Julien Dewarichet/MSF

Médicos Sem Fronteiras (MSF) continua sendo um importante prestador de cuidados de saúde na República Centro-Africana (RCA), oferecendo serviços médicos vitais às comunidades de difícil acesso e às pessoas que fogem da violência no Sudão e no Chade. 

Embora os confrontos armados entre as forças governamentais e os grupos armados da oposição tenham diminuído ligeiramente em 2023, a violência continuou inabalável em algumas regiões do país, levando à pobreza extrema e ao deslocamento em massa, exacerbando uma crise de saúde que já dura décadas. A RCA tem uma das taxas de acesso aos cuidados de saúde mais baixas do mundo: menos de metade das instalações de saúde do país foram consideradas funcionais em 2023 e há uma grave escassez de profissionais de saúde. 

Neste contexto de fragilidade, as equipes de MSF prestaram cuidados primários e especializados a centenas de milhares de pacientes nas áreas rurais de Bambari, Bangassou, Batangafo, Bossangoa, Bria e Carnot. Ao longo do ano, continuamos a apoiar hospitais de referência com serviços que incluem cirurgia de urgência, cuidados intensivos, pediatria, neonatologia, nutrição intensiva e cuidados de saúde sexual e reprodutiva. 

Também fornecemos treinamento e suprimentos médicos às unidades de saúde menores e aos profissionais de saúde comunitários para tratar a malária, infecções respiratórias e doenças transmitidas pela água, que são as principais causas de morte de crianças. Também facilitamos o acesso a cuidados de HIV, violência sexual e doenças não transmissíveis, como a diabetes e a anemia falciforme. Neste meio-tempo, entregamos ao Ministério da Saúde as nossas iniciativas de cuidado de saúde e atividades relativas ao tratamento de HIV em Zemio, província de Haut-Mbomou, e Boguila, província de Ouham, onde implementamos com sucesso um modelo de cuidados baseado na comunidade e centrado no paciente. 

Infelizmente, os trabalhadores humanitários e os pacientes não foram poupados da violência este ano. A ONU registou 169 incidentes violentos, entre ameaças e ataques. Isso incluiu ataques à prestação de serviços médicos. Em setembro, não tivemos outra escolha senão suspender as nossas operações nos periferia de Batangafo durante vários meses, após uma série de graves incidentes de segurança. 

MSF também prestou assistência às pessoas afetadas pela violência em países vizinhos que buscaram refúgio na RCA. Nas prefeituras de Vakaga e Mbomou, prestamos assistência de emergência aos refugiados do conflito no Sudão, e na prefeitura de Ouham-Pendé às pessoas fugindo da violência entre pecuaristas e agricultores no Chade. Outras atividades de emergência incluíram campanhas de vacinação para conter surtos de sarampo nas prefeituras de Mbomou e Haute-Kotto. 

Na capital, Bangui, as nossas equipes continuaram prestando serviços cirúrgicos de trauma e cuidados pós-operatórios no hospital SICA, a principal instalação de emergência cirúrgica da cidade. No hospital CHUC, o nosso apoio garantiu o único acesso gratuito a cuidados vitais para mulheres com complicações obstétricas e recém-nascidos, bem como para pessoas com HIV avançado. As nossas equipes também reforçaram a prestação de cuidados de saúde sexual e reprodutiva e a testagem e tratamento do HIV em unidades de saúde de menor dimensão. 

A Clínica Tongolo, localizada junto ao CHUC, continuou a ser uma tábua de salvação para vítimas e sobreviventes de violência sexual, prestando apoio médico e de saúde mental essencial, bem como orientação sobre recursos legais e proteção. 

Em outubro, a divulgação de um relatório quinquenal, compilando números de cinco anos de cuidados e compromisso de MSF em combater a violência sexual na RCA, lançou luz sobre esta emergência invisível e sobre a necessidade urgente de cuidados e apoio abrangentes para vítimas e sobreviventes. 

Dados referentes a 2023

725.700

Consultas ambulatoriais

6.030

Pessoas tratadas por violência sexual

10.600

Intervenções cirúrgicas

9.230

Pessoas recebendo tratamento antirretroviral para HIV

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