárias. A malária é endêmica em mais de 100 países. Milhões de pessoas vivem com HIV/AIDS e tuberculose e precisam de tratamento adequado. As doenças hemorrágicas virais como o Ebola e a febre de Marburg são mais raras, mas potencialmente fatais.

Só nos últimos anos, respondemos a surtos de febre amarela em Angola e na República Democrática do Congo (RDC), peste em Madagascar, epidemias de cólera e sarampo em grande escala em vários países da África Central e Ocidental e surtos de difteria no Iêmen e entre os refugiados Rohingya em Bangladesh.

A atual pandemia de COVID-19 viu quase todos os países em todo o mundo com recorde de casos, com mais de um milhão de pessoas morrendo da doença. As equipes de MSF responderam – incluindo tratamento para a COVID-19 e assistência na prevenção de infecções e medidas de controle – em mais de 70 países.

Quem está sob risco?

Epidemias e pandemias podem colocar sob pressão os sistemas de saúde mais fortes, mas as pessoas em maior risco são principalmente aquelas que vivem na pobreza ou em áreas de grande instabilidade. Nessas situações, as condições de vida são precárias, o acesso à saúde está longe de ser oferecido a todos que necessitam e as vacinações de rotina muitas vezes são interrompidas ou têm cobertura reduzida.

O ressurgimento da difteria nos acampamentos de refugiados em Bangladesh, no final de 2017, é um testemunho da exclusão dos Rohingya dos cuidados de saúde enquanto estavam em Mianmar. No país, a maioria deles não é vacinada contra qualquer doença, pois eles têm acesso muito limitado a cuidados de saúde de rotina, incluindo vacinas.

Em conflitos armados, a destruição ou danos à infraestrutura de saúde, a interrupção dos programas de prevenção de doenças e sistemas de vigilância enfraquecidos aumentam o risco de um surto grave.

O Iêmen, devastado pela guerra, onde o sistema de saúde entrou em colapso e muitos hospitais foram bombardeados, mergulhou em uma das maiores e mais graves epidemias de cólera em 2017; nossas equipes trataram mais de 100 mil pessoas. No final de 2017, também surgiu um surto de difteria – uma doença esquecida por muito tempo e evitável por vacinas.

Na República Centro-Africana, a cobertura de vacinação de rotina despencou depois que a instabilidade e a violência atingiram o país em 2013. A taxa de cobertura vacinal para infecções de sarampo e pneumococo caiu de 64% para 25% e 51% para 20%, respectivamente. Em resposta, em 2016, organizamos uma campanha de vacinação em massa com o Ministério da Saúde, imunizando 220 mil crianças menores de cinco anos.

As pessoas que vivem em acampamentos também podem ser extremamente vulneráveis a surtos, especialmente se houver superlotação e os serviços de água e saneamento forem precários.

Enquanto isso, a pandemia de COVID-19 mostrou que as pessoas que são socialmente excluídas, como as pessoas em situação de rua e os idosos, mesmo nos países mais ricos do mundo, são vulneráveis a doenças, se viverem próximos, sem prevenção e sem controle adequados de surtos.

Pessoas que vivem em abrigos para refugiados e desabrigados na França e na Bélgica estão particularmente sob risco, com equipes de MSF criando acomodações alternativas para esses grupos de pessoas que foram infectadas pelo vírus. Nossas equipes também atuaram em lares de idosos, que foram duramente atingidos na Espanha, Bélgica, França, República Tcheca, Estados Unidos e outros países, onde a falta de resposta e medidas governamentais deixaram os idosos – já sob alto risco – expostos e extremamente vulneráveis.

Como responder a surtos?

As necessidades dos pacientes e das comunidades afetadas devem estar no centro de qualquer resposta a surtos para que ela seja eficaz. Reagir rapidamente pode impactar significativamente o número de pessoas que adoecem e morrem de doenças.

Um surto epidêmico geralmente requer uma implementação logística rápida e ampla, que dependendo da situação, pode variar desde a instalação de unidades temporárias para tratar pacientes, implementação de medidas de prevenção e controle de infecção ou melhoria da água e saneamento para ajudar a prevenir a propagação de uma doença.

Durante surtos de doenças altamente contagiosas, como sarampo e meningite, a prevenção geralmente significa vacinação. Além de organizar campanhas de vacinação em massa em resposta a epidemias, nossas equipes também reforçam a cobertura vacinal de rotina nos centros de saúde em que atuamos.

Para outras doenças, como algumas cepas de meningite e doenças hemorrágicas virais, o diagnóstico e o tratamento são difíceis devido à falta das ferramentas certas para combater a doença. A sensibilização também é importante para que as pessoas conheçam os riscos da doença e saibam como ajudar a prevenir a sua propagação.

Pandemias

O atual surto mundial de COVID-19 é a maior pandemia do mundo em 100 anos. Quase todos os países do mundo registraram casos do novo coronavírus, que é semelhante ao vírus que causou a epidemia de SARS em 2003, e acredita-se que tenha se originado na China no final de 2019.

Os sistemas de saúde em todo o mundo, incluindo os de alguns dos países mais ricos, sofreram com a pressão devido a um número impressionante de casos. Em meados de novembro de 2020, mais de 55 milhões de casos da doença foram registrados, com um milhão de novos casos registrados a cada dois ou três dias em alguns pontos, resultando em bem mais de um milhão de mortes.

As equipes de MSF responderam à pandemia em mais de 70 países; alguns – como o Reino Unido, Suíça, Noruega e a República Tcheca – pela primeira vez. Nossas equipes têm respondido à COVID-19, inclusive para fornecer tratamento e aconselhamento sobre prevenção e controle de infecções, enquanto tentam manter os serviços existentes e o acesso a cuidados médicos para pessoas em países onde já trabalhamos.

Nas últimas duas décadas, MSF tratou pessoas que vivem com HIV/AIDS e tuberculose (TB). Em 2020, começamos o tratamento para quase 13.800 pacientes com tuberculose e o tratamento antirretroviral para mais de 77 mil pessoas vivendo com HIV. Além de fornecer tratamento, nossos especialistas em assuntos humanitários também pressionam por um maior acesso a ferramentas de diagnóstico e tratamento.

Apesar da mobilização internacional sem precedentes nas últimas décadas, que levou a um progresso significativo na luta contra o HIV, a doença continua a matar em massa e é responsável por um milhão de mortes por ano.

Em 2015, a tuberculose se tornou a doença infecciosa mais mortal do mundo. Hoje, ela é responsável por 1,4 milhão de mortes por ano, quase todas em países em desenvolvimento. Estima-se que mais de 10 milhões de pessoas a cada ano desenvolvam a forma ativa da doença, e que mais de um terço não são diagnosticadas nem tratadas devido à falta de ferramentas adaptadas e de financiamento. MSF é o maior fornecedor mundial não governamental de tratamento da TB.

15,400
Pacientes admitidos nos centros de tratamento da COVID-19 em 2020

8,300
Pacientes tratados contra a cólera em 2020

2,690,600
Casos de malária tratados em 2020

 

Esta página foi atualizada em novembro de 2021.